ENTREVISTA A BOLA Os ‘segredos’ de Matic, Rúben Dias e Amorim
Ao médio sérvio foi pedido para ‘clonar’ movimentos de um atual elemento da equipa técnica do Benfica....
São muitos os exemplos e que Marco Pedroso identifica como recompensadores nos anos em que trabalhou como videoanalista no Benfica. Pedroso, 45 anos, esteve 13 anos com os encarnados e viveu inúmeras experiências na companhia de nomes que ganharam lugar de destaque no futebol nacional e mundial.
«Os relatórios eram elaborado por mim, era eu que fazia esse trabalho, era um circuito muito fechado e passávamos muitas horas nas observações aos adversários, o mister [Jorge Jesus] queria muitas alterações, queria muito detalhe e essa informação levava tempo a recolher, com determinada tecnologia, ilustração, grafismo em 3D, tudo para que o jogador recebesse a informação de forma mais intuitiva e com apresentação diferente. Tivemos exemplos ali… por exemplo o caso do Matic, que passou por um processo de reformulação de ideias porque ele era um médio ofensivo, não tinha noção de posicionamento, não tinha noção para ser agressivo nas segundas bolas, a questão dos equilíbrios defensivos dentro da última linha, que era um processo também muito trabalhado pelo mister», recorda Pedroso.
Foi feito um trabalho, inclusivamente com imagens do Javi García
Passou depois a explicar mais do trabalho que foi feito com o internacional sérvio que fez carreira como médio defensivo de elite: «Foi feito um trabalho, inclusivamente com imagens do Javi García [antigo médio espanhol das águias e agora adjunto de Roger Schmidt], pela posição que ele ocupava, que lhe foi passado antes dele iniciar as tarefas. Ele viu esses momentos e ficou mais fácil para ele perceber o que era pretendido pelo mister, mas claro que depois isto foi um trabalho idealizado e elaborado e a médio/longo prazo em função da resposta que era dada pelo próprio Matic em jogo e em treino. Havia muitas correções que se iam fazendo e passando ao jogador em reuniões individuais com ele e muitas vezes setoriais, porque eram dinâmicas que estavam também dependentes da relação que ele tinha com os colegas, e tudo isso fez com que crescesse rapidamente nessa posição e que ganhasse valências para as quais ele tinha esse potencial mas que tiveram de ser desenvolvidas.»
Outro jogador que Marco Pedroso apontou, e este como um exemplo para todos, foi o de Rúben Dias, antigo capitão dos encarnados, agora também algumas vezes capitão no Manchester City.
«O Rúben tinha um lado competitivo... encarava cada treino e cada jogo de forma muito intensa, o trabalho pós-treino que o Rúben fazia para evoluir e minimizar as suas debilidades fez dele um dos centrais mais completos na atualidade», acredita.
Marco Pedroso também trabalhou no Benfica com Rúben Amorim, então jogador e agora treinador do Sporting. Há traços em Amorim que se identificavam e o destacavam.
«Pelas questões que colocava... era um atleta que estava sempre muito interessado em perceber o porquê das coisas e quando lhe passávamos alguma informação muitas vezes ele refletia e dizia ‘então e se fizéssemos de outra forma’, ‘se em vez deste posicionamento tomasse determinada ação poderia facilitar a tarefa?’ Questionava os momentos em que poderia ser mais forte ou ter mais debilidade, questionava e colocava dúvidas e sentia-se que havia ali uma constante procura do tentar perceber como se faziam as coisas e isso é mentalidade do treinador, perceber o porquê, como é que as coisas se fazem, caminho a seguir, e ele já passava essa sensação», lembra.