ENTREVISTA A BOLA «Temos o modelo para voltar à 1.ª Liga; os sócios do Belenenses decidirão!» (vídeo)
Patrick Morais de Carvalho, presidente dos azuis do Restelo, faz balanço de dez anos de liderança e aponta ao futuro
Passaram dez anos desde que Patrick Morais de Carvalho assumiu a presidência do clube do Restelo. Dez anos marcados por intensa guerra jurídica com a B-SAD – que venceu – e na aposta em começar do zero, com a descida ao sétimo escalão do futebol português. Após cinco subidas consecutivas, chegou à profissional Liga 2, mas está em risco de cair, de novo, na 3. Nada que demova o líder dos azuis de apontar à criação de uma nova SAD e à chegada à 1.ª Liga até 2027/28.
– Que balanço faz desta década de liderança do Belenenses, marcada pela intensa guerra jurídica com a SAD e pelo caminho desde a 3.ª divisão distrital à Liga 2, com subidas consecutivas de escalão?
– Um balanço muito positivo. O caminho que o Belenenses fez desde que em 2018 se separou da B-SAD é único e deve ser valorizado como história única e irrepetível. Reerguemos o clube e afastámos as ameaças de insolvência técnica que pairavam. De 2014 até agora, destaco, no plano financeiro, o pagamento integral do nosso PER, de todas as dívidas à Autoridade Tributária e à Segurança Social, da totalidade da dívida dos 6 milhões de euros ao BANIF que vinha de 2007 e, sobretudo, o pagamento, sempre no mês respetivo, dos salários de trabalhadores, colaboradores, atletas e técnicos – havia 22 meses de atrasos quando chegámos… E ainda o levantamento de todas as penhoras e hipotecas voluntárias e legais que incidiam sobre o nosso património e eram uma séria ameaça ao futuro. Por fim, o facto de durante 9 temporadas consecutivas termos apresentado sempre contas positivas.
– E no plano desportivo, que balanço faz?
– Falaria do desportivo e social, destacando o resgate da nossa identidade coletiva, do Campo das Salésias e a recuperação do comando da nossa equipa de futebol sénior e da nossa história com as sucessivas vitórias judiciais sobre a B- SAD. E, claro, as cinco subidas consecutivas de divisão até aos profissionais. Parece fácil, mas é algo muito difícil. Veja-se o Alverca que, com enormes orçamentos, estava há 19 anos a lutar para subir à Liga 2. Destacaria, também, o aumento do número de sócios, que já são mais de 11 mil, e o aumento exponencial de atletas em todas as modalidades, que já ultrapassam os 2200 no Restelo e 1500 fora. Mas, acima de tudo, a devolução do clube e do nosso futebol profissional aos sócios. Hoje é deles o poder sobre os destinos do clube.
– Com a época 2023/24 a chegar ao fim e perante eventual descida à Liga 3, que visão tem para o futuro?
– Fecha-se esta época um ciclo de refundação do nosso futebol sénior. Só agora somos donos e senhores a 100 por cento da nossa equipa, sem qualquer tipo de incerteza jurídica, política, social e desportiva. Na minha visão, o Belenenses deve continuar a fazer uma caminhada que o distinga dos demais clubes. Pela sua grandeza desportiva e envolvência social, o Belenenses tem de ter sempre uma SAD própria onde seja maioritário. A nossa honra e a nossa dignidade não se vendem e não podemos ter memória curta.
– Está então satisfeito com a constituição de uma SDUQ – logo 100% detida pelo clube?
– Foi o possível e foi o correto. O Belenenses subiu mais rápido do que pôde modernizar-se, durante uma pandemia que condicionou duas épocas desportivas. Mais: a decisão judicial que confirmou a legitimidade da nossa separação da B-SAD também tardou a sair, e, juntando tudo, é justo dizer que não havia tempo para, logo em junho de 2023, perseguirmos com segurança o que acredito ser o modelo próximo do ideal para o Belenenses.
– E que modelo é esse?
– Com o modelo de SDUQ, detida a 100% pelo Belenenses, sabíamos que esta iria ser uma época tremendamente difícil. Conhecemos muito bem a realidade da Liga 2, dos investimentos megalómanos que estão a ser feitos e por isso advertimos que não havia condições para mais do que a luta pela permanência. Mas, com vários avisos à navegação, muita gente não quis entender e houve expectativas desajustadas. E eu entendo. Não gosto de perder, somos um clube de vitórias. Mesmo assim, com todas as dificuldades, construímos um plantel que, com uma pontinha de sorte, poderia ter hoje mais 7 ou 8 pontos (basta pensarmos nos jogos em casa com Porto B, Mafra, Tondela, Leixões e Paços de Ferreira e fora com o Feirense e com o Leiria). Lembro também que somos a única equipa da Liga 2 que não teve um único penálti a favor e tivemos seis decisões dessas com intervenções do VAR. Nem um. Em suma, para conseguir mais do que só a luta pela permanência, temos de seguir com um modelo diferente.
– Por isso, insisto: que modelo diferente é esse?
– A grande questão a que temos de responder é: como vamos pôr de novo o Belenenses na Primeira Liga, mantendo o seu ecletismo e sendo equilibrado financeiramente? Temos um plano estratégico e uma visão, que terá de ser partilhada por todos, que nos permitirá que o mais tardar na época de 2027/28, o ano zero do futebol português com centralização dos direitos audiovisuais, o Belenenses esteja no lugar que é seu por direito natural que é estar firme nos campeonatos profissionais e de preferência na 1.ª Liga. Os sócios decidirão.