Sporting-Man. City. 4-1 «Alô Manchester, agora sim já sabem quem é Amorim…» (crónica)

NACIONAL05.11.202423:45

Sessenta anos depois de um 5-0 ao Manchester United, o Sporting voltou a fazer história em Alvalade, ao golear o Manchester City numa noite mágica, em que o pragmatismo de Amorim levou a melhor sobre o lirismo de Guardiola

Comecemos pelo fim, e pela volta olímpica que marcou o adeus de Rúben Amorim a Alvalade. Se fosse um filme arrebatava todos os Oscares, se fosse uma pintura estava no Louvre, se fosse uma ópera decorreria no Scala de Milão. Sublime, emocionante, avassaladora.

Vamos, então ao jogo, que deve ser dividido em pelo menos quatro partes, do ponto de vista leonino: tremer, sobreviver, acreditar e golear.

TREMER E SOBREVIVER

O Sporting entrou mal no jogo, desconfortável quando o City fazia pressão alta, sem  espaço para ter bola, muito menos para municiar devidamente os avançado. E, para piorar as coisas, logo a abrir, uma perda de bola em zona proibida de Morita para Foden levou a bola ao fundo das redes de Franco Israel. Temeu-se o pior. Enquanto os leões, com o seu sistema habitual, não se libertavam do espartilho do tetracampeão inglês, que trouxe como novidade tática a colocação do alegado defesa direito, Rico Lewis, onde quer que fosse necessário criar superioridade numérica para um tiki-taka que chegou a ter períodos de grande qualidade, o City ia criando ocasiões para ampliar a vantagem, valendo ao Sporting não só a abnegação defensiva da equipa, muitas vezes a ter de optar por soluções menos académicas, e sobretudo de Franco Israel, que com um punhado de paradas de grande valia manteve a desvantagem tangencial. Foram pelo menos 30 minutos de coração nas mãos, apenas com um aviso de Gyokeres aos 8 minutos que, isolado, deu a bola a Ederson. Aliás, a Gyokeres, além do ‘hat-trick’ que a estatística lhe atribuiu, devia ser atribuído mais um golo quando, aos 28 minutos, tirou em cima da linha uma bola cabeceada por Haaland que se encaminhava para o fundo das redes leoninas.

ACREDITAR E GOLEAR

A partir da meia hora de jogo, o City avassalador desapareceu e deu lugar a uma equipa que decidiu descansar com bola e tentar atrair o Sporting. Deu-se mal com a estratégia, porque os leões começaram a carburar com maior normalidade, ensaiaram algumas das rotinas que se lhes conhece, e numa delas, protagonizada por Quenda, com um grande passe, e Gyokeres, com uma finalização soberba, empataram o jogo aos 38 minutos e puderam ir para intervalo com ânimo renovado, enquanto que os ingleses passaram a ser assaltados por algumas dúvidas quanto à sua consistência defensiva.

A segunda parte não podia ter começado melhor para os donos da casa que tiveram a primeira posse de bola. E o que fizeram? Com sete toques, sem que nenhum ‘citizen’ tivesse tocado na bola, Maxi Araujo, a passe de Pedro Gonçalves, bateu pela segunda vez o desamparado Ederson. A ‘remontada’ estava operada e agora era a vez do Manchester City correr atrás do prejuízo. E quando se dispunha a fazê-lo a equipa de Guardiola, aos 49 minutos, levou um verdadeiro direto no nariz, quando, após falta dentro da área de Gvardiol sobre Trincão, novamente após ação de contra-ataque que desbaratou o último reduto do City, Gyokeres bisou, desta vez de penálti.

Com uma vantagem de dois golos, o Sporting juntou imediatamente à frente de uma linha de cinco, defensiva, outros quatro homens, dois deles, Pedro Gonçalves e Trincão, com liberdade para iniciarem ações de contra-ataque tendo Gyokeres como destino final da bola.

O Manchester City tinha o controlo territorial (na primeira parte teve 71 por cento de posse de bola e terminou com 66), mas mostrava muita dificuldade em penetrar na exemplar organização do Sporting. Até que Bernardo Silva, aos 66 minuto rematou, a bola bateu no braço de Diomande e o árbitro apontou para os onze metros. Faltavam 24 minutos para o jogo acabar e um golo do City seria sinónimo de reentrada no jogo. Porém, Erling Haaland, a estrela da companhia, acertou em cheio na trave e Alvalade reagiu como se de um golo de Gyokeres se tratasse. Este lance aziago para os ingleses teve o condão de manter o Sporting focado e concentrado, enquanto que a equipa de Guardiola, a cada minuto que passava, dava sinais de acreditar pouco na possibilidade de ainda sair com um ponto que fosse de Alvalade. E o que os ingleses, que entretanto tinham mandado a jogo Gundogan e Doku e mais tarde Kevin de Bruin, não sabiam era que ainda faltava a cereja no topo do bolo: Genny Catamo, entretanto entrado para a esquerda, roubou a bola a Matheus Nunes e o ex-sportinguista fez falta para penálti que Gyokeres (80) converteu, selando um ‘hat-trick’ histórico, e igualando Osvaldo Silva, que em 1964 também marcara três golos ao United, na caminhada para a conquista da Taça das Taças.

Amorim, que a partir dos 75 minutos (tripla substituição com as entradas de Bragança, St. Juste e Catamo) começou a refrescar a equipa, sem nunca mexer na estrutura, e mais tarde ainda chamou Quaresma e Harder para os lugares dos esgotados Quenda e Trincão, viu o seu plano de jogo, após os solavancos iniciais, correr às mil maravilhas. Era um adeus em glória a Alvalade, à espera de, com esta goleada ao futuro rival de Manchester, ter um cartão de visita ainda mais composto para apresentar aos adeptos dos ‘red devils’.