Sporting-FC Porto, 3-4 Ventania soprou do norte até mudar para um céu azul
Fantástica estreia de Vítor Bruno na pele de treinador principal. Mudou a equipa, mudou o jogo e foi o grande impulsionador de uma vitória épica do FC Porto
Grande espetáculo, grande final e grande promessa de uma época cheia de emoções fortes. Um hino ao futebol, que o nome e a História de Cândido de Oliveira tanto merecem. Fantástico FC Porto numa reviravolta épica, depois de parecer ter o jogo perdido apenas com 24 minutos de jogo jogado. Do perigo real de uma goleada, que poderia ter consequências drásticas, a uma convicção profunda de que, no FC Porto, pode mudar o presidente, pode mudar o treinador, mas a cultura de vitória permanece.
É verdade que também foi uma final marcada pelos golos (sete!) e pelos erros que os tornou possíveis. Erros que se tornaram mais notórios pela intensidade imposta no jogo pelos dragões e que, ironicamente, os afetou no início. De tanto querer pressionar o Sporting, de tanto subir a equipa para prender o adversário na primeira fase de construção, o FC Porto desequilibrou o seu sistema defensivo e permitiu ao Sporting encontrar o espaço de que precisava para chegar ao golo. E a verdade é que o Sporting chegou com alguma naturalidade aos 3-0 e poderia até ter resolvido, de vez, a final se Gyokeres estivesse em bom momento de forma.
Mas o futebol tem os seus caprichos e os deuses estiveram do lado da equipa que, apesar de estar a perder de forma que parecia irremediável, mesmo assim continuou a acreditar. Um golo fortuito, resultante de um erro clamoroso de Debast, deu ao FC Porto um reforço essencial do sentimento de que ainda era possível virar a seu favor aquela final. O vento norte continuou a soprar intensamente e tanto soprou que acabou por tornar, enfim, o céu azul.
GRANDE ESTREIA DE VÍTOR BRUNO
Havia natural curiosidade para observar este FC Porto no seu primeiro grande teste oficial. Porque o clube mudou de presidente e a equipa mudou de treinador. Olhos postos em Vítor Bruno para se saber se uma equipa com a dimensão do FC Porto poderia ter na liderança apenas um “adjunto” de Sérgio Conceição. E que grande resposta deu o jovem treinador. Ele mexeu na equipa e mudou o jogo. Foi bem mais ativo do que Rúben Amorim e decisivo no desfecho desta final.
Haverá um momento crucial na ação de Vítor Bruno, quando, em cima da hora de jogo, meteu em campo Eustáquio e Ivan Jaime e, logo depois, Nico Gonzalez, mudando Martim para lateral direito e fazendo recuar Galeno para um falso lateral direito. Para além de dar um sinal à equipa de que era possível ganhar um jogo que chegou a parecer sem remédio, a ideia tecnicamente bem pensada de ter, em Galeno, um jogador capaz de responder em velocidade à perigosa velocidade de Quenda. Tanto mais que o FC Porto assumia o risco de se expor mais no jogo para lutar pela reviravolta no resultado.
É bem verdade que o FC Porto teve também a sorte do seu lado, até no ressalto do golo que carimbou o primeiro título da época. Mas o certo é que mereceu essa sorte.
O LEÃO DESCEU AO INFERNO
Nem sempre se pode estabelecer uma fronteira exata entre o mérito de uma equipa e o demérito da outra. Pode assinalar-se, isso sim, erros factuais. O Sporting cometeu demasiados erros na forma como pretendeu construir o seu jogo a partir de trás, mas também na debilidade da sua zona defensiva, onde Debast terá de trabalhar muito a entrada na sua nova equipa. Outro problema que Rúben ainda não conseguiu resolver foi o da frágil condição de Gyokeres. O Sporting continua a depender muito dele e é uma equipa quando o seu ponta de lança está bem e outra, muito diferente, quando está mal.
Depois de estar próximo do paraíso, o leão desceu aos infernos. Importa relativizar e, sobretudo, desdramatizar, mas ainda há muito trabalho pela frente.