Neemias Queta está em grande na NBA e revela o segredo: «Fome e humildade»
Neemias Queta (foto: Celtics)

ENTREVISTA A BOLA Neemias Queta está em grande na NBA e revela o segredo: «Fome e humildade»

BASQUETEBOL26.12.202301:00

Numa semana em que aproveitou a oportunidade de ter mais minutos devido à gestão de lesões dos postes dos Celtics para se impor e viver o seu melhor período de sempre na NBA, A BOLA conversou com o único português na Liga para saber como têm sido os últimos dias, como é jogar em Boston e quais as ambições para a época.

- Queria começar pelo grande momento da última terça-feira, em São Francisco, contra os Warriors, em que conseguiu fazer o seu primeiro duplo-duplo na Liga: 10 pontos, 10 ressaltos. Como foi viver esse registo?

- Não, não me foquei muito nesse momento. Principalmente estávamos mais focados em ganhar o jogo, por isso não era esse o objetivo principal. Aconteceu naturalmente, mas claro que ficámos um bocado tristes pela derrota [132-126, após prolongamento]. O objetivo é sempre ganhar os jogos e não fazer números.

- Mas nem deu para saborear? Já está a viver de uma maneira em que não pensa tanto nisso e encontra-se muito mais focado naquilo que está a conseguir fazer na equipa e no que tem estado a ajudar porque cada vez o seu papel nela é maior?

- Sim, o objetivo é sempre ajudar a equipa ao máximo. Meter o ego e a mim próprio de lado e ajudar a equipa a ganhar jogos. A partir daí toda a gente beneficia das vitórias e acho que é um estatuto bem melhor do que ter os números todos do mundo e depois perder jogos.

- Ainda assim, nunca ninguém gosta de perder quando regressa pela primeira vez ao um local onde já jogou. Soube bem, pessoalmente para além da equipa, vencer em Sacramento [passada quarta-feira, 119-144], onde atuou e viveu os dois anos anteriores? Recordo mesmo que na época passada, em março, quando os Celtics foram lá nem sequer se havia equipado…

- É um jogo especial. Voltar a um sítio onde estive dois anos da minha carreira muito bons e poder conseguir trazer a vitória é sempre especial, mas não foi como se fosse um encontro a mais ou peculiar, que tivesse marcado no calendário. O que não faltam são jogos e há que ter a memória curta e saber seguir em frente.

- Portanto não havia feito um circulo a vermelho para aquela data?

- Não, não…

- Notei que no final foi quase um dos últimos jogadores a ir para o balneário, praticamente já só lá estava o Kristaps Porzingis, e primeiro esteve a conversar com ex-colegas e depois, penso eu, com adjuntos e preparadores físicos. O que lhe disseram porque estava bem feliz. Estavam a meter-se consigo?

- É um bocado mais do mesmo, as brincadeiras que fazíamos no período em que estávamos lá, meter a conversa em dia, saber o que se está a passar com eles e perceber um pouco da sua dinâmica, família, amigos... São conversas de amigos e entender mais a situação de cada um deles, mas claro que se sentiram felizes por mim e pelo contexto onde estou e felicitaram-me bastante pelo passo que dei na carreira.

- Mas não se meteram consigo por lhes ter ganho aquele encontro?

- Não, não, não… Eles deram-me um bocado nas orelhas por causa da maneira como o jogo correu, mas foi sempre na desportiva.

- E como tem sido passar de estar no banco, jogar e não jogar e, de repente, tem estado quase sempre a ser utilizado cerca de 20 minutos nesta última semana? Com tem vivido este momento? De certeza que é para isto que tem trabalhado.

- É para isso que trabalhamos todos os dias, sabemos que as oportunidades não são muitas mas temos de estar sempre prontos e tenho tentado ser um jogador profissional ao máximo nesse aspeto. Trabalho todo os dias com o mesmo objetivo, sabendo que posso entrar a qualquer momento e ajudar a equipa e creio que me encontro mais preparado para isso a partir do momento em que tenho esse tipo de entrega ao trabalho diário.

- Esta época já disputou seis jogos [entretanto já são sete]. Em toda época passada jogou apenas cinco na Liga, já havia pensado nisso?

- Não, não tenho pensado muito nisso. Se calhar até já poderia ter disputado mais ou menos tendo em conta a lesão [pé direito, em novembro que o afastou oito partidas da lista de disponíveis], mas não é por aí que quero ver as coisas…

- Na época anterior atuou bastante na G League pelos Stockton Kings [14 partidas, média de 31,4m], nesta quase não vai lá. Chegou a treinar-se com os Maine Celtics nas três ocasiões que jogou esta temporada? Tem treinado com a equipa ou os Boston Celtics estão-lhe a ocupar tanto do seu tempo que nem tem disponibilidade de ir à G League?

- É raro. É uma situação diferente, ainda mal treinei com eles. Este ano tenho andado quase sempre com a equipa principal, por isso é um bocado diferente. Quando vou jogar à G League existe uma rotina distinta para conhecer um bocado do jogo de cada atleta, mas é para isso que trabalhamos todos os dias. Para saber jogar e todos temos o mesmo objetivo: ajudar a equipa a ganhar, o que facilita um bocado a nossa vida.

- O treinador Joe Mazzulla já o elogiou em várias ocasiões desde o princípio da época, depois esteve lesionado, mas o que é que ele lhe pede atualmente quando está nos jogos, até porque agora passou a ser mas utilizado?

- Pede para continuar a ser um jogador vocal dentro de campo, que continue a ter o mesmo tipo de entrega a cada posse de bola, a ser grande e a ganhar ressaltos, ajudar a equipa ao máximo em todos os aspetos possíveis. E penso que tenho vindo a desempenhar um bom papel nesse aspeto. Tenho ainda muito para aprender, mas a confiança que ele tem depositado em mim tem-me ajudado a florescer.

- E senta-se cada vez mais à-vontade com esse crescimento? Nota-se que está cada vez mais envolvido em tudo o que são as ações ofensivas e defensivas da equipa, que deixou de ser um corpo que entra de vez em quando, mas que passou a ser habitual no court?

- Sim, penso que o depositar de confiança que o staff tem posto em mim tem-me apoiado imenso a crescer e que tenho vindo a aprender imenso com os meus erros. A paciência que têm tido comigo tem sido fundamental para este crescimento que tenho tido. Agora é uma questão de continuar a seguir o mesmo caminho, com a mesma fome e humildade e continuar a olhar a partir daí porque a época é muito longa e temos bastantes jogos pela frente.

- Uma das coisas a resolver são as faltas que comete, tem andado nas cinco, seis..?

- É verdade, ainda há muitos aspetos por resolver e creio que o problema das faltas é um deles. Quando o jogo abranda para mim penso que consigo ficar fora das faltas mas é uma questão de estar bem posicionado ou por vezes é uma mão no sítio errado, ou mexer os pés na altura errada, mas em certa ocasiões é uma fase de aprendizagem em que tenho tido grande paciência e venho a melhorar com o tempo.