ENTREVISTA A BOLA Pereira da Costa: «Negócio com a Ithaka? Rescindir acarreta custos»
Analisa venda dos direitos comerciais do Dragão à empresa espanhola
-- O negócio feito com a Ithaka a 25 anos pelos direitos comerciais do Estádio do Dragão, que comentário lhe merece? O ‘timing’, acha que o correto? Pinto da Costa disse que o mesmo contrato poderia ser rasgado se devolvessem os 65 milhões até 1 de julho. Tencionam fazê-lo?
— Se é essa a perspetiva de deixar que a nova Direção possa rescindir, não entendemos o porquê de o contrato ter sido celebrado nove dias antes das eleições. A segunda questão é que neste tipo de situações as rescisões acarretam custos, parece-nos um bocadinho um cenário da Alice no país das maravilhas em que seja só devolver os 65 milhões e que não haja mais custo nenhum. Mas é um tema que temos de entender melhor, analisar os contratos e perceber até que ponto é que é assim tão fácil ou não... Depois, há muito pouca informação para podermos opinar sobre o assunto. O comunicado efetuado pela SAD foi extremamente parco, que apenas fala em 65 milhões, em 30 por cento e em 25 anos. Não diz que receitas é que estão incluídas nesta sociedade, diz grosso modo que incluirá a bilhética, o corporate hospitality, a publicidade e outras receitas de menos impacto, mas não diz os custos. Temos pouca informação, curiosamente conseguimos ter mais informação na entrevista que o vice-presidente da área financeira da Lista A deu recentemente, pois, pelos vistos, está bastante informado sobre a operação. Referiu que os salários dos funcionários da Porto Comercial integrarão esta sociedade, nós não tínhamos essa informação. Disse também que o EBITDA desta sociedade será de 23 milhões no início e que evoluirá até 39 milhões dentro de 15 anos. Trata-se de uma sociedade que pode ser quase a galinha dos ovos de ouro do FC Porto. É a sociedade onde as receitas vão crescer mais. Podemos ter resultados de 40 milhões de euros nesta sociedade em resultados operacionais dentro de 15 anos. É fácil fazer as contas. Se 30 por cento é a percentagem que o parceiro terá nos resultados da sociedade, vamos pôr o cenário hiperconservador: as receitas não sobem e o EBITDA mantém-se nos 23 milhões e o parceiro vai ter 30 por centro de 23 milhões durante 25 anos, o que dá 170, 180 milhões. Paga 65 milhões para receber 170 a 180 milhões. Vamos assumir agora o cenário-base pelos vistos considerados: as receitas vão subir, vamos ter naming do estádio, vamos ter novas áreas reformatadas de corporate vão gerar mais receitas, a própria bilhética tem oportunidades de melhoria de receita. Neste caso, o EBITDA pode ir até aos 40 milhões, mais uma vez fazendo as contas 30 por cento de um EBITDA a começar em 23 e a caminhar para 40 milhões vai dar contas redondas 300 milhões durante 25 anos. O parceiro mete 65 e recebe em 25 anos 300 milhões. Não nos parece claramente um bom negócio e daí o André ter referido – o que eu acho bem —, que o FC Porto não tenha valorizado bem estes direitos comerciais e que, no mínimo, valem o dobro.
— O facto de a equipa não se ter apurado para a Champions será também um duro golpe. Os 50 milhões provenientes do Mundial de Clubes pode amenizar a perda dessa receita?
— Fizemos as contas e a não participação na Champions deverá andar à volta dos 40 milhões, assumindo que nos qualificamos para a Liga Europa e passamos a fase de grupos. Houve um ligeiro incremento das verbas na Liga Europa e se fizermos uma carreira normal, nada de superambicioso, a diferença entre participarmos na Champions e na Liga Europa será de cerca de 40 milhões, que pensamos que poderá vir a ser compensada pela participação no Campeonato do Mundo de Clubes. Mais uma vez, a situação que nos preocupa é a situação de tesouraria, pois as verbas da UEFA na Champions entrariam tipicamente em setembro, ao passo que no Campeonato do Mundo vamos ter seguramente mais seis ou sete meses até recebermos essas receitas. Este entre défice de 40 milhões na tesouraria é algo que vai pesar no início do próximo ano, mas pronto, tendencialmente, poderemos recuperar mais para a frente.