Entrevista Hóquei em patins: «Estamos preparados para a pressão de vencer»
Em entrevista a A BOLA, Nuno Resende, treinador do Benfica, clube que recentemente venceu a Elite Cup e a Supertaça, está já focado no campeonato e não esconde a ambição de conquistar a Champions.
No espaço de duas semanas o Benfica venceu a Elite Cup e a Supertaça, mas Nuno Resende não permite excessos de confiança e foca-se no que entende ser o essencial: começar o campeonato com uma vitória sobre o HC Braga. E não esconde a ambição pessoal e coletiva de conquistar a Liga dos Champions.
- O início de temporada foi muito bom para o Benfica, que para já venceu todos os jogos que disputou e conquistou dois títulos. Isso significa que a equipa está perto do seu melhor?
- Os resultados são a visão mais fácil para às vezes retirarmos ilações sobre o que é o nosso trajeto e onde queremos chegar, mas acabam por ser uma consequência. Enfim, são bons prenúncios, mas acima de tudo vão sendo consequência do trabalho que vem sendo desenvolvido e desenhado desde há dois anos.
O palmarés de Nuno Resende
Com 48 anos, passou mais de 20 como jogador e coroou a carreira com duas Taças de Portugal, ambas ao serviço da Oliveirense (em 2010/2011 e 2011/2012). Na pele de treinador foi campeão italiano (Amatori Lodi em 2016/2017 e 2017/2018) e português (Benfica, 2022/2023). Tem ainda quatro supertaças, três italianas (em 2016/2017, 2017/2018 e 2018/2019) e duas portuguesas (2021/2022 e 2022/2023)
- Sabendo de antemão da competitividade do hóquei nacional e internacional, o que é que esses «bons prenúncios» lhe transmitem para a restante temporada?
- Acreditamos que vamos conseguir fazer uma temporada competente, estamos a trabalhar para isso e neste momento estamos a ser extremamente competentes, mas a época é longa, os adversários são muito fortes e, sublinho, este é o melhor campeonato do mundo, onde qualquer adversário pode criar inúmeros problemas e depois também temos os candidatos a conquistar as competições, como nós o somos.Vamos trabalhar semana a semana. Neste momento, há que resetar em termos de emoções e de alguma euforia que possa ainda existir mas neste microciclo já estamos focados no que será o jogo com o HC Braga porque sabemos que não podemos baixar o nível e esse nível que apresentamos atualmente não servirá para as próximas competições, temos de o subir. Estamos com cinco, seis semanas de trabalho, falta muito ainda para atingirmos o nível que queremos e sabemos que os nossos adversários também vão subir o nível. Ainda é muito cedo.
- O HC Braga será o primeiro adversário no campeonato, no dia 5. É importante transportar esta mentalidade vencedora para um início de campeonato tão perigoso, em casa do adversário?
- Se for bem gerido, é. Se entrarmos em euforias ou acharmos que já estamos no ponto que nos permite ganhar a qualquer adversário, vamos ter problemas e meter-nos em confusões. Não: estamos com os pés bem assentes na terra, sabemos que temos de trabalhar muito e aproveitar este microciclo para recuperar em termos emocionais, equilibrar, ajustar e prepararmo-nos para esse jogo sabendo que na fase regular cada jogo é uma final. Não há qualquer tipo de possibilidade de relaxar ou baixar a fasquia. Na análise ao adversário temos de ser muito precisos se quisermos voltar a ganhar a fase regular, sabendo que ela nos coloca numa posição menos difícil no que será a luta do play-off. Temos de estar a um nível altíssimo, começando já pelo jogo com o HC Braga e a preparação para esse jogo é o nosso foco principal.
- No momento do sorteio do campeonato, Valter Neves dizia que face a este calendário era importante que o Benfica «entrasse à campeão». Partilha desta ideia?
- Acredito que quando o Valter proferiu essas palavras foi a ser campeão na humildade, na abnegação, no respeito pelos adversários, pelo trabalho e pelo que teria de ser uma pré-época forte. Campeão pelo desempenho, pela competência, penso que sim e sublinho: temos de manter esse espírito para o resto da época.
- Os últimos meses do Benfica têm sido aqueles que qualquer outra equipa pretende, tendo vencido o campeonato nacional e, mais recentemente, Elite Cup e Supertaça. Três títulos num muito curto espaço de tempo. Acreditava neste cenário?
- São momentos diferentes. No campeonato, o grupo era diferente deste, embora o modelo de jogo, os princípios do que é a identidade da equipa, estejam lá e transferiram-se para a nova época. No Benfica, temos sempre essa identificação e faz parte do ADN do clube. Não podemos fugir a isso, temos de estar preparados para a pressão do que é, seja em que competição for, entrarmos com a ambição de conquistar.
- Face a estas últimas três conquistas no panorama nacional, que ambições alimenta para o Benfica na Liga dos Campeões?
- Estamos a trabalhar também nesse sentido. No ano passado, falhámos o objetivo de estar presente na final, estando lá o nosso pensamento é o de discutir o título. Se tivéssemos estado presentes na final, ganhando ou não o título estaríamos presentes em mais duas competições esta época e foi algo que não conseguimos. Este ano, direcionamo-nos nesse sentido, de fazer uma fase de grupos que nos permita apurar e, de preferência, como os quartos-de-final são as duas mãos, ganhar o grupo para termos o jogo decisivo no nosso pavilhão. Depois, queremos marcar presença na final four e ter uma presença diferente da do ano passado, passando o objetivo é chegar à final e disputar o título, isso é claramente um objetivo nosso.
- Olhando à carreira, conquistou todos os títulos em Portugal e praticamente tudo em Itália. Ainda não conquistou Liga dos Campeões – encara esta como a competição que lhe falta?
- Em Itália falta-me a Taça… é muito difícil ganhar a Liga dos Campeões e os últimos tempos têm provado isso. É um objetivo claro, que só desde que cheguei ao Benfica, no ano passado. No primeiro ano conquistámos a Golden, que era o torneio máximo em termos de qualidade das equipas e se calhar aquele torneio para nós era quase como a Liga dos Campeões. Não era a Liga dos Campeões oficial, mas estavam lá todas as grandes equipas e nós conquistámo-la, acaba por não ser um torneio oficial mas temos esse know-how. Aquela realidade, fomos superiores às demais equipas e no ano passado não conquistámos esse objetivo, mas em termos de carreira é a primeira vez que estou num clube com condições para me ajudar a ganhar a Liga dos Campeões. Este ano é um objetivo claro, vamos tentar mas não há obsessão nenhuma nisso, da mesma forma que também conquistei títulos em Itália agora, a nível europeu, quero aproveitar ao máximo a minha presença num clube desta dimensão como o Benfica para ajudar a conquistar essa Liga dos Campeões.
- Num cenário idílico para o Benfica, poderá terminar a época com cinco títulos conquistados, sendo que já tem dois. Considera que seria um feito único, tendo em conta a exigência do contexto do hóquei português e internacional e a dificuldade em ganhar cada uma das provas?
- A minha mentalidade e aquilo em que estamos em conexão com staff, direção e jogadores é no jogo com o HC Braga, o próximo. Tudo o que vier, terá de ser consequência, estar no Benfica nós sabemos que tem de ser obrigação marcar presença nas finais e lutar para as conquistar, esse é o ADN do clube. Aqui ninguém pensa no pode, no se fizermos e não sei quê…ninguém prepara festas antes das conquistas, estamos completamente tranquilos e sabendo que o nosso foco agora está em Braga, no primeiro jogo do campeonato. É jogo a jogo e sabendo que só assim, com o foco máximo no microciclo para esse jogo, é que podemos ir avançando, pé ante pé e ganhando os pontos necessários para irmos conseguidos os objetivos intermédios até chegarmos aos objetivos finais. No final da época, cá estaremos – há um ano, se me fizesse essa pergunta e me dissesse «Nuno, daqui por um ano vamos estar nesta sala a tirar fotografias a três taças e conseguiu três taças», eu iria responder-lhe da melhor forma: cá, não há antecipações.