ENTREVISTA A BOLA Tozé Marreco: «'Marrekovic' ou 'Marrequinho' foi em defesa do jogador português»
Há uns anos, ficou célebre a expressão utilizada pelo antigo ponta de lança, numa altura em que chegavam muitos estrangeiros ao futebol nacional; a explicação é dada na primeira pessoa pelo autor da 'tirada'
Quando, há uns anos, os clubes nacionais decidiram apostar em força nos mercados internacionais, Tozé Marreco, na altura jogador, disse, publicamente, que se tivesse outro nome poderia aspirar a chegar a patamares mais altos. A expressão não foi bem entendida por alguns, mas o agora treinador faz questão de justificar o que disse. Porque, defende, já na altura a sua preocupação era na aposta no jogador português. Algo que agora acontece com (muito) maior regularidade e que o antigo ponta de lança aplaude.
Ainda para mais num mundo tão universal como é, e cada vez mais, o futebol…
Para mim, a comunicação é muito importante para o que queremos passar aos jogadores. Essa parte foi absolutamente decisiva para agora estar mais preparado. Consigo ver os diferentes problemas de jogadores de diferentes nacionalidades. E percebendo o que fiz de mal durante a minha carreira de jogador, evitar transportá-lo para a minha carreira de treinador. Passei por demasiados clubes quando joguei, lá está, e enquanto treinador tenho privilegiado mais a estabilidade, ficando o segundo ano no Oliveira do Hospital e depois também no Tondela.
Marreco é só de nome. Porque dentro dos relvados teve sempre muito golo. Tem saudades desse tempo?
Só tenho saudades de festejar os golos. A exigência e as dores de cabeça de ser treinador não são comparáveis com o que acontece na carreira de jogador. Já tinha essa noção, mas depois de estar deste lado é completamente diferente. Como jogadores conseguimos desligar em muitos momentos. Enquanto treinador é muito difícil, há sempre coisas para preparar. Passo mais horas no meu gabinete do que na minha sala, com toda a certeza. Enquanto jogador foi a carreira possível, com todos os erros que cometi. Em alguns momentos poderia ter tido outro rumo, que não teve, mas é um assunto que está perfeitamente resolvido. A única coisa que tenho, efetivamente, são as saudades de festejar os golos [risos]. Aquela sensação do golo é absolutamente maravilhosa. E então para um ponta de lança, naqueles jogos a ferver, naqueles ambientes fantásticos… Aí bate um pouco a saudade.
Ficou célebre uma expressão sua, há uns anos, em que disse que se se chamasse ‘Marrekovic’ poderia chegar a um clube grande. Ficou a faltar-lhe isso na carreira?
Só as pessoas que perceberam a frase no respetivo contexto é que perceberam o que eu disse e que se comprovou nos anos seguintes: a aposta no jogador português. E está provado que essa aposta dá rendimento, dá dinheiro. Era essa a minha luta na altura. Eu até disse que se me chamasse Marrekovic ou Marrequinho a projeção teria sido outra. Isto era em defesa do jogador português. Tão simples quanto isso. Essa frase foi há 10 ou 11 anos e a aposta no jogador português, a que está a ser feita agora, e bem, é relativamente recente. E vai exatamente ao encontro dessa tese, de que esse era o caminho. Tal como eu defendo agora. Longe de mim dizer que não queremos estrangeiros, muito longe disso, aliás. Só alguma mente mais limitada é que pode tirar essa conclusão. Precisamos de tudo, evidentemente, mas precisamos de formar muito bem o jogador português para o podermos vender. Tal como precisamos de vender o nosso espetáculo de outra forma para haver mais retorno do trabalho dos clubes. E eu continuo a acreditar nisso. Só concebo um clube ligado da cabeça aos pés, desde as escolinhas até à equipa principal, a pensar todo da mesma forma e a trabalhar os meninos e as meninas para o contexto profissional.