Vitória (sem história) para ajudar a pacificar as hostes: a crónica do FC Porto-Montalegre
Tudo resolvido com o 3-0 ao intervalo; Conceição começou logo a pensar em Barcelona; Não serviu de ensaio, mas deu para gerir
Depois de dias de turbulência que denunciaram profunda clivagem interna em incontornável clima pré-eleitoral e que redundaram em muita polémica durante e depois das cenas a que se assistiram no Dragão Arena há mais de uma semana, o regresso do FC Porto à competição, ontem, no contexto da 4.ª eliminatória da prova rainha do futebol português, servia de pretexto a um cessar-fogo nas bancadas do Dragão.
E a um toque a reunir no apoio à equipa de Sérgio Conceição em vésperas de importantíssimo jogo em Barcelona, na próxima terça-feira, para a 5.ª jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões. Em tempos como os que o FC Porto está a viver torna-se importante encontrar denominadores comuns entre aqueles que se posicionam em lados opostos da barricada e voltar a aglutinar a família portista em torno do apoio à equipa é, seguramente, muito mais sadio do que voltar a hastear a já muito desgastada bandeira do estão-todos-contra-nós, arte há décadas dominada por Pinto da Costa, que depois das cenas que envergonharam, sobretudo, o próprio clube, não se coibiu de desenterrar o velhinho machado de guerra regional, bradando na revista Dragões que «o FC Porto é alvo a abater por grande parte do País».
Mas nada como uma vitória sem espinhas, e sem espinhos, para ajudar a pacificar as hostes desavindas, agora unidas à volta do objetivo e desejo comum de verem a equipa vingar em Barcelona a derrota indigesta que sofreram no Dragão, e não em torno de chavões bafientos, que só servem para enganar tolos.
O clube em si não é alvo a abater, convenhamos, um emblema com a centenária história do FC Porto nunca se abate, mas a equipa de Conceição sim, do ponto de vista de todos os adversários que a defrontam. E o Montalegre, que milita no Campeonato de Portugal, não foi exceção a essa regra. Sem recursos, com poucos argumentos mas com muita vontade, apresentou-se no Dragão para jogar, não apenas para se fechar lá atrás, e quase surpreendeu os dragões ao segundo minuto de jogo, com Cláudio Ramos a ter de aplicar-se para negar o golo a Boakye, na que parecia ter sido entrada sonolenta do FC Porto em jogo.
Com um onze alvo de revolução, com oito alterações em relação ao triunfo (2-1) em Guimarães, só sobreviveram João Mário, André Franco e Evanilson, este último a confirmar a boa época que está a fazer com um bis, naquele que poderá ter sido, na realidade, o único ensaio para Barcelona, com o brasileiro a mostrar que continua de pontaria afinada... No resto, e tirando a gestão física que Conceição pôde fazer - Jorge Sánchez, Taremi e Eustáquio, trio que voltou com mais minutos das seleções, descansou, e Galeno voltou a ser titular e a ganhar minutos -, o jogo de ontem de pouco serviu para o que se segue.
Conceição deu oportunidade a vários jovens, permitindo a Zé Pedro, João Mendes (estreia absoluta a titular) e Namaso (fez o 1-0 na estreia a marcar) acumularem mais minutos, voltou a apostar na titularidade de Baró, que não tinha tido tempo de jogo nas últimas quatro partidas, e na de Grujic, que já não era titular desde a ronda anterior da Taça, e com o 3-0 ao intervalo ficou de cadeirinha e começou a pensar no duelo de terça-feira com os blaugrana. O Montalegre estava vencido, mas não quis dar parte de fraco e tentou o golo de honra no segundo tempo, atrevendo-se, até, a fazer pressão alta, procurando provocar um qualquer erro que lhe desse frutos. Mas os dragões não foram na cantiga e arrumaram a questão com o 4-0, na estreia de Fran Navarro a marcar. Tudo, portanto, muito pacífico. Agora... venha a Champions!