Reportagem Racing Power: elas vieram para ficar!
Fundado em 2020, clube da Margem Sul chegou à Liga BPI em três anos; Diretora desportiva, Mariana Duarte, recorda trajeto; Ambição não tem limites e o título é o objetivo- para já, há a final da Taça de Portugal, no domingo, frente ao Benfica
A criação do Racing Power resulta de um projeto levado a cabo por três amigos e pais de jogadoras de futebol: Nuno Painço, Ismael Duarte e Pedro Sebastião. A história leva-nos até ao final da temporada 2019/2020.
«Isto nasce um bocado por minha causa. Eu e mais duas companheiras de equipa jogávamos no Paio Pires [AF Setúbal], e, no período de transição para o futebol sénior, o clube não tinha esse escalão. Por isso, o meu pai e os amigos resolveram criar um clube de futebol do zero», recorda Mariana Duarte, atual diretora desportiva do clube e filha de Ismael, o principal investidor e CEO da empresa RPower Energy Drink, em conversa com A BOLA, revelando que, inicialmente, optou por deixar os relvados para focar-se nos estudos. No ensino superior, tirou a licenciatura em Geografia, mas o bichinho do futebol voltou a chamá-la, agora para desempenhar funções na estrutura do clube do pai.
«Senti que era importante haver alguém que pudesse ser um elo entre as jogadoras e a Direção, até porque as mulheres não são fáceis e eu podia ajudar nesse processo de recrutamento», conta.
Nesta aventura, Mariana salienta as dificuldades que foram surgindo pelo caminho. «Era tudo novo. Fomos obrigados a perceber como se faziam as coisas, desde a logística diária a casas para atletas. Tivemos de recrutar jogadoras, sobretudo no estrangeiro, quando começámos na 3.ª Divisão, muitas delas provenientes da América Latina e Estados Unidos, porque a jogadora portuguesa de qualidade é rapidamente captada pelos tradicionais grandes e não só. Mesmo os clubes com menor dimensão estavam em patamares competitivos superiores ao nosso. Ainda assim, tivemos sucesso imediato com à subida à Liga 2. Nessa divisão, vivemos um azar na reta final com alguns resultados negativos e acabámos por não subir de divisão. O meu pai e o presidente talvez não concordem com esta visão, mas não estávamos preparados para subir e foi muito importante para nós vivermos aquele segundo ano na segunda divisão. Fez-nos muito bem para o nosso crescimento», admite Mariana Duarte.
O tempo acabou por dar razão à diretora: com a entrada de João Marques para o comando técnico, o Racing Power chegou à Liga BPI e não fez má figura no ano de estreia, com um histórico terceiro lugar alcançado, além de uma meia-final da Taça da Liga e a final da Taça de Portugal, na qual irá discutir o troféu com o tetracampeão Benfica.
«Não estávamos preparados para tanto. Mas as coisas acontecem e temos de adaptar-nos à realidade. Mais uma vez, parece que algo divino protege este projeto. A poucas jornadas do fim, estávamos perto do 2.º lugar, detido pelo Sporting, que garantiria uma presença na Liga dos Campeões. Se tivéssemos chegado a essa posição, era um passo muito grande para nós e, porventura, não tínhamos condições. O terceiro lugar já é algo fantástico para um clube com apenas quatro anos de existência. No domingo, a final da Taça é um prémio por todo este trajeto e vamos desfrutar», defende a dirigente, que estará acompanhada pelo pai nas bancadas do Estádio Nacional. «Ele foi operado há pouco tempo, mas quer estar presente. Está sempre a ver futebol feminino, até mais do que o masculino. Ganhou uma paixão pelo futebol jogado por mulheres e não está neste meio apenas pelo negócio», conta, orgulhosa.
Se o presente já é risonho, quais são os planos para o futuro? Mariana Duarte responde: «Nos últimos anos, andámos com a casa às costas [treina e joga esta temporada no Estádio Nacional], mas queremos mudar isso com a criação do nosso centro de estágio. Estamos em conversações com várias câmaras municipais que se mostraram disponíveis para nos acolher. As coisas estão a avançar, mas há burocracias para tratar, que demoram, naturalmente, o seu tempo.»
E dentro de campo? «Sempre com os pés bem assentes na terra, desejamos ser campeãs nacionais entre três a cinco anos. Queremos deixar a nossa marca no futebol feminino. Queremos competir com Benfica e Sporting e outros clubes pelos troféus. Acredito que este terceiro lugar trouxe maior visibilidade e atenção por parte de toda a gente. Posso confidenciar que já existem jogadoras a oferecerem-se para jogar no Racing Power na próxima temporada. Há uns anos, era impensável e era o contrário a acontecer. Tínhamos de ser nós a correr atrás. Vamos passo a passo, mas sempre com ambição!»