ENTREVISTA A BOLA «Temos de constituir uma SAD e abri-la investidores minoritários» (vídeos)
Patrick Morais de Carvalho, presidente do Belenenses, faz balanço de dez anos de liderança e aponta ao futuro
– O seu plano passa por transformar a SDUQ em SAD?
– Temos de ter um caminho, que os sócios validem, que permita ao clube regressar à Liga 1 o mais tardar até 2027/28, época em que está prevista a centralização dos direitos TV. Mas isto sem entrar aqui alguém que com falinhas mansas e que de forma ardilosa entregue de novo o controlo do futebol ao primeiro que aqui apareça a acenar com um saco de notas. O Belenenses tem sempre de manter uma posição maioritária e a liderança da SAD que criar, sendo esta uma linha vermelha que não pode nunca aceitar ultrapassar. Portanto, sim, o Belenenses tem de transformar a SDUQ numa SAD e abri-la a investidores minoritários, capazes de ajudar a dinamizar e a profissionalizar o clube para chegarmos ao nosso objetivo. Temos de conseguir atrair gente credível, com valências complementares àquelas que já temos e que traga capital sério e escrutinado.
– E os sócios estarão dispostos a apoiar a sua visão?
– Durante muito tempo, nos últimos 5 anos, os sócios que fizeram o caminho das pedras ao nosso lado estavam muito orgulhosos do que fizemos. Ultimamente alguns mostram sinais de impaciência e querem chegar rapidamente à Liga 1. E muitos dizem: nem que para isso seja preciso vender de novo a alma ao diabo. Discordo completamente. Um clube como o Belenenses tem que ser sempre maioritário na sua SAD e não pode vender a alma ao diabo.
Um clube como o Belenenses tem de ser sempre maioritário na sua SAD e não pode vender a alma ao diabo
– E porque defende isso?
– Aceito as opiniões, mas bater-me-ei sempre com todas as minhas forças contra a perda do controlo maioritário na SAD. Esse seria um caminho trágico e muito incoerente, depois de tudo o que passámos. Por isso, vou perguntar aos sócios o que querem fazer e como. Defenderei sempre que o Belenenses tem de estar lá em cima, na 1.ª Liga e nos lugares cimeiros. E essa visão e plano não podem mudar em função de estarmos, em 2024/25, na Liga 2 ou na Liga 3. Apesar de o meu mandato terminar em 2026, temos de ter uma visão estruturada, ambiciosa e, sobretudo, sustentável.
– O que tem o Belenenses para oferecer a investidores minoritários?
– Tem o que mais ninguém tem em todo o Mundo. Desde logo alavancas, de bens e valores intangíveis, mas de grande peso, como a história de um dos campeões nacionais ou como o facto de ser um clube com implantação nacional e reconhecido internacionalmente. Quantos gigantes de um país optaram por cortar com quem lhes fazia mal e ir ao sétimo escalão? As marcas cada vez mais procuram associar-se a valores e os que o Belenenses consolidou nesta caminhada são únicos. Depois, temos o nosso estádio, o mais bonito do Mundo e com uma localização ímpar e temos a força da nossa massa associativa e o nosso ecletismo.
– E que podem esses investidores dar ao Belenenses?
– Aquilo que nós não temos capacidade de fazer sozinhos: ajudar-nos na profissionalização de diversos setores e trazer-nos conhecimento em áreas a desenvolver, como a financeira, comercial, recursos humanos, marketing, transformação digital, a internacionalização da marca, etc.
«Seremos a primeira SAD a distribuir dividendos regularmente»
– Como terão os investidores retorno?
– Os investidores terão de ser de médio e de longo prazo. A nossa ideia é sermos a primeira SAD em Portugal a distribuir dividendos regularmente. Evidente que não será nos primeiros 3 ou 4 anos, mas a partir daí terá de o fazer com regularidade. Esse é um ponto de compromisso e de honra do nosso projeto. Será uma prova para fundistas e não para velocistas.
– Já há contactos com interessados…
– Todos as semanas, desde a quebra com a SAD em 2018, chegam-nos pedidos para conversar por parte de consultores, advogados, comissionistas, investidores diretos. Muitos dizem ter milhões para investir, acham que chegam aqui e compram uma fábrica de futebol, que ficam com 80 a 90% das ações, que fazem o que quiserem e que o clube ter sócios é indiferente. Não questiono as intenções e tão pouco a seriedade, mas não são os parceiros que procuramos. O desafio do Belenenses é, como disse, identificar quem pense como nós e queira caminhar ao nosso lado.
– Mas já há parceiros/investidores em vista?
– Temos dois possíveis parceiros que consideramos muito interessantes e com quem temos vindo a conversar e a reunir nos últimos tempos. Se vamos chegar a um acordo, não consigo antecipar. No tempo certo, teremos uma ou duas AG informativas para os sócios poderem estudar e pensar sobre o assunto e só depois haverá uma AG para votação do que houver a votar. Importante é que, independentemente de estarmos na Liga 2 ou na Liga 3, há um rumo e estamos a trabalhar nele. É preciso paciência e resiliência, porque a velocidade nestas coisas costuma ser inimiga. Se os sócios terão essa paciência, também não consigo antecipar.
– Os sócios terão portanto peso na decisão?
– Obviamente! Os sócios serão envolvidos na discussão estratégica, pois qualquer decisão terá de ser compreendida e aceite. Modéstia à parte, depois de tudo o que passámos nos últimos 5 anos, depois de todo o conhecimento que fomos obrigados a adquirir devido às batalhas judiciais que tivemos de travar, considero que dificilmente se poderia encontrar pessoas mais conhecedoras e capazes do que a equipa que dirijo para fazer aquilo que tem de ser feito no Belenenses. Mas os sócios terão de estar sempre no centro das nossas decisões.