«Temos de constituir uma SAD e abri-la investidores minoritários» (vídeos)
Patrick Morais de Carvalho, presidente do Belenenses (foto Imago)

ENTREVISTA A BOLA «Temos de constituir uma SAD e abri-la investidores minoritários» (vídeos)

NACIONAL09.05.202415:40

Patrick Morais de Carvalho, presidente do Belenenses, faz balanço de dez anos de liderança e aponta ao futuro

– O seu plano passa por transformar a SDUQ em SAD?

– Temos de ter um caminho, que os sócios validem, que permita ao clube regressar à Liga 1 o mais tardar até 2027/28, época em que está prevista a centralização dos direitos TV. Mas isto sem entrar aqui alguém que com falinhas mansas e que de forma ardilosa entregue de novo o controlo do futebol ao primeiro que aqui apareça a acenar com um saco de notas. O Belenenses tem sempre de manter uma posição maioritária e a liderança da SAD que criar, sendo esta uma linha vermelha que não pode nunca aceitar ultrapassar. Portanto, sim, o Belenenses tem de transformar a SDUQ numa SAD e abri-la a investidores minoritários, capazes de ajudar a dinamizar e a profissionalizar o clube para chegarmos ao nosso objetivo. Temos de conseguir atrair gente credível, com valências complementares àquelas que já temos e que traga capital sério e escrutinado.

– E os sócios estarão dispostos a apoiar a sua visão?

Durante muito tempo, nos últimos 5 anos, os sócios que fizeram o caminho das pedras ao nosso lado estavam muito orgulhosos do que fizemos. Ultimamente alguns mostram sinais de impaciência e querem chegar rapidamente à Liga 1. E muitos dizem: nem que para isso seja preciso vender de novo a alma ao diabo. Discordo completamente. Um clube como o Belenenses tem que ser sempre maioritário na sua SAD e não pode vender a alma ao diabo.

Um clube como o Belenenses tem de ser sempre maioritário na sua SAD e não pode vender a alma ao diabo

– E porque defende isso?

Aceito as opiniões, mas bater-me-ei sempre com todas as minhas forças contra a perda do controlo maioritário na SAD. Esse seria um caminho trágico e muito incoerente, depois de tudo o que passámos. Por isso, vou perguntar aos sócios o que querem fazer e como. Defenderei sempre que o Belenenses tem de estar lá em cima, na 1.ª Liga e nos lugares cimeiros. E essa visão e plano não podem mudar em função de estarmos, em 2024/25, na Liga 2 ou na Liga 3. Apesar de o meu mandato terminar em 2026, temos de ter uma visão estruturada, ambiciosa e, sobretudo, sustentável.

– O que tem o Belenenses para oferecer a investidores minoritários?

– Tem o que mais ninguém tem em todo o Mundo. Desde logo alavancas, de bens e valores intangíveis, mas de grande peso, como a história de um dos campeões nacionais ou como o facto de ser um clube com implantação nacional e reconhecido internacionalmente. Quantos gigantes de um país optaram por cortar com quem lhes fazia mal e ir ao sétimo escalão? As marcas cada vez mais procuram associar-se a valores e os que o Belenenses consolidou nesta caminhada são únicos. Depois, temos o nosso estádio, o mais bonito do Mundo e com uma localização ímpar e temos a força da nossa massa associativa e o nosso ecletismo.

E que podem esses investidores dar ao Belenenses?

Aquilo que nós não temos capacidade de fazer sozinhos: ajudar-nos na profissionalização de diversos setores e trazer-nos conhecimento em áreas a desenvolver, como a financeira, comercial, recursos humanos, marketing, transformação digital, a internacionalização da marca, etc.

Patrick Morais de Carvalho durante a entrevista a A BOLA (foto Miguel Nunes)

«Seremos a primeira SAD a distribuir dividendos regularmente»

Como terão os investidores retorno?

Os investidores terão de ser de médio e de longo prazo. A nossa ideia é sermos a primeira SAD em Portugal a distribuir dividendos regularmente. Evidente que não será nos primeiros 3 ou 4 anos, mas a partir daí terá de o fazer com regularidade. Esse é um ponto de compromisso e de honra do nosso projeto. Será uma prova para fundistas e não para velocistas.

Já há contactos com interessados…

Todos as semanas, desde a quebra com a SAD em 2018, chegam-nos pedidos para conversar por parte de consultores, advogados, comissionistas, investidores diretos. Muitos dizem ter milhões para investir, acham que chegam aqui e compram uma fábrica de futebol, que ficam com 80 a 90% das ações, que fazem o que quiserem e que o clube ter sócios é indiferente. Não questiono as intenções e tão pouco a seriedade, mas não são os parceiros que procuramos. O desafio do Belenenses é, como disse, identificar quem pense como nós e queira caminhar ao nosso lado.

– Mas já há parceiros/investidores em vista?

Temos dois possíveis parceiros que consideramos muito interessantes e com quem temos vindo a conversar e a reunir nos últimos tempos. Se vamos chegar a um acordo, não consigo antecipar. No tempo certo, teremos uma ou duas AG informativas para os sócios poderem estudar e pensar sobre o assunto e só depois haverá uma AG para votação do que houver a votar. Importante é que, independentemente de estarmos na Liga 2 ou na Liga 3, há um rumo e estamos a trabalhar nele. É preciso paciência e resiliência, porque a velocidade nestas coisas costuma ser inimiga. Se os sócios terão essa paciência, também não consigo antecipar.

Os sócios terão portanto peso na decisão?

Obviamente! Os sócios serão envolvidos na discussão estratégica, pois qualquer decisão terá de ser compreendida e aceite. Modéstia à parte, depois de tudo o que passámos nos últimos 5 anos, depois de todo o conhecimento que fomos obrigados a adquirir devido às batalhas judiciais que tivemos de travar, considero que dificilmente se poderia encontrar pessoas mais conhecedoras e capazes do que a equipa que dirijo para fazer aquilo que tem de ser feito no Belenenses. Mas os sócios terão de estar sempre no centro das nossas decisões.