Atletas angariam dinheiro para participar em Mundial que ninguém reconhece
João Diogo Lopes com Bassó Pires, medalhado no Mundial de Albufeira (DR)

KICKBOXING Atletas angariam dinheiro para participar em Mundial que ninguém reconhece

MODALIDADES19.07.202410:00

Tema gera preocupação na Federação portuguesa

João Diogo Lopes, presidente da Associação KO Team Portugal e da FNKDA (Associação reconhecida pela WAKO), está preocupado com o que está a acontecer no seio do kickboxing nacional. Como se sabe, a Federação que o Estado reconhece (FPKMT) não é reconhecida pela Federação internacional que tutela a modalidade (WAKO) e, nesse sentido, não pode participar em provas internacionais reconhecidas nas disciplinas de kickboxing. Desta forma é, para João Diogo, «incompreensível como é que decorrem novamente peditórios e angariações de fundos» para participarem em provas chamadas de «campeonatos do mundo» que não são mais, segundo o presidente FNKDA, «do que provas sem critério.»

«É incrível como é que há atletas que andam a endividar-se e a pedir dinheiro nas redes sociais e até a organismos públicos como Câmaras Municipais, para participarem numa prova que não é reconhecida por ninguém», continua João Diogo Lopes, «onde muitas vezes nem combatem, ou combatem contra atletas do mesmo país ou equipa.»

A situação, diz o presidente da Associação KO Team Portugal e da FNKDA, é um escândalo: «Atenção! Estão a pedir aos atletas cerca de 2500 euros para participarem nesta prova e não sei como é que se paga este valor para viajar e dormir quatro noites na Áustria. Em Espanha, para a mesma prova, estão a pedir menos de metade e em Itália menos ainda. Nós temos os emails e os links das inscrições nesse campeonato organizado por essa empresa, a ISKA. É um escândalo, em primeiro lugar, como é que uma federação que o Estado reconhece leva atletas a uma prova que não é reconhecida e que, depois, lhes cobra uma barbaridade de dinheiro. Mais do dobro que em Espanha ou Itália…», realçou este ex-campeão do mundo.

João Diogo Lopes, presidente da Associação KO Team Portugal e da FNKDA (DR)

«Basta ver a última participação neste chamado Mundial, realizado no ano passado na Turquia. 80 atletas, 71 medalhas, ou algo dentro disto. É bizarro e descredibiliza a modalidade. Pior ainda é ver Câmaras Municipais a investir nestas iniciativas, tentando e bem apoiar os atletas, mas provavelmente nem sabem que provas são estas, nas quais alguns atletas foram campeões sem sequer combater ou combateram uns com os outros», continua, espantado, João Diogo Lopes.

Sem se deter, pergunta: «Oxalá não aconteça, mas, se alguém se magoar a sério numa prova destas, que é organizada por uma empresa e não por uma federação, quem vai assumir as responsabilidades? É a federação que usa dinheiros públicos para isto?».

E acrescenta: «Não é fácil de explicar como é que uma Federação como a FPKMT usa dinheiro público para desenvolver a modalidade e participar em provas internacionais, e depois leva atletas a estas provas embuste, sem qualquer rigor, validade ou controlo. Não há antidoping, os critérios são muito subjetivos e não há muita segurança em provas assim. Uma coisa destas só se vai resolver, quando houver uma tragédia, mas aí vai ser tarde».

Sobre as competições reconhecidas, este ano decorre na Grécia, de 1 a 10 de novembro, o Campeonato da Europa da WAKO, a Federação que é reconhecida pelo Comité Olímpico Internacional (COI), cujos vencedores terão acesso direto aos World Games em 2025 em Bandghu, na China.

«Os atletas que estão filiados na FPKMT não têm acesso a estas provas, lá está, reconhecidas, controladas e programadas pelo COI, uma vez que estão inscritos numa federação que não é reconhecida. É um problema que atrasa a modalidade, uma vez que há muito talento português que fica de fora dos potenciais representantes de Portugal».

João Diogo Lopes, Bassó Pires e o treinador Alexandre Lopes (DR)