Técnico analisou a vitória do Sporting frente ao Manchester City
Após a vitória histórica do Sporting frente ao Manchester City, Rúben Amorim analisou, na última conferência de imprensa em Alvalade, a partida, o passado do Sporting e o futuro que antevê no Manchester United.
Sessenta anos depois de um 5-0 ao Manchester United, o Sporting voltou a fazer história em Alvalade, ao golear o Manchester City numa noite mágica, em que o pragmatismo de Amorim levou a melhor sobre o lirismo de Guardiola
Onde é que esta vitória histórica coloca o Sporting?
Coloca o Sporting no play-off, isso é o principal. Obviamente, é muito importante, é visto em todo o mundo. Ganhámos por três golos de vantagem, estivemos a perder. Mas eu acho que, hoje, estava escrito que tinha que ser assim, porque não há muita explicação. Na primeira parte, nós não conseguimos ter bola, muito precipitados. Eles ganharam os duelos todos, empurraram-nos para dentro da baliza, falharam golos. Uma primeira parte, difícil, mas depois conseguimos chegar ao empate no intervalo e acho que acalmou toda a gente. Fomos para o intervalo e mudámos algumas coisas, mas a reviravolta não teve nada a ver com as mudanças que fizemos ao intervalo. Na primeira jogada, golo. Na segunda jogada, penálti. Eu diria que hoje tinha que ser assim. Acontecesse o que acontecesse no jogo, eu acho que toda a gente aqui, que esteve aqui nos últimos quatro anos, merecia esta noite, foi uma noite especial. Mas agora há que não parar no tempo, não ficar a olhar para esta vitória como se fosse um acaso. Sei o quão especial é, mas temos que seguir em frente e pensar já no próximo jogo.
Como é que surgiu esta reviravolta ao intervalo? Já subscreveu os jornais ingleses para saber do 'novo Alex Ferguson'?
Não, isso foi uma brincadeira, não vou certamente ler nada durante seis meses. Fiz isso quando fui para o Sporting, vou fazer o mesmo durante seis meses. É a única maneira de fazer o meu trabalho bem. Já sei como são as coisas. A reviravolta não foi nenhum ajuste tático, como eu estava a dizer, foram duas jogadas. Logo a seguir, mudámos taticamente na forma como defendemos, fechámos melhor o meio, eles tiveram que ir mais por fora e controlámos melhor. Mas até ao 3-1, não houve alteração nenhuma, porque foram duas jogadas seguidas. Depois, ganhámos confiança, os adeptos ajudaram-nos, controlámos o jogo. O Manchester City ainda falhou um penálti, portanto, volto a dizer: estava escrito, tinha que ser assim. E acabou por nos correr tudo bem hoje, no jogo.
Como se sentiu naquele momento final, em que Alvalade o aplaudiu? Não é normal um treinador ser atirado assim pelos jogadores quando sai a meio da época...
Acima de tudo, agradeci pela vitória. Porque se fosse o resultado ao contrário, o momento não seria tão bonito. Eu tenho noção disso. Não seria tão bonito, seria mais difícil, seria outra coisa. Depois, com a vitória, foi muito bom. Nós tivemos aqui momentos muito marcantes. Há 4 anos, perdemos 4-1 com o LASK e hoje estamos a fazer este resultado. A forma como os jogadores também me levantaram ao ar... deles eu não esperava outra coisa, porque eles sabem o que eu fiz por eles, o que eles fizeram por mim, principalmente disso. É um momento que eu vou guardar para a vida. Hoje, ainda não consigo pesar muito bem as coisas, mas acho que merecíamos todos ter um momento assim. Volto a dizer, estava escrito que tínhamos que nos despedir assim de Alvalade. Foi um momento marcante.Não foi o melhor momento em Alvalade. O melhor momento em Alvalade, volto a dizer, foi quando perdemos 5-0 com o Manchester City e toda a gente aplaudiu no fim. Isso é muito mais marcante do que ganhar, porque a ganhar, toda a gente aplaude. Foi um momento marcante e vai comigo para o resto da vida.
Tem um filho pequeno que é do Sporting. Como é que está a ser este momento? Além disso, gostaria de agradecer a forma como, ao longo destes anos, tratou os jornalistas, sempre com respeito.
Eu fico muito feliz por estas palavras. Eu também acho que vocês me trataram sempre com respeito, foram sempre justos comigo e, portanto, foi algo recíproco. Respeitaram-me sempre, foram justos, tiveram que criticar quando tiveram que criticar. Eu acho que foi ali um equilíbrio e nem sempre há um equilíbrio. Às vezes, a culpa não é vossa, outras vezes vocês também não tiveram certos equilíbrios. Pelo menos é o que me parece a mim. É verdade, o meu filho é do Sporting e, portanto, vai continuar a ser. E quando tivermos que vir a Alvalade, pagamos o nosso bilhete e vamos para a bancada ver o jogo. Ele está muito feliz pelo que viveu. Vai viver uma aventura nova. Também faz bem. Em relação aos adeptos, o que eu tentei fazer por eles, eles também fizeram por mim. Marcaram a minha vida. Foi o melhor período da minha vida. Portanto, seguimos em frente. Obrigado a todos eles.
Já se sente o melhor treinador da história do Sporting? Quão pesada fica a herança para quem vier a seguir?
É sempre difícil substituir um treinador, seja ele qual for, quando se está a ganhar. Eu acho que é muito mais difícil. Mas o treinador que vier terá uma herança boa, porque tem gente muito boa a trabalhar com ele. Tem um ambiente no estádio muito bom. Está no play-off. Eu sei que a exigência torna tudo muito difícil, mas terá muita gente a apoiá-lo. E ele nunca se vai sentir sozinho. Isso foi muito importante para mim. Eu nunca me senti sozinho cá. Também com o presidente, mas principalmente com o Viana. Isso ajudou muito. Ele terá outras pessoas para o ajudar nisso. Acima de tudo, vai ter um clube estruturado, que ganhou nos últimos anos, muito apoio das bancadas e um público inteligente, que vai perceber que vai precisar de alguma afinação, que às vezes as coisas não são de um momento para o outro. Tenho a certeza que os adeptos vão dar tempo ao próximo treinador. Acima de tudo, é uma das melhores fases do Sporting. Portanto, eu não quero dizer [que é o melhor treinador da história do Sporting], porque isto é um trabalho global. É de muita gente. Foi um momento difícil, passámos por muito, mas depois entrámos num momento em que toda a gente puxava para o mesmo lado e isso ajudou muito. Portanto, tive a ajuda de muita gente. Digamos que eu pertenci a um dos melhores momentos da história do Sporting.
Depois desta vitória, não fica um sentimento que era possível ir ainda mais à frente com o Sporting? Já leva informações daqui para quando defrontar o Manchester City?
Nós somos uma equipa portuguesa que teve muitas dificuldades e mudámos de plantel nestes quatro anos. Estão dois ou três jogadores do primeiro plantel, se calhar, que defrontou essa equipa do Manchester City. E é-nos permitido jogar desta maneira, ou seja, esperar pelo adversário, transições e etc.. Quando estiver no próximo clube, a dimensão é completamente diferente e temos que ter uma abordagem completamente diferente. Portanto, não se leva assim tanto, obviamente que, de perto, consigo perceber melhor as dinâmicas da equipa - se isso é possível, porque há muitas variações -, mas não se leva muito daqui. Ou seja, o embate tem que ser diferente, temos de jogar de forma diferente, principalmente no futuro. Se calhar, no futuro imediato, não tanto, mas no futuro não podemos ter este comportamento. São clubes históricos os dois [Man. City e Man. United], que lutam pelos mesmos objetivos e temos que ter uma abordagem diferente. Será um jogo completamente diferente. Nós crescemos ao longo destes dois anos, mas, olhando para o jogo, tivemos sorte e da outra vez tivemos um bocadinho de azar. Nas primeiras quatro vezes que o Manchester City foi à baliza, fez golo. Este ano, estiveram lá ao pé, o Franco a defender as bolas, nós quase não conseguimos nem ter a bola e o jogo mudou. Somos muito melhor equipa, mas olhando para este jogo, o que mudou foi a sorte e isso conta muito do futebol, este jogo caiu para nós. Nós temos que fazer decisões, eu estou muito ciente da minha. Ficava muito pior se tivéssemos perdido com o Estrela, se tivéssemos perdido hoje e agora vamos ver Braga. Ganhando, ainda me dá mais certezas de que, agora, o clube segue o seu caminho, Eu sigo o meu, estou claramente certo porque pensei bastante no caminho que tomei.
Esta equipa já ganhou maturidade para não precisar de Rúben Amorim?
Quando olho para a equipa, eu preciso mais deles do que eu de mim, eu vou para uma coisa mais incerta do que eles. Eles estão bem, já estão no play-off, portanto o primeiro objetivo já está. Quero acabar, pelo menos, despedindo-me em primeiro lugar, isolado, que é ganhando em Braga. Portanto, eles estão mais que preparados para viver sem o treinador, isto acontece e eles vão seguir o seu caminho.
Estreou-se em Alvalade há quatro anos e meio. O que é que mudou no Sporting? Essas mudanças vão manter-se, para lá das saídas de Rúben Amorim, Hugo Viana ou jogadores?
Eu falei disso antes de sequer se falar na minha saída. O clube está estruturado, há um modelo, há uma ideia. As empresas e os clubes são os recursos humanos, pode-se ter as melhores máquinas e etc, mas os recursos humanos é que contam. O plantel está valorizado, temos isso. Quem entrar aqui, de certeza que vai ser um excelente treinador, vai ter o apoio do presidente, vai ter o apoio da estrutura. O departamento de performance mantém-se, o departamento médico mantém-se, tudo isso mantém-se e, portanto, o clube está preparado para dar o passo seguinte. Já aconteceu em tantos clubes, o clube vai seguir o seu caminho sem qualquer problema. Foi um longo caminho que construímos e usámos este caminho para construir todas estas bases, para o clube não depender de uma pessoa ou de outra. Vai ficar tudo bem.
Se o Sporting for campeão, virá ao Marquês? Gonçalo Inácio está apto para o jogo com o SC Braga?
Estamos a tentar. Não vamos arriscar o Inácio, mas estamos a tentar que esteja apto. Vou ter sempre uma ligação especial pelo clube. Nunca pensei dizer isto... mas vou ser sempre do Sporting. Obviamente que não venho ao Marquês, já vou obrigado como treinador. Gosto muito do momento, mas não sou muito de festasa. Obviamente, não vou ao Marquês. Vou ficar muito feliz por eles, pelo novo treinador, pelo presidente, pelo Viana, por todo o staff. É como se estivesse lá, mas obviamente não vou ao Marquês.
O que quer dizer a Manchester, depois de uma noite como a de hoje?
Eu já o disse anteriormente, nós não podemos transportar uma realidade para a outra. O Manchester United não pode jogar assim, não pode jogar tão defensivamente. Aqui, temos que nos adaptar. É muito difícil bater esta equipa, e vocês estão só a picar Pep Guardiola, o que vai ser pior para mim... Isto não quer dizer nada, vai ser um mundo completamente diferente, uma equipa diferente, não vamos ter tempo para treinar. Vamos começar de um ponto de partida diferente. Eu diria às pessoas de Manchester que isto foi um acaso, digamos assim, tivemos a sorte do jogo. Depois, quando lá chegar, farei outras avaliações.
É uma despedida de sonho?
Toda a gente merecia este momento, fomos muito felizes aqui em Alvalade, passámos muitos momentos difíceis e acabar desta maneira, acho que tem um significado especial, mas eu acho que toda a gente mereceu este momento.
Que mensagem envia esta performance para Inglaterra?
É enganadora. Como eu disse, fomos muito fortes hoje no jogo, mas a sensação, com os meus jogadores, que foram muito fortes, a maneira como eles celebraram este vencedor, o momento com os fãs, foi muito especial. Levo isto para a Premier League, quando chegar lá é um mundo diferente, uma pressão diferente. Tentarei ser eu mesmo. Vai ser divertido, muito divertido,e eu estou pronto para o desafio.