«O lado mais generoso de Rúben Amorim», Supertaça, Chico Conceição e reforços: tudo o que disse Vítor Bruno
Treinador do FC Porto fez a antevisão à Supertaça com o Sporting
-- Quão importante é arrancar a época com um título?
-- Ganhar é sempre importante, seja em que circunstância for, contra que adversário for. Falamos de uma Supertaça, de um troféu que está em casa. Este clube está habituado à ambição e a altos níveis de conquista. Mas devemos separar os caminhos. É um jogo isolado, que não terá continuidade do resto da época. Será uma época diferente, muito exigente e o que acontecer amanhã não terá reflexo no que vai acontecer no desenrolar da época. Entrar a ganhar é importante, a equipa está bem, sente-se energia, sente-se confiança, sente-se alguma desconfiança quanto ao alerta que temos de ter com o adversário. É um jogo brutalmente competitivo, é um FC Porto - Sporting e é para isso que temos de estar preparados amanhã.
-- Os internacionais podem jogar com o Sporting?
-- O que falei ontem, falei com base em dados concretos, falei com base em dados que temos ao dispor. Temos muitas ferramentas que permitem avaliar o ponto em que chegam os jogadores. Há vários parâmetros, emocionais, táticos, técnicos, para responder à exigência do jogo. Uns estão mais preparados, outros não tanto. Decisões já foram tomadas, uns vão a jogo, outros ficaram de fora, outros poderão entrar. É ir apalpando terreno, experimentar sensações do que o jogo estará a pedir. Podem alguns começar de início, outros ficarem no banco, outros ficarem na bancada. É o mundo atual do futebol. E agora com um espetro mais alargado, que hoje temos mais jogadores à disposição na ficha de jogo. E no futuro teremos um espetro ainda mais alargado, à semelhança do que acontece nos grandes eventos.
-- O FC Porto venceu oito jogos na pré-época. Que diferenças há em relação à época passada?
-- O que disse a outro canal é o que vou dizer a esta pergunta. Não quero fugir a nada, mas temos de atribuir menor importância ao traço comparativo e perceber o que estará em jogo. Será uma equipa com traços que podem vir de trás, com traços novos, com nuances diferentes. Sem nunca entrar nesse lado comparativo que não traz nada de benéfico.
-- O FC Porto está em processo de reconstrução. O que tem como sendo admissível ou não admissível no comportamento?
-- O único espaço que poderão ter é uma ambição louca de ganhar. Tem sido tema de conversa diário, a ambição tem de estar sempre presente. O caráter, tudo aquilo que nos vai regendo enquanto valores ali dentro, valores que são confluentes com o que se passa com as gentes do clube. Nunca vão poder desviar-se disso. É o único laço vinculativo e que está estabelecido como compromisso quando começamos a trabalhar. Tudo o que vá além disso não é admissível.
-- Rúben Amorim foi questionado sobre o ponto forte deste FC Porto e disse que se notava dedo de Vítor Bruno nesta equipa. De alguma forma, o fator surpresa, quanto ao onze e às dinâmicas, pode jogar a favor?
-- Foi o lado mais generoso do Rúben [Amorim], tentando dar-me um comprimido para adormecer e ficar quase bêbedo. Percebo o que ele disse. Há nuances que podem ser de mais difícil acesso, apesar do escrutínio, mas ele, como nós, antecipou cenários que poderá encontrar, nuances mais presentes agora num passado mais recente nesta época. Ele e a equipa técnica fizeram o estudo e sabem o que vão encontrar. Não há grandes segredos hoje em dia, mas há mais num perfil individual do jogador. Ele terá feito o trabalho e bem, como nós também fizemos. Ninguém está em posição de supremacia, parece-me. O Rúben tem algumas limitações, ontem ouvi dizer que o FC Porto mantém o onze, mas perdemos Pepe e Taremi. Com certeza haverá outros amanhã prontos para dar resposta. Os jogadores dão sinais e estou muito confiante para amanhã. Foram oito jogos que correram bem, mas a pré-época já lá vai. Eu e o Rúben estamos em pé de igualdade.
-- Como foi o reencontro com o Francisco Conceição?
-- Foi o mesmo com o Eustáquio, o Wendell, o Pepê... Não houve tratamento diferenciado. Acabou por tornar-se um tema delicado, mas já disse que ele seria tratado da mesma forma. Tem tido um comportamento exemplar no trabalho, no trato, no respeito. Tudo absolutamente normal. É um ativo do clube que tem ganho espaço por mérito próprio e que vai continuar a traçar o seu caminho.
-- Depois de alguns problemas na época passada, Toni Martínez e Iván Jaime querem mostrar serviço?
-- Não penso que seja por aí, porque se focarmos no Toni temos de focar no Navarro, que tem feito uma pré-época brilhante. Não falo só de golos. O Toni, o Fran e o Danny têm tido compromisso brilhante. Isso é o que mais me agrada. Não são os golos. Gosto de fazer análise mais abrangente. Têm tido dose industrial de compromisso. Todos têm de ter comportamento exemplar e enquanto o dia-a-dia der esses indicadores, para mim está tudo bem.
-- O que mudou no Sporting? Perdeu Coates...
-- O que muda no jogo do Sporting o Rúben é que sabe. Ele é que sabe o que tem de mudar e como deve ajustar o jogo. A linha de 4 a defender já acontecia no passado, já foi amiúde tentando incutir essa nuance. Falei que eventualmente poderia passar a 4 não tendo o Seba. Pode agora numa defesa a 4 ver garantido esse controlo de profundidade, ter um quinto homem que apareça a espaço na linha defensiva. Depois depende do perfil individual. O Quenda como ala é uma coisa, Trincão é outra. Depende do que estiver a pensar, de que forma nós jogamos. É o jogo do gato e do rato. Vamos ter de estar alerta para contrariar tudo o que é força no Sporting e quando tivermos a bola levar as prorrogativas que queremos levar a jogo.
-- Não tendo reforços até ao momento, nesta fase de preparação foi mais importante não perder mais ninguém do que ter reforços?
-- Não perder ninguém é uma mais-valia. Enquanto a atitude diária for aquela que eu acho mais correta e estiver espelhada no campo, eu acho que é melhor manter o que temos. Alguma operação de mercado, pela dose de risco que envolve, pode ser um tiro no escuro. Apesar de termos confiança na administração e de termos alvos muito bem identificados, sempre segundo uma seleção e um escrutínio demasiado detalhado até pelas dificuldades financeiras. Se mantivermos toda a gente, por mim perfeito, não faço questão de ir buscar ninguém.
-- A indefinição na ala esquerda do Sporting pode tornar este o jogo ideal para regressar o Francisco Conceição, habituado a jogar a extremo-direito?
-- O perfil individual de qualquer um dos alas que temos garante sempre esse momento que está a dizer, aproveitando a falta de um lateral de raiz, alguém que seja conhecedor do espaço que deve ocupar, em momento defensivo mais alto ou mais baixo. Qualquer um deles, seja o Gonçalo Borges, o Gonçalo Sousa, o Francisco Conceição, qualquer um deles tem vertigem, gosta de ir para o duelo. Temos gente que pode jogar por fora e fazer quarto homem dentro, como o André Franco. Também é importante ter quem goste de guardar a bola. O Sporting está preparado e terá alguém que dará conta do recado. A nós cabe-nos encontrar formas de expor a possível deficiência que possa haver nesse lugar.