Olhar o Dumiense e ver o Man. City: a crónica do Sporting-Dumiense
A Taça de Portugal é a pedra no sapato de Amorim e o treinador quis profissionalismo. E teve-o: a maior goleada das últimas décadas!
É em jogos deste tipo, em que a diferença de qualidade é grande, que o ego pode aparecer. Há quem prefira não participar neles, por se achar acima de um vulgar Sporting-Dumiense. Não foi, felizmente para os leões, o caso de Luís Neto, Paulinho, Trincão ou Gyokeres, para falarmos daqueles que foram, para nós, os casos mais flagrantes de profissionalismo. Para este quarteto, sobretudo para ele, mas não só, claro, jogar com o Dumiense pareceu ser o mesmo que defrontar o campeão europeu, Manchester City. Há, por vezes, quem assim não pense. Claramente um erro.
Rúben Amorim também não o deixou, talvez recordando-se de que a Taça de Portugal tem sido a sua pedra no sapato (já eliminado pelo FC Porto, mas também por Alverca, Marítimo e Varzim). Natural, pois, que o treinador do Sporting estivesse de pé atrás com o Dumiense. Que acabou tratado com grande profissionalismo pelos leões e como se fosse uma espécie de Manchester de Dume. Só mesmo assim, olhando para o adversário como se se tratasse de um colosso europeu, é que o Sporting poderia chegar aos oito golos. A maior goleada da era Rúben Amorim e a maior dos leões dos últimos 35 anos (11-0 ao Alhandra também da Taça de Portugal).
O Sporting ganhou, o Sporting goleou, o Sporting segue em frente, mas há sempre que dar uma palavra de incentivo para os jogadores e treinador do Dumiense. Perderam por oito, mas foram grandes na raça e na capacidade de tentar, mesmo sabendo que dificilmente poderiam ir além da tentativa. Após a contundente derrota no Estádio da Luz, sobretudo pela forma dramática para os leões como ela aconteceu, nada melhor do que golear o Dumiense. Uma coisa não compensa a outra, claro que não, mas ajuda a superar o trauma do 1-0 que virou 1-2 nos instantes finais frente ao Benfica, há exatas duas semanas.
Rúben Amorim, olhando para o desnível de andamento entre um grupo de não profissionais e um grupo que joga para ser campeão, rodou um pouco os habituais titulares, mas não em demasia: Adán, Morita, Diomande e Pedro Gonçalves no banco, Israel, Luís Neto, Daniel Bragança e Geny Catamo de início. Assim, em teoria, estavam salvaguardados dois detalhes: ganhar o jogo e ultrapassar (ou tentar) a dramática derrota na Luz. E assim foi. Aliás, o Sporting demorou muito pouco a passar para a frente do marcador, com um golpe fulgurante de cabeça de Neto.
A seguir, quase a conta-gotas, os leões foram alargando a vantagem: 2-0 antes da meia hora, 3-0 à entrada da segunda parte, 4-0 e 5-0 até aos 58’. Depois, com mais de 30 minutos para jogar, poderiam os sportinguistas aguardar pela superlativa goleada. E ela, através do hat-trick final de Paulinho e de mais dois golos, um de Nuno Santos e outro do furacão Gyokeres, parou no 8-0. Poderiam os números ter atingido expressão ainda maior? Claro que sim. Mas talvez não fosse justo para os jogadores e treinador do Dumiense que os dois dígitos fossem atingidos. Os homens de Dume regressam ao Minho com muitas histórias para contar e a certeza de que o Sporting encarou o jogo como se do outro lado estivessem Ederson, Rúben Dias, Bernardo Silva ou Haaland. É esta a única forma de tornar atrativa uma eliminatória que, em teoria, era demasiado desnivelada.
A terminar, o furacão: Gyokeres, o Viktor de Rúben Amorim. Se todos os jogadores do Sporting encararam o jogo de ontem como se fosse frente ao Manchester City, por exemplo, o sueco olhou para aqueles pouco mais de 30 minutos em que esteve em campo como se fosse a final do Campeonato do Mundo e fosse preciso atacar, defender, construir, desmantelar, organizar e causar impacto. Gyokeres é um panzer, como já se sabia. Talvez não se soubesse é que, para ele, entrar aos 63’ do jogo com Dumiense e com o resultado em 5-0, fosse motivo para tão exuberante prova de profissionalismo. Gyokeres naquela meia horinha até fez cansar quem estava na bancada a ver, tranquilamente, o jogo.