«O desporto não é matemática, não é 1+1=2»
Multimedalhado nos mais importantes palcos, Fernando Pimenta não quer colocar um ponto final na carreira no dia em que não subir ao pódio, mas deseja fazê-lo num Campeonato do Mundo em casa Fotografia Sven Simon /Imago

ENTREVISTA A BOLA «O desporto não é matemática, não é 1+1=2»

MODALIDADES13.07.202408:12

PARTE 1 - Fernando Pimenta tem duas medalhas olímpicas e tentará a terceira em Paris-2024 ou até mesmo Los Angeles-2028. Contará com a família na capital francesa e espera terminar a carreira em Ponte de Lima, aos 40 anos

­­­­— 150 medalhas, títulos mundiais, europeus, prata com o K2 nos Jogos de Londres-2012, bronze no K1 nos de Tóquio-2020. É a ambição do ouro olímpico que o faz correr na quarta participação olímpica?

Não só. É tentar conquistar mais qualquer coisita. Há sempre mais alguma coisa para ganhar. Se puder ser eu, porque não fazê-lo.

— No entanto, após o Europeu, disse, e passo a citar, «um dia...»

... Um dia isto vai acabar. Tenho a perfeita consciência que um dia vou chegar a um Europeu e não vou ganhar nenhuma medalha. E vai acontecer.

— E a partir daí, pondera terminar?

Não... sim ... depende. Acho que vai ser muito, como poderei dizer, não gosto de pôr as coisas de que vou terminar no dia em que não conseguir uma medalha.

Gostava de terminar em casa. Num campeonato do Mundo em Ponte de Lima. Acho que era meritório, bonito.

— E onde gostava de terminar?

Gostava de terminar em casa. Num campeonato do Mundo em Ponte de Lima. Acho que era meritório, bonito. Não quero terminar já, porque há essa probabilidade de, em 2029, haver um Mundial de maratonas em Ponte Lima. E terminar aí.

— Portanto, daqui a cinco anos, terá 40 anos. Quantos depois de ter começado?

Aos 40 anos, já vou ter 40. E termino. 29 anos depois de ter começado. Mas vamos ver. Tranquilo.

Siegfried Dammrath/Imago

— Paris-2024 ainda não aconteceu, mas pode não ser o fim de linha nos Jogos Olímpicos. Los Angeles-2028, aos 39 anos, ainda se sente dentro do prazo?

Acho que sim, agora as coisas terão que ser melhor geridas, em todas as componentes, física e psicológica.

— Mas a parte física nunca será igual?

Sim. Mas a gestão emocional é completamente diferente de tudo resto.

Quando o desafio é estar nos patamares mais altos, nos pódios internacionais, o melhor é não inventar e também não há muito para inventar.

— Deixemos o futuro. Mudou algo na preparação para Paris-2024?

Não mudámos muito, não dá para mudar muito. Quando o desafio é estar nos patamares mais altos, nos pódios internacionais, o melhor é não inventar e também não há muito para inventar. O desporto não é matemática, não é 1+1=2, igual a vitória.

— Hélio Lucas [treinador] usa repetidamente uma palavra: desfrutar. Disse que desfruta das provas, das medalhas, vitórias e da luta. É isso que o alimenta?

Sim, acho que cada vez mais, tal como referi no Europeu, por sentir que o fim está próximo. Já não tenho mais 20 anos de carreira. Gostava, mas também, por outro lado, acabo por pensar no resto. Tenho dois filhos.

Quando estou em casa, os treinos têm de ser até às 16 horas. A essa hora vou buscar a minha filha, vamos lanchar, vou com ela à piscina.

— Os filhos mudaram o atleta Fernando Pimenta?

Um bocadinho. A forma de pensar e de relativizar algumas coisas, de estabelecer prioridades. E o Lucas, nisso, sabe muito bem que quando estou em casa, os treinos têm de ser até às 16 horas. A essa hora vou buscar a minha filha, vamos lanchar, vou com ela à piscina. O meu filho igual, sempre que posso, vou com ele.

Aleksandar Djorovic/Imago

— Portanto, começa a fazer o balanço da gestão entre o profissional e a parte pessoal?

Sei que, ao estar na canoagem, estágios, competições, privo os meus filhos de terem um pai e não quero que isso aconteça. Vão ter, e têm, muito orgulho no pai, mas até que ponto a privação de um pai ... A Margarida tem três anos e meio, o Santiago, um ano e meio, em termos de humor, notam quando estou e quando não estou.

 

«Será brutal se Fernando Pimenta conquistar o ouro»

13 julho 2024, 09:37

«Será brutal se Fernando Pimenta conquistar o ouro»

PARTE 3 - Hélio Lucas, Treinador de uma vida de Fernando Pimenta esvazia a pressão da conquista do ouro olímpico em Paris-2024. Afirma que o canoísta vai para a luta pelas medalhas e pede-lhe sobretudo para desfrutar

— Mas acompanham-no na ida aos Jogos de Paris?

Sim, tudo está bem encaminhado para irem. Por isso é que estas coisas do alto rendimento, dos treinos e estágios, com o nascimento dos meus filhotes, comecei a pensar, a tentar desfrutar e aproveitar ao máximo o tempo que estou com eles.