— Antes de ter entrado para a WNBA, fez, com a Mary Andrade, um percurso na Universidade de Old Dominion, na NCAA. O Neemias também foi para Utah State e agora temos o Ruben Prey, que anunciou que irá para St. John’s, em Nova Iorque. Pelos vistos está a trilhar o caminho que vocês fizeram para se poder mostrar à principal liga do mundo – apesar de para si ter sido diferente porque nem imaginava que ia surgir uma liga feminina, não foi? O melhor caminho para se mostrar à NBA é jogar nos Estados Unidos, ainda que o Ruben estivesse no Juventud de Badalona?— Sim, acho que o melhor é os atletas poderem jogar com uma equipa que seja competitiva, com um bom treinador, para continuarem a evoluir. Mas há que jogar porque só assim é que uma pessoa, um jogador, pode evoluir. Portanto, ele ir para os Estados Unidos, também para se habituar à cultura americana, ao jogo americano e a essas coisas todas, considero que é importante. Acredito que não é essencial, não é 100 por cento, porque há muitos basquetebolistas que não passaram pela universidade, como o Luka Doncic, mas são poucos os que tiveram muito êxito aqui na Europa e depois vão diretamente para a NBA fazer o mesmo. Há que ter muito talento, mas para o Ruben, em termos de crescimento, é importante estar com essa maturidade, continuar a crescer também como pessoa. Isso é essencial, não só crescer como jogador, mas também como indivíduo. Saber que estamos independentes e podemos fazer as coisas que temos que realizar como adultos. E isso é importante. — É um bocado por aí, você vive nesses dois mundos porque, como agente, tem jogadoras que vêm da NCAA e outras das ligas profissionais no resto do mundo. O Ruben já jogava com e contra homens na Europa porque estava nas competições europeias e atuava na ACB em Espanha. Qual a diferença que vai encontrar alguém que está no basquetebol europeu, mesmo que seja na ACB, agora na NCAA? Que diferenças existem no jogo em si?— Fora as regras, que vão ser diferentes, também depende do treinador e do sistema de jogo. Para mim isso é a principal diferença, porque se uma pessoa está a jogar num sistema que é mais rápido ou mais defensivo e agora é ao contrário acho que isso influi. Mas basquetebol é basquetebol e no fim temos que nos adaptar, vamos sempre de equipa para equipa e há que adaptar rapidamente ao novo sistema, ao novo treinador, aos novos colegas, à nova cidade, à nova equipa… Existem sempre adaptações que se têm que fazer e rapidamente para tentar ajustar o mais depressa possível, mas, como disse, basquete é basquete e no fim de contas tenho a certeza que ele estudou todas as hipóteses que tinha e achou que esta decisão era a melhor para ele, não só a nível basquetebolístico, mas também a nível pessoal. Finalmente que o mundo acordou para ver o basquete feminino porque estão, neste momento, a presenciar aquilo que já sei há muito tempo: que tem qualidade. — A WNBA, depois de ter saído, e já apanhou o princípio de um declínio, esteve quase em perigo de desaparecer se a NBA não a tivesse segurado nesses momentos difíceis. Nesta altura, é também incontornável, a Liga vive um conjuntura única de crescimento: audiências, espectadores, pavilhões cheios, venda de merchandising… Tudo que é bom está a acontecer. Como é que também olha para esta nova fase da WNBA?— Contente. Finalmente que o mundo acordou para ver o basquete feminino porque estão, neste momento, a presenciar aquilo que já sei há muito tempo: que tem qualidade. Há grandes jogadoras, jogamos bem e é um desporto bonito de se ver, se calhar até mais coletivo e mais bem jogado muitas vezes que o masculino, mais de equipa. E, claro, há caras novas como a Caitlin Clark, a Angel Reese, que realmente trouxeram essas pessoas novas que, se calhar, nunca viram nenhum jogo da WNBA e neste momento estão surpresas: Ah!, afinal estas até percebem umas coisas, não é? Mas sim, estou contente porque mais vale tarde do que nunca. — Ficou surpreendida, dos jogos a que tem ido, de ver pavilhões da NBA completamente cheios e a euforia que está a acontecer ali à volta?— Sim, um bocado. Também a pressão que principalmente a Caitlin Clark tem levado em cima. Já está há um ano e meio com esta pressão toda e da maneira como tem estado a aguentar, como ela fala com a comunicação social... Imagino que não seja fácil. Mas está a ter uma atitude profissional incrível, principalmente uma jogadora que tem 22 anos. Não é fácil, mas realmente as pessoas, não só nos Estados Unidos mas no mundo inteiro, estão mais atentas à WNBA e uma das razões é ela, sem sombra de dúvida. É uma agência que está mesmo virada para os jogadores e para as famílias. Quero ter menos jogadoras, portanto mais qualidade e menos quantidade, e conversando com ele achei que me via a mim nele e vice-versa. — Outra coisa importante na sua carreira: em abril mudou de agência, deixando aquela onde penso que havia começado. O que foi à procura na One Time Agency?— Exatamente isso, uma mudança, porque o CEO, portanto o dono desta agência, também é um ex-jogador da NBA, o Ramon Sessions, que jogou 11 anos na Liga. É uma agência que está mesmo virada para os jogadores e para as famílias. Quero ter menos jogadoras, portanto mais qualidade e menos quantidade, e conversando com ele achei que me via a mim nele e vice-versa. Acho que nos complementamos de uma maneira incrível e temos os mesmos valores, os mesmos princípios. E é a única agência que tem um ex-jogador da NBA e uma ex-jogadora da WNBA a comandar. Uma agência que ainda é nova, a One Time Agency começou mais ou menos há ano e meio, dois anos, mas penso que vai ter uma projeção grande no futuro. — Quer falar sobre as finais do Torneio Europeu da Jr NBA em Valência, Espanha, em que está como madrinha?— Sim. Cheguei ontem [anteontem], por isso ainda não tive muita oportunidade de ver os miúdos a jogar, mas hoje [ontem] vamos ter um dia cheio de atividades, e estão aqui os melhores jogadores e jogadoras da Europa, portanto estou curiosa de ver a qualidade. E claro que isto é o futuro do basquetebol europeu, tanto do feminino como do masculino. Tenho certeza que estão aqui muitos diamantes por ser felizes e estou contente de estar aqui sempre a representar a WNBA, NBA e também o basquetebol português.