O azar dos gansos foi a fome dos leões: crónica do Sporting-Casa Pia

O azar dos gansos foi a fome dos leões: crónica do Sporting-Casa Pia

NACIONAL29.01.202423:41

Depois de um festival de ocasiões desperdiçadas na Taça da Liga, um recital de golos frente ao Casa Pia. Este Sporting é um caso sério...

Provavelmente estava escrito nas estrelas. Depois de ter sido privado da final da Taça da Liga por ter falhado oito ocasiões claras de golo frente ao SC Braga quando o resultado estava em 0-0, o Sporting vingou-se no Casa Pia marcando oito golos, num vendaval, muito especialmente na primeira parte, de futebol de ataque, feito de poder físico, precisão na concretização, e uma simplicidade de processos que ficou plasmada no segundo golo: recuperação de bola de Gonçalo Inácio, que  fez um passe a Pedro Gonçalves, que fez uma assistência a Gyokeres, que meteu a bola dentro da baliza dos gansos. Três toques no esférico, com 50 metros entre o primeiro e o último, resultaram  num golo absolutamente extraordinário, que glorificou o futebol vertical. O Sporting da primeira parte entrou faminto de golos, desejoso de esquecer o pesadelo de Leiria, e o Casa Pia, apesar de estar em noite desinspirada, teve sobretudo o azar de estar à hora errada no sítio errado. Mas é impossível falar do jogo de Alvalade sem referir o compromisso de Viktor Gyokeres perante a equipa. Estava já o resultado em 4-0 e o sueco já tinha bisado, quando foi ele a fazer um sprint de 50 metros para vir recuperar uma bola à sua defesa. Tremendo a aproveitar as bolas metidas nas costas dos defesas contrários, aterrorizador para os defesas do Casa Pia nos lances de um-contra-um, o internacional sueco pintou a manta do primeiro ao último minuto, deixando no ar apenas uma dúvida: é possível aguentar uma época inteira com o prego sempre a fundo, como ele tem feito? Os próximos quatro meses responderão a esta questão...     

Chuva de golos

Pedro Moreira, treinador dos gansos, entrou em Alvalade, provavelmente inspirado no que o SC Braga tinha feito ao Sporting em Leiria (Artur Jorge baixou Vítor Carvalho para terceiro central), e apresentou a sua equipa em 5x4x1, com Lelo a fazer de central do lado esquerdo e Tiago Dias a atuar como lateral nessa ala. Porém, em noite de ‘cada tiro, cada melro’, não houve tática que valesse ao Casa Pia, sobretudo se fosse interpretada, como foi, com baixa intensidade e escassa convicção. Foram oito a zero com o Sporting a tirar o pé do acelerador na segunda parte, e podiam ter sido ainda mais. 

A equipa de Rúben Amorim, onde Pedro Gonçalves, novamente ágil a pensar e rápido a executar, dando grande fluidez ao jogo, parece estar a subir de forma, tem no entendimento, cada vez melhor, entre o ex-famalicense e o dinamarquês Hjulmand, uma mais-valia que se acentua, e que gera expetativas quanto ao que sucederá quando Morita regressar da Taça da Ásia. Mas também Francisco Trincão, tantas vezes errático, a alterar o bom e o mau com enorme facilidade, apareceu focado e rigoroso no aspeto defensivo, aproximando-se daquilo que se sabe que vale, mas que muitas vezes não consegue traduzir no tapete verde.

Poder-se-á dizer, e é verdade, que os gansos não estiveram à altura da situação e a páginas tantas entraram em pânico, de tal forma volumoso foi o caudal atacante do Sporting. Mas seria supremamente injusto imputar a goleada leonina à má noite casapiana: a equipa de Rúben Amorim, onde Quaresma parece cada vez mais adulto (quando Diomande voltar, o Sporting terá ganho mais uma solução premium para o trio de centrais), assinou 45 minutos de futebol-champanhe, a que se seguiram 45 minutos de futebol-espumante, igualmente bom de beber, sem ser a mesma coisa... E ao mesmo tempo ficou provado que o treinador pode contar com o crescimento de Geny Catamo, para uma posição em que Pedro Porro continua a deixar saudades.

O Sporting fechou, em grande estilo, a 19.ª jornada na condição de líder isolado, e ao vencer o Casa Pia da forma como o fez recebeu uma injeção de moral inestimável. A equipa sabe o que quer, sabe o que faz, e quando está em noite de meter a bola na baliza adversária é um caso sério. Mas no futebol nada é estático, tudo é dinâmico. E no sábado, em Famalicão, há mais...