«É importante o Ruben Prey ir para os Estados Unidos habituar-se à cultura e ao jogo americano»
Fotografia NBAE

«É importante o Ruben Prey ir para os Estados Unidos habituar-se à cultura e ao jogo americano»

BASQUETEBOL05.07.202415:45

PARTE 2 - Ticha Penicheiro, a melhor jogadora portuguesa de todos os tempos esteve em Valência como madrinha da final do Torneio Europeu da Jr. NBA e A BOLA aproveitou para saber como sentiu Neemias Queta sagrar-se campeão da Liga, a ida de Ruben Prey para a NCAA, como a própria fez há 29 anos, a revolução na WNBA e a nova etapa na carreira de agente.

— Antes de ter entrado para a WNBA, fez, com a Mary Andrade, um percurso na Universidade de Old Dominion, na NCAA. O Neemias também foi para Utah State e agora temos o Ruben Prey, que anunciou que irá para St. John’s, em Nova Iorque. Pelos vistos está a trilhar o caminho que vocês fizeram para se poder mostrar à principal liga do mundo – apesar de para si ter sido diferente porque nem imaginava que ia surgir uma liga feminina, não foi? O melhor caminho para se mostrar à NBA é jogar nos Estados Unidos, ainda que o Ruben estivesse no Juventud de Badalona?

— Sim, acho que o melhor é os atletas poderem jogar com uma equipa que seja competitiva, com um bom treinador, para continuarem a evoluir. Mas há que jogar porque só assim é que uma pessoa, um jogador, pode evoluir. Portanto, ele ir para os Estados Unidos, também para se habituar à cultura americana, ao jogo americano e a essas coisas todas, considero que é importante. Acredito que não é essencial, não é 100 por cento, porque há muitos basquetebolistas que não passaram pela universidade, como o Luka Doncic, mas são poucos os que tiveram muito êxito aqui na Europa e depois vão diretamente para a NBA fazer o mesmo. Há que ter muito talento, mas para o Ruben, em termos de crescimento, é importante estar com essa maturidade, continuar a crescer também como pessoa. Isso é essencial, não só crescer como jogador, mas também como indivíduo. Saber que estamos independentes e podemos fazer as coisas que temos que realizar como adultos. E isso é importante.

Ticha com a antiga estrela da NBA e dos Atlanta Hawks Dominique Wilikins Fotografia NBAE

— É um bocado por aí, você vive nesses dois mundos porque, como agente, tem jogadoras que vêm da NCAA e outras das ligas profissionais no resto do mundo. O Ruben já jogava com e contra homens na Europa porque estava nas competições europeias e atuava na ACB em Espanha. Qual a diferença que vai encontrar alguém que está no basquetebol europeu, mesmo que seja na ACB, agora na NCAA? Que diferenças existem no jogo em si?

— Fora as regras, que vão ser diferentes, também depende do treinador e do sistema de jogo. Para mim isso é a principal diferença, porque se uma pessoa está a jogar num sistema que é mais rápido ou mais defensivo e agora é ao contrário acho que isso influi. Mas basquetebol é basquetebol e no fim temos que nos adaptar, vamos sempre de equipa para equipa e há que adaptar rapidamente ao novo sistema, ao novo treinador, aos novos colegas, à nova cidade, à nova equipa…  Existem sempre adaptações que se têm que fazer e rapidamente para tentar ajustar o mais depressa possível, mas, como disse, basquete é basquete e no fim de contas tenho a certeza que ele estudou todas as hipóteses que tinha e achou que esta decisão era a melhor para ele, não só a nível basquetebolístico, mas também a nível pessoal.

Finalmente que o mundo acordou para ver o basquete feminino porque estão, neste momento, a presenciar aquilo que já sei há muito tempo: que tem qualidade.

— A WNBA, depois de ter saído, e já apanhou o princípio de um declínio, esteve quase em perigo de desaparecer se a NBA não a tivesse segurado nesses momentos difíceis. Nesta altura, é também incontornável, a Liga vive um conjuntura única de crescimento: audiências, espectadores, pavilhões cheios, venda de merchandising… Tudo que é bom está a acontecer. Como é que também olha para esta nova fase da WNBA?

— Contente. Finalmente que o mundo acordou para ver o basquete feminino porque estão, neste momento, a presenciar aquilo que já sei há muito tempo: que tem qualidade. Há grandes jogadoras, jogamos bem e é um desporto bonito de se ver, se calhar até mais coletivo e mais bem jogado muitas vezes que o masculino, mais de equipa. E, claro, há caras novas como a Caitlin Clark, a Angel Reese, que realmente trouxeram essas pessoas novas que, se calhar, nunca viram nenhum jogo da WNBA e neste momento estão surpresas: Ah!, afinal estas até percebem umas coisas, não é? Mas sim, estou contente porque mais vale tarde do que nunca.

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— Ficou surpreendida, dos jogos a que tem ido, de ver pavilhões da NBA completamente cheios e a euforia que está a acontecer ali à volta?

— Sim, um bocado. Também a pressão que principalmente a Caitlin Clark tem levado em cima. Já está há um ano e meio com esta pressão toda e da maneira como tem estado a aguentar, como ela fala com a comunicação social... Imagino que não seja fácil. Mas está a ter uma atitude profissional incrível, principalmente uma jogadora que tem 22 anos. Não é fácil, mas realmente as pessoas, não só nos Estados Unidos mas no mundo inteiro, estão mais atentas à WNBA e uma das razões é ela, sem sombra de dúvida.

É uma agência que está mesmo virada para os jogadores e para as famílias. Quero ter menos jogadoras, portanto mais qualidade e menos quantidade, e conversando com ele achei que me via a mim nele e vice-versa.

— Outra coisa importante na sua carreira: em abril mudou de agência, deixando aquela onde penso que havia começado. O que foi à procura na One Time Agency?

— Exatamente isso, uma mudança, porque o CEO, portanto o dono desta agência, também é um ex-jogador da NBA, o Ramon Sessions, que jogou 11 anos na Liga. É uma agência que está mesmo virada para os jogadores e para as famílias. Quero ter menos jogadoras, portanto mais qualidade e menos quantidade, e conversando com ele achei que me via a mim nele e vice-versa. Acho que nos complementamos de uma maneira incrível e temos os mesmos valores, os mesmos princípios. E é a única agência que tem um ex-jogador da NBA e uma ex-jogadora da WNBA a comandar. Uma agência que ainda é nova, a One Time Agency começou mais ou menos há ano e meio, dois anos, mas penso que vai ter uma projeção grande no futuro.

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— Quer falar sobre as finais do Torneio Europeu da Jr NBA em Valência, Espanha, em que está como madrinha?

— Sim. Cheguei ontem [anteontem], por isso ainda não tive muita oportunidade de ver os miúdos a jogar, mas hoje [ontem] vamos ter um dia cheio de atividades, e estão aqui os melhores jogadores e jogadoras da Europa, portanto estou curiosa de ver a qualidade. E claro que isto é o futuro do basquetebol europeu, tanto do feminino como do masculino. Tenho certeza que estão aqui muitos diamantes por ser felizes e estou contente de estar aqui sempre a representar a WNBA, NBA e também o basquetebol português.