Ciclismo Duelo Pogacar-Vingegaard no regresso do Tour ao mítico Puy de Dôme
Hoje, o Tour regressa, 35 anos depois, a uma das montanhas elevadas ao mito por batalhas épicas que escreveram a história e o prestígio da grande volta francesa, o Puy de Dôme, palco de excelência para novo duelo provável entre Jonas Vingegaard e Tadej Pogacar, os dois primeiros classificados da prova, separados por 25 segundos.
A temível subida de 13,3 quilómetros e os últimos quatro a uma inclinação média de 11% serpenteante por um cone vulcânico verdejante com a sua torre de observação branca, elevando-se no horizonte ao redor da região de Auvergne, no Maciço Central, sobranceiro à cidade de Clermont-Ferrand, não fazia parte do Tour desde 1988, quando o improvável dinamarquês Johnny Weltz venceu a etapa no seu cume.
Todavia, a lenda do Puy de Dôme começou a formar-se desde a estreia na corrida em 1952, quando o italiano Fausto Coppi reforçou o seu domínio na edição do Tour desse ano com uma vitória categórica na etapa que terminou no alto da inédita montanha. Sete anos volvidos, o trepador espanhol Federico Bahamontes ficou mais perto da camisola amarela que levou até Paris com um triunfo esmagador numa duríssima crono-escalada.
No entanto, o Puy de Dôme imortalizou-se no Tour após o eletrizante duelo travado nas suas rampas pelos franceses Jacques Anquetil e Raymond Poulidor, no penúltimo dia da edição de 1964. Os dois ícones do ciclismo, bateram-se, ombro a ombro, até que Anquetil, envergando a camisola amarela, cedeu à fadiga já no derradeiro quilómetro. Para o arquirrival ficou a glória do momento, porém Anquetil pôde manter a liderança da corrida por 14 segundos e conquistar a sua quinta e última vitória no Tour.
A fama do Puy de Dôme também se fez de drama. Em 1975, Eddy Merckx foi vítima de uma agressão (um murro nos rins) de um espectador, incidente de que não recuperou devidamente e contribuiu para ter perdido, dois dias depois, a Volta a França para o francês Bernard Thévenet e a última vez que o grande campeão belga envergaria a camisola amarela no Tour.
Onze anos depois, o norte-americano Greg LeMond bateu o ídolo francês Bernard Hinault, ganhando-lhe quase um minuto a caminho da vitória no Tour de 1986.
Hoje, o regresso ao Puy de Dôme promete mais um duelo para a posteridade, entre Tadej Pogacar e Jonas Vingeggard, as figuras maiores da presente Volta a França e os seus primeiros classificados. «É muito, muito íngreme, creio que nunca fiz uma subida como esta. Não há descanso em toda a ascensão e não tem curvas fechadas, o que obriga a manter constante a força nos pedais, a nunca os aliviar», explicou o dinamarquês, atual camisola amarela e vencedor da edição de 2022 do Tour, após o reconhecimento à subida durante a última primavera. «Será uma novidade para todos, um dia especial. A subida é muito dura e fará uma seleção fina de valores», antevê Pogacar.