Diz que é preciso inverter a tendência financeiro sob o risco de haver colapso
-- Passando ao seu terreno predileto, perante os números que conhece dos Relatórios e Contas, se tivesse de fazer uma radiografia das contas do universo FC Porto, o que diria, que o clube está em clara falência técnica ou perto de um colapso financeiro?
— Diria que está mais numa situação limite. Está numa situação em que, com o acumular de uma degradação financeira que é visível nas contas, ou muda de vida e de gestão e passa a ter uma gestão rigorosa, disciplinada, competente, de valor orçamental, orientada para a sustentabilidade financeira, ou rapidamente pode entrar numa dessas situações que acabou de referir, seja de colapso ou de falência técnica, sendo que aí ficará, obviamente, vulnerável com o objetivo de salvar o clube e se tenha que recorrer a um investidor milagroso que apareça. Mas aí já estaríamos numa situação extrema, em que teríamos o FC Porto a não ser o clube de associados que é hoje em dia e nós queremos, a todo custo, evitar isso. Achamos que a situação é grave, mas ainda está no limite, mas com uma atuação muito decidida é possível evitar esse tipo de cenários mais graves. Renegociar a dívida será fundamental.
— E como é possível a breve trecho mudar esse cenário, passará por renegociar a dívida junto da banca com juros mais apelativos? O André Villas-Boas garantiu que já reuniu com três entidades bancárias com taxas de juro mais apelativas para procurar melhores soluções. O que nos pode adiantar?
— O primeiro caminho passa por resolver o problema económico do FC Porto. O clube não gera receitas para cobrir as suas despesas e isso leva a que todos os anos vá acumulando dívida e, com mais dívida, vai gerando encargos financeiros muito pesados. Hoje em dia, ter 25 a 26 milhões de euros de encargos financeiros para uma sociedade desportiva com resultados operacionais de 150, 160 milhões é um lastro muito pesado. O primeiro caminho passa por fazermos a inversão em termos de situação económica do clube e a mesma ficar mais robusta. Apresentarmos várias medidas, mas que no seu todo se encaminhem para uma melhoria de resultados operacionais, seja pela via das receitas, onde pensamos que é possível atuar na área de receitas comerciais, sobretudo. Pela via dos custos, com uma atuação mais disciplinada e rigorosa, podemos ir buscar também cerca de 20, 30 milhões de poupança. E ao mesmo tempo pela valorização de ativos onde o FC Porto está muito aquém dos seus rivais. É possível também gerar mais resultados. Esse é o caminho da inversão da situação financeira. A dívida é preocupante e pesada, são 310 milhões de euros com um custo muito caro, estão cerca de 100 milhões de euros em empréstimos obrigacionistas com taxas de 5 e 6 por cento. Mas depois temos uma componente muito forte de cerca de 200 milhões de antecipação de receitas por factoring, que tem um custo que, não estando discriminado no Relatório de Contas, antecipamos que seja um na ordem dos 10 por cento. Ainda há pouco tempo o vice-presidente da área financeira da Lista A referiu essas taxas como sendo taxas comuns no universo do futebol. A nossa intenção passa por exatamente refinanciarmos essa dívida mais cara, refinanciarmos significa substituirmos gradualmente essa dívida por dívida mais de médio e longo prazo e com custos mais reduzidos. Relativamente a essa situação da banca internacional, iniciámos os contactos com os principais bancos internacionais que têm estado envolvidos em operações de financiamento de sociedades desportivas. Os casos mais conhecidos são o Barcelona ou o Real Madrid. Estabelecemos os contactos, sentimos que existiu feedback positivo, apetite por apoiar o FC Porto numa operação deste género. São operações que não são financiamentos dos bancos são operações em que os bancos estruturam financiamentos mas colocam-nos junto de investidores institucionais, junto de fontes de pensões, seguradoras, etc. Não há, digamos, contratos fechados com bancos, são operações de mercado, mas são operações de mercado que se têm vindo a fazer com sucesso. Posso-lhe falar de algumas das operações e condições das mesmas que foram recentemente celebradas e estruturadas por alguns dos bancos que o André referiu, o caso JPMorgan, Morgan Stanley e Goldman Sachs são alguns deles. Na lista das operações recentes temos a Sevilha, uma operação de 25 milhões e outra de 65 milhões a 10 anos e 8 anos com 6,6% e 8,5% de juros; temos o caso do Lyon, 320 milhões a 5,83% juros, o Barcelona, com múltiplas operações de múltiplas maturidades desde 5 até 22 anos com taxas entre os 5 e os 6%, o Real Madrid em outubro de 2023 com cerca de 370 milhões e com taxas de 5,22%. São operações concretizadas e concluídas com sucesso. Estas condições dependem das condições de mercado a cada momento, mas não estamos a falar em operações feitas há três anos com taxas muito mais baixas, estamos a falar de operações de outubro de 2023, novembro de 2023, março de 2024 e com clubes similares ao FC Porto. O Barcelona até está em pior situação financeira. Em relação às alegações da Lista A trata-se de procurar as melhores soluções e defender os interesses do clube da melhor forma e não recorrer a financiamentos com interesses próximos do clube de fundos, nomeadamente ligados a pessoas que estão na candidatura da Lista A que se calhar não têm o interesse em procurar estas soluções mais baratas porque eles próprios poderão participar em operações que são mais onerosas para o clube.
Conceituado gestor da área financeira, com passagens pela NOS, foi o eleito para o cargo de Chief Financial Officer (CFO) e é o homem de confiança de Villas-Boas para levar os dragões a bom porto. Numa entrevista exclusiva a A BOLA, falou de todos os temas que marcaram a campanha e também do futuro do FC Porto