O desejo de Cancelo: como correram os outros regressos no Benfica?
De Di María a Humberto Coelho, passando pelo atual presidente Rui Costa; viagem aos casos de quem voltou e continuou a fazer a diferença
A história de regressos no Benfica é feita, na maioria dos casos, de ciclos felizes. O tema volta a estar presente na agenda das águias após a entrevista de João Cancelo publicada ontem nas várias plataformas de A BOLA, na qual revela esse desejo.
«Tenho um vazio por não ter jogado uma temporada no clube, mas acho que esse momento poderá chegar e vou estar disponível. Espero muito voltar ao Benfica, é o clube do meu coração, seria um prazer, no futuro, representar este grande clube», disse o lateral-direito atualmente ao serviço do Barcelona.
Se tal vier a ocorrer, o futebolista formado no Seixal iria engrossar uma lista relativamente restrita. Porque, efetivamente, não houve assim tantos jogadores que voltaram depois de fazerem longa carreira no futebol europeu.
Di María é o caso mais recente: o argentino decidiu representar novamente as águias 13 anos depois da sua saída e a decisão foi calorosamente saudada pelos benfiquistas, que se dirigiram em massa ao Estádio da Luz para recebê-lo, numa cerimónia de contornos inéditos no novo recinto.
Até agora a história está a ser positiva do ponto de vista do desempenho individual: aos 36 anos, o esquerdino vai na sua terceira época mais concretizadora, com 15 golos em todas as competições (melhor só os 21 golos em 2017/2018 no PSG e os 19 golos em 2018/2019 também nos parisienses), falta saber se em termos coletivos também cantará sucesso tendo em conta que a equipa ocupa o segundo lugar do campeonato e pode não depender de si própria para ser campeã (caso o Sporting vença o jogo em atraso com o Famalicão) — embora também ainda esteja na Taça de Portugal e na Liga Europa.
A receber o campeão do mundo esteve Rui Costa, hoje presidente e aquele que havia sido até aí o último jogador a regressar depois de muitos quilómetros percorridos noutros relvados europeus. Ao fim de 12 anos ao serviço de Fiorentina (sete épocas) e Milan (cinco temporadas) e aos 34 no BI, o maestro voltou a vestir a camisola 10 e fê-lo por dois anos, embora sem o impacto desejado: por causa das lesões fez apenas 22 jogos em 2006/2007 (um golo e quatro assistências) na época seguinte esteve em 45 partidas (10 golos e cinco assistências), mas terminou a etapa sem quaisquer títulos conquistados.
A exceção Chalana
Antes de Rui Costa foi Nuno Gomes a protagonizar o papel do bom filho que retorna a casa. Dois anos depois de se ter transferido para a Fiorentina e aproveitando a crise financeira em que o clube de Florença mergulhou, Luís Filipe Vieira resgatou-o para nove temporadas seguidas, onde viria a conquistar dois campeonatos, uma Taça de Portugal, três Taças da Liga e uma Supertaça.
Mas foi na década de 90 do século passado que se registaram a maior parte de casos como aquele que Cancelo gostaria de personificar. Três deles com brasileiros e melhores estrangeiros da história do Benfica: Mozer, Ricardo Gomes e Valdo. Só um, no entanto, foi campeão na segunda passagem: Carlos Mozer em 1993/1994, nas duas épocas e meia seguintes aos dois anos passados em Marselha, onde entrou em 1989 depois de duas temporadas de sucesso na Luz.
Quanto a Ricardo Gomes, voltou em 1995, aos 30 anos, depois de quatro temporadas no Paris Saint-Germain, mas só fez uma época, conquistando uma Taça de Portugal. A acompanhar o central no trajeto esteve o compatriota Valdo, que passara quatro anos na capital francesa. O talentoso médio e internacional brasileiro realizou duas temporadas (1995 a 1997), com o mesmo brilho individual mas sem vencer qualquer campeonato.
Já o caso de Rui Águas foi especial: voltou depois de ter representado um rival durante duas épocas (1988 a 1990), no caso o FC Porto. Ficou quatro anos, tendo conquistado dois campeonatos e uma A BOLA de Prata para o melhor marcador do campeonato (1999/1991).
Nesta viagem de regressos não podiam ficar de fora duas glórias do Benfica e com a etapa PSG_de permeio. João Alves representou o clube francês apenas durante a temporada 1979/1980, voltando a casa para três épocas bem sucedidas, vencendo dois campeonatos e duas Taças de Portugal. Quanto a Humberto Coelho, foram nove temporadas depois de dois anos no estrangeiro (um no PSG e outro no Las Vegas Quicksilvers, dos EUA). E_venceu tanto quanto havia ganhado antes da experiência fora de portas.
O episódio de menor sucesso acabou por ser o de Fernando Chalana. Depois de três anos no Bordéus apresentou-se na Luz (cujo Terceiro Anel já estava fechado graças à sua transferência para França) sem a mesma capacidade física e nunca chegou a ser o futebolista genial que fez dele um dos melhores de sempre das águias.
Foram eras e situações diferentes, mas a possibilidade do regresso de um homem da casa mexe sempre com as emoções dos adeptos. Será assim com João Cancelo?