Como foi preparado o GP de Las Vegas
Vista aérea da famosa 'strip' de Las Vegas (IMAGO)
Foto: IMAGO

Como foi preparado o GP de Las Vegas

FÓRMULA 117.11.202308:30

Fórmula 1 regressa à cidade de Nevada 41 anos depois, onde não deixou grandes memórias aos fãs e pilotos.

É inconfundível o touro vermelho que contrasta com o azul metálico da Red Bull, que circula nos mais reconhecidos circuitos da Fórmula 1, seja em Silverstone, no Mónaco ou nos arredores da cidade de Spa, na Bélgica. Mas o fim de semana em que entramos é totalmente diferente dos restantes Grandes Prémios e, por isso, as decorações dos monolugares merecem mudanças a condizer. 

O reconhecido touro é agora acompanhado por rosa e amarelo néon que, entre si, dão forma a cartas e fichas dignas das mesas de jogo do Bellagio. É em Las Vegas que a F1 vai-se concentrar num verdadeiro fim de semana de espetáculo, marcando o regresso do desporto à cidade do pecado 41 anos depois. 

O objetivo é simples: atrair novos fãs para a modalidade, tendo ainda em mete o sucesso de ‘Drive to Survive’, que proporcionou um renovado interesse naquele que é visto como o pináculo do desporto motorizado. Mas para que tudo isto seja possível, especialmente numa cidade tão movimentada como Las Vegas, são exigidas obras e construções, que por sua vez forçam cortes na circulação de carros e pessoas, prejudicando ativamente o comércio sujeito a estes condicionamentos, na esperança de que o retorno financeiro ultrapasse os custos.

No total, foram investidos cerca de 516 milhões de euros, segundo os números apurados pelo diário espanhol Marca. Cerca de 73 milhões – uma pequena fração da quantia gasta - destinaram-se a obras em estradas e construção de infraestruturas capazes de finalmente concretizar o antigo desejo dos envolvidos: ver os monolugares da F1 ao longo da principal reta de Las Vegas. 

O restante do montante, à volta de 443 milhões espalhou-se pela construção de edifícios e compra de terreno destinada a ver a criação do paddock, onde as equipas se vão instalar durante o fim de semana. Resta saber se sai jackpot ou se há uma repetição do que se passou há 41 anos, precisamente a primeira experiência da Fórmula 1 na cidade de Nevada.

Nove meses de construção e lutas sindicais

Para concretizar o plano de ver os carros de F1 a circular na strip de Las Vegas, as estradas repavimentadas, o que levou ao corte das mesmas, perturbando assim o funcionamento do comércio local. Para além disso, foi ainda construído de raiz o paddock e as garagens onde as equipas se vão instalar. 

O processo durou cerca de nove meses e Gregg Maffei - diretor da Liberty Media, ‘dona’ da F1 - pediu desculpa pelos transtornos causados, mas assegurou que o evento vai gerar cerca de 1,7 mil milhões de dólares de receitas para a região». Os trabalhadores do setor de serviços também se mostraram descontentes com os donos dos grandes hotéis. 

Durante todo este processo, o sindicato de Culinária – representa cozinheiros, empregados de mesa e de bares – lutou por melhorias dos contratos dos trabalhadores, implicando no processo 18 casinos, inclusivamente o Bellagio. 

A ameaça era clara, caso não houvesse acordo que satisfizesse o sindicato, cerca de 35 mil trabalhadores fariam greve em dias coincidentes com o fim de semana da F1. No entanto, tal ameaça não se concretizou, uma vez que as entidades patronais acederam às condições propostas pelas organizações sindicais.

Da strip de Las Vegas até ao parque de estacionamento do Caeser's Palace

Caesar's Palace GP (Fotografia retirada da página X de Sergi Alejandro)

Porquê realizar um Grande Prémio numa cidade onde a F1 nem sempre teve fins de semana memoráveis. Lembram-se das corridas disputadas no parque de estacionamento do icónico Caesars Palace? Possivelmente não, mas a razão pela qual foi feita nos anos de 1981 e 1982 é verdadeiramente semelhante à dos dias que correm e a ideia de ter os famosos monolugares na reconhecida strip de Las Vegas não é recente.

Por um lado, a F1 procurava aumentar a sua influência, atraindo novos fãs e interessados nos EUA e, por outro, os grandes hotéis, restaurantes e casinos procuravam uma maneira de aumentar os seus lucros. O casamento entre os dois interesses era evidente.

Esquema da pista no hotel Caesar's Palace

Os planos iniciais incluíam a passagem pela célebre strip de Las Vegas, mas a logística associada à ambiciosa ideia tornou-se numa barreira impossível de ultrapassar. Assim, a corrida foi planeada e executada no parque de estacionamento do gigantesco hotel, resultando num evento esquecido pelos puristas da modalidade, destacando a falta de variedade das curvas.

Ainda assim, foram decididos dois Campeonatos Mundias de pilotos neste Grande Prémio. Em 1981, Nelson Piquet confirmou o primeiro de três títulos em seu nome e Keke Rosberg, pais de Nico Rosberg, venceu, em 1982, o mesmo troféu.