«Não podem tremer as pernas a quem quer ser campeão»

Benfica «Não podem tremer as pernas a quem quer ser campeão»

NACIONAL05.05.202313:59

Jorge Castelo, treinador e professor, analisa para a BOLA o momento do Benfica: refere que muito depende da força mental e fala de uma variante pouco explorada pelas águias, os remates fora da área.


- O Benfica é a equipa da Liga que mais marca em ataque continuado e pouco em contra-ataque e apenas 30% dos seus remates são de fora da área. Uma equipa com um estilo assim ressente-se mais quando está em menor forma?
- O ataque continuado justifica-se pelo facto de geralmente defrontar equipas com blocos baixos. Mas o Benfica marca mais dentro da pequena área do que fora da área, às vezes parece que quer levar a bola para dentro da baliza adversária. Quando Enzo Fernández estava, o Benfica rematava mais de longe.


- O que mudou nos últimos tempos?
- Ao contrário do andebol ou basquetebol, o futebol é um jogo de construção e não de finalização. 70 por cento dos ataques terminam na construção e só 30% na finalização. Por isso às vezes tem de ser ir à raiz, ou seja, à criação. Mas o que mais mudou no Benfica foi que deixou de recuperar a bola no meio-campo adversário. Antes fazia-o a 45 metros da baliza contrária, agora fá-lo a 70 metros. O Benfica atacava a baliza quando estava em posse e atacava a bola quando não a tinha. Penso que é nisso que Roger Schmidt estará a trabalhar para este jogo: exercícios de treino para atacar a bola como fazia nos bons tempos e recuperar o seu ADN.


- Essa incapacidade de recuperar a bola em zonas avançadas deve-se só à fadiga?
- É uma variável, mas é muito mais que isso. Há um momento em que os jogadores começam a ter receio das bolas nas costas. Isso aconteceu com Bah e Grimaldo e os centrais andavam à nora. Os adversários começaram a perceber como ferir o Benfica e a copiar. O Inter usou os mesmos conceitos que o FC Porto usou com sucesso. E depois há o peso emocional: o Benfica antes marcava muito mais cedo do que está a fazer agora. E no meio de tudo isto há algo muito importante: quem quer ser campeão não lhe podem tremer as pernas. Se tremerem não merecem ser campeões. Fui três vezes campeão e lembro-me como são os últimos jogos e as contas que os jogadores começam a fazer.