Schmidt em xeque: como o Rio Ave quase deu a volta ao Benfica na Luz
Forma apresentada por Luís Freire recuperou problemas antigos aos encarnados; João Neves desbloqueou a equipa nos dois primeiros golos; expulsão decisiva
O Benfica sofreu bastante para dar a volta ao Rio Ave neste domingo no Estádio da Luz. Trubin fez intervenções decisivas e os vilacondenses não conseguiram tirar, por duas vezes, do seu caminho os postes da baliza à guarda do ucraniano.
O técnico Luís Freire reclamou que a sua equipa tinha sido a melhor em campo e, na verdade, se contabilizarmos as iniciativas ofensivas e as oportunidades até à expulsão de Aderllan restam poucas dúvidas sobre a veracidade da afirmação. Depois, com mais um em campo, os encarnados não só confirmaram a reviravolta como conseguiram chegar mesmo à goleada.
Estrategicamente, como é que o Rio Ave, 15.º classificado da Liga, esteve quase a dar a volta ao Benfica na Luz?
Primeiro, não teve medo. Não só de ter a bola como também de tornar o jogo incómodo para os encarnados, que não gostam de ser pressionados.
O conjunto de Luís Freire teve coragem na forma como subiu, de forma compacta, as linhas – privilegiando o bloqueio às ligações por dentro por parte do adversário –, levando também consigo o posicionamento do último setor até ao limite, sempre que sentia a oportunidade: assim que a bola que entrava no lateral, empurrando-o contra os limites do campo; quando o central demorava a controlar uma bola mais quadrada; e no momento em que Di María já recebia vigiado e de costas para a baliza rival, forçando-o a ver apenas o passe para alguém do duplo pivot. Encurtava ainda perante Arthur Cabral e Rafa, e montava o cerco a João Neves, que ainda nem sempre se livra da bola no tempo certo (e, paradoxalmente, foi decisivo no 1-1, ao encontrar Rafa e mais tarde novamente no 2-1). A teia estava bem montada.
Sempre com distâncias muito curtas entre as várias unidades, o Rio Ave manteve o Benfica à distância. Com a equipa bem colocada à frente, também a reação à perda se tornou eficaz.
Com a bola nos pés, os homens de Luís Freire nunca perderam a calma. A saída a três, com o guarda-redes Jhonatan como unidade extra, recuperou problemas antigos das águias. Se Cabral e Rafa estavam logo em inferioridade numérica na primeira onda de pressão – Benfica enfrenta a saída contrária em 4x4x2 –, João Mário também era apanhado a meio-caminho, libertando-se Josué pela direita, com Costinha projetado e sempre com um apoio por dentro: Amine ou Guga, até o próprio Joca. O Benfica partia-se em dois defensivamente e o Rio Ave conseguia chegar a momentos de finalização com relativa facilidade.
A saída pela direita dava gás a um dos laterais mais verticais da Liga: Costinha, que procurava o espaço entre centrais e guarda-redes nos cruzamentos. Além disso, com as duas equipas inclinadas para esse lado, quando a bola chegava a Fábio Ronaldo na esquerda este podia vir para dentro e tentar o 1x1.
Os golos tiveram efeito tranquilizador para ambos os conjuntos. O Rio Ave tinha a prova de que a estratégia resultava e obrigava Trubin a esforçar-se, e os encarnados, que tinham chegado ao empate quase sem o merecerem numa transição ofensiva rápida inventada por João Neves, acabaram por sustentar aí algum crescimento até ao intervalo, com uma ou outra jogada mais interessante.
A segunda metade trouxe duas bolas ao poste separadas por poucos minutos, e o Benfica demorou a encontrar-se. Tentou com trocas de bola quase estéreis recuperar ânimo – e esquecer algum eventual cansaço pelo jogo a meio da semana com o SC Braga, intensificado com o facto de estar agora sempre a correr do ataque para a defesa e da defesa para o ataque –, assentar posicionalmente e empurrar os vilacondenses para trás, todavia só com a expulsão de Aderllan e o 2-1, três minutos depois, a equipa de Roger Schmidt sentiu que tinha ultrapassado o pesadelo.
Destaque-se a dupla recuperação de bola de João Neves, primeiro pelo ar, depois à flor da relva, que originou o confuso lance que terminou com o remate certeiro de António Silva. O jovem médio é, cada vez mais, o jogador mais influente dos encarnados – Rafa tem-se destacado, nesta fase, na reta final das jogadas, mas há um caminho percorrido até aí, com muitas pegadas do jovem –, embora ainda não seja, naturalmente, um produto final.
A partir do 2-1, o jogo já não teve história, com Marcos Leonardo a juntar um bom golo à estreia e João Mário a corresponder à trivela de Rafa, garantindo uma goleada bastante mentirosa.
A questão da saída a três por parte dos rivais deverá naturalmente preocupar Roger Schmidt para que não volte a ser surpreendido. Ainda mais quando a forma como pressiona não tem tido a compacidade da época passada.