Djokovic lamenta: «Se não fosse da Sérvia já teria sido glorificado»
Resposta de Novak Djokovic, depois da conquista do 24.ª slam, à pergunta, em sérvio, se deveria ser considerado o melhor de sempre em qualquer modalidade. Tenista recordou os sacrifícios dos pais em tempos de guerra. Pela primeira vez em quase 50 anos todos os líderes dos ranking mudaram ao mesmo tempo
Por incrível que possa parecer, desde que os rankings individuais de ténis foram criados em agosto de 1973, inicialmente apenas para o circuito masculino ATP, e depois, em março de 1976, quando também se passou a fazer o mesmo para os pares – o da WTA havia surgido um ano antes, em novembro de 1975 – que nunca os quatro líderes dos mesmos haviam mudado, todos, na mesma semana. Pois bem, a 143.ª edição do US Open teve a proeza de contribuir para que a inédita situação acontecesse.
Nos masculinos, Novak Djokovic (11.795 pts), que ao bater o russo Daniil Medvedev por 3-0 (6/3, 7/6 (7-5), 6/3) na final disputada no Arthur Ashe Stadium conquistou o terceiro major da temporada (Austrália, Roland Garros) e o 24.ª(!) slam da careira aos 36 anos – 12 foram conseguidos antes de celebrar o 30.º aniversário -, retirou da liderança do ranking o espanhol Carlos Alcaraz (8.535).
Curiosamente, o mesmo adversário que o derrotara na final de Wimbledon e que se tal não tivesse acontecido permitiria, agora, que o sérvio se juntasse a Don Budge (1937), Maureen Brinker (1953), Rod Laver (1962 e 1969), Margaret Court (1970) e a Steffi Graff (1988) como os únicos a terem ganho o Grand Slam numa só temporada. No caso de Graff acrescentando o ouro olímpico nos Jogos de Seoul-1988.
Nada, no entanto, que de alguma forma diminua o incrível palmarés de Djokovic com 96 títulos em torneios ATP – e que apimenta ainda mais a discussão de quem é o melhor se sempre -, o qual com este seu quarto título do open americano (2011, 2015, 2018, 2023) se distância do espanhol Rafael Nadal (22 slams) e do retirado Roger Federer (20) como os tenistas masculinos com mais majors ganhos e igualando os 24 que a australiana Margaret Court arrebatou entre 1960 e 1973 (13 antes da era open). Só no torneio australiano somou 11 triunfos.
Mas se faltasse condimento à discussão, o próprio Novak ajudou a apimentar o debate quando, depois de ter dado a conferência em inglês, onde como fizera no court, na entrega do troféu, elogiando praticamente tudo e todos e falou do «sonho» que tinha aos «sete ou oito anos em tornar-me o melhor jogador do mundo e ganhar Wimbledon» e como mais tarde essa ambição se transformou até ganhar impensáveis 24 slams, quando chegaram às perguntas em sérvio as coisas tomaram outro rumo.
À questão se deveria ser considerado o melhor atleta de sempre independentemente da modalidade disse: «Deixo isso para vocês e todos os outros se mereço ou não fazer parte desse debate. Contudo, há uma coisa que é um facto: se não fosse da Sérvia já teria sido glorificado a nível desportivo há muitos anos, especialmente no ocidente».
«Mas isso faz parte da minha jornada. Estou grato e orgulhoso de vir da Sérvia. Por causa disso todas estas conquistas são mais doces e ainda mais gratificante», referiu antes de recordar os tempos de criança e de guerra que o país passou.
«As probabilidades estavam contra mim e a minha família, mas nós conseguimos. Digo ‘nós’ porque devo muito à minha família. Aos meus pais que se sacrificaram tanto por mim para que esteja aqui. E isto não é um cliché. Falo mesmo a sério. Foi extremamente, extremamente difícil, com muitas adversidades que eles tiveram de enfrentar e atrocidades que quando se reflete sobre isso a última coisa em que se pensa é talvez apoiar o seu filho numa modalidade cara. A dado momento era mais colocar pão na mesa da cozinha».
«Por isso, refletindo sobre toda a jornada, tem sido incrível. Da qual todos nos podemos sentir muito orgulhosos. Realmente, este tipo de formação e experiências que tive que tive na infância permitem-me valorizar este momento ou quaisquer outros que já passei. Grandes momentos da minha careira na história desta modalidade», colncluiu.
Note-se que para Nole, há dois anos perdera a final nos Estados Unidos face a Medvedev (mantém-se em 3.º , 7.280 pts), é a 390.ª semana como líder do ranking mundial em 14 anos. Também aqui muito para lá do conseguido por Federer (310) e Pete Sampras (286) e junta os 3 milhões de dólares (2,8 milhões de euros) de prémio pelo triunfo aos mais de 175 milhões (164 milhões) já ganhos em singulares e pares.
Mas se Djokovic liderar o ranking é um hábito, para a bielorrussa Aryna Sabalenka (9.266 pts), de 25 anos, que sábado perdera a final frente à jovem americana Coco Gauff por 1-2 (6-1, 6-3, 6-2) trata-se de uma estreia aos 25 anos.
Até agora na 2.ª posição, Sabalenka ultrapassa a polaca Iga Swiatek (8.195) que se manteve no comando ao longo de 75 semanas mas não logrou defender o título ganho em 2022 ao ter sido eliminada nos oitavos de final frente à letã Jelena Ostapenko.
Quanto a Gauff, de 19 anos, sobe três posições e fixa-se no 3.º lugar do ranking (6.165), onde nunca chegara. Isto nos singulares porque a pares, Coco é já líder do ranking mundial em igualdade com a também americana e habitual parceira na variante Jessica Pegula (6.035). Ambas, ficaram eliminadas nos quartos de final, ascenderam cinco lugares face à queda da checa Katerina Siniakova (4.ª, 5.625).
Nos homens, o americano Austin Krajicek (7.750 pts), seguido do croata Ivan Dogig (7.240), são agora os mais pontuados perante às quedas para o 3.º e 4.º posto do britânico Neal Skupski (6.950) e do neerlandês Wesley Koolhof (6.800).
O melhor jogador português em singulares é Nuno Borges (89.º, 694 pts), caiu dez posições, e em pares Francisco Cabral (54.º, 1560 pts).