E O TREINADOR SOU EU? FC Porto-Benfica: jogar no risco e estar em segurança
Paulo Robles, comentador d'A BOLA DA TV, escreve a sua antevisão tática do clássico
À 28ª jornada, jogo crucial, mas não decisivo para aquilo que faltará completar nesta edição 24/25 da Liga Portugal. De um lado, a equipa da casa que vem de 2 jogos seguidos a ganhar, que só deve ganhar para se aproximar dos lugares da frente; por outro lado, uma equipa, a visitante, que se recolocou, há bem pouco tempo, no 1º posto da tabela classificativa e que não pode nem deve perder, sob o risco de depender em demasia do jogo referente à penúltima jornada, frente ao Sporting.
Diogo Costa, Francisco Moura, Nehuén Pérez, Eustáquio, Marcano, João Mário, Fábio Vieira, Varela, Pepê, Samu, Mora parece ser o mais que provável 11 inicial de Martín Anselmi. O treinador terá a cabeça virada para, dentro do seu modelo jogo, ajustar e adaptar, no sentido de rentabilizar as suas peças, para poder fazer xeque-mate ao adversário. Que princípios a considerar?
A construção de jogo a partir da sua grande área parece estar finalmente em modo equilíbrio. O regresso de Marcano parece ser um fantástico indicador para tornar o jogo dúbio para com o seu adversário. A qualidade de saída obriga a que o Benfica tenha especiais preocupações no espaço de circulação de bola do FC Porto, fundamentalmente no e pelos corredores laterais. Qualquer que seja o jogador encarnado que joga nesse espaço, terá sempre uma dificuldade, pois terá de cobrir o espaço por “fora” e também o espaço interior, em todas as suas ações de pressão, dificultando a ação de desarme.
Como tentar explorar um debilitado Tomás Araújo ou um esquerdino a jogar na lateral direita (Dahl) ? Anselmi apostará em Francisco Moura e Rodrigo Mora sobre esse espaço, ganhando regularidade e consistência no posicionamento destes dois jogadores, causando dúvidas na marcação, jogando um por fora e outro por dentro. Terá Pepê um papel importante no desenrolar da partida, no sentido em que, ao ser hipoteticamente colocado nesse espaço, por troca com Mora, o jogo do FC Porto tenderá a ficar mais forte em profundidade. Profundidade essa, vertiginosa e perigosa, para poder explorar ainda mais as dificuldades físicas de Tomás Araújo.
Colocar Fábio Vieira numa zona próxima de Alan Varela tem tido um duplo efeito: o de garantir maior capacidade de o FC Porto jogar por dentro e o de ocupar um espaço próximo de Samu, no espaço central, onde o remate de meia distância se revela uma ótima ferramenta para tentar alvejar a baliza de Trubin. A atacar, o meio-campo do FC Porto fará a equipa jogar à largura e terá em Mora e Pepê eixos importantes para a equipa chegar à frente através de espaços mais interiores. Olhando ao meio-campo do Benfica, a colocação esperada de Florentino, Kokçu e Aursnes fará com que o meio-campo do FC Porto tenha precauções acrescidas, não só criando superioridade numérica defensiva, recuando Pepê e Mora, como também colocando João Mário e Moura com atenção extra para fechar mais dentro, sobretudo no setor central. É um espaço decisivo na gestão de qualquer jogo, ainda para mais este, no Dragão, onde ambos os treinadores gostam de atrair o adversário para depois conseguir jogar por dentro.
O jogo do FC Porto, atualmente, é um jogo de risco, sobretudo em espaços mais recuados. No 1/3 final de campo, as dinâmicas carecem ainda de maior nível de desenvolvimento e especialização. Ora a criatividade de Mora e Pepê no 1x1, ora os cruzamentos para Samu, são as armas mais evidentes no momento de organização ofensiva. Sendo regular e contínua, esta procura do FC Porto por estas situações, a equipa deverá demonstrar a criatividade necessária, nos caminhos que percorre até chegar a essas situações. Anselmi procurará manter esta dúvida nos caminhos, nas cabeças dos jogadores do adversário. Como? Promovendo decisões corretas na leitura do espaço e das situações de superioridade numérica, no centro do jogo, isto é, no local onde se encontra a bola.
Perceber os momentos de jogo será crucial na gestão deste encontro. A procura pelos 3 pontos não pode ser cega, e isso quer dizer que a equipa tanto deverá preparar-se para defender com uma linha de 5, como estar em meio-campo ofensivo com uma linha de 5 na frente. Esta compreensão de acelerar e desacelerar o jogo atrairá o Benfica para uma pressão mais alta, no sentido de se sentir tentado a ganhar a bola mais a frente. A consequência será o FC Porto conseguir descortinar espaço para Mora e Samu poderem fazer as combinações no espaço em profundidade, que tanto gostam de aproveitar.
Deve a equipa do FC Porto ter a lição bem estudada na relação risco e segurança, isto é, existem zonas e momentos do jogo que a equipa deverá assumir claramente o jogo, correndo risco total, no sentido em que o afastamento de jogadores do FC Porto promove a ocupação racional do campo dificultando a marcação mas origina a que um erro técnico possa ser aproveitado pelo adversário, sobretudo nos momentos de transição ofensiva.