Lyon, um gigante à beira do abismo
Um treinador em guerra com o plantel que acabou despedido; o último lugar e o risco de descida; a vitória da esperança com três golos de Lacazette e Anthony Lopes a defender um penálti. Longe vão os tempos dos sete títulos de campeão consecutivos...
Longe vão os tempos em que o Lyon dominava o futebol francês, não dava qualquer hipótese à concorrência, conseguindo feito inédito ao sagrar-se campeão de França sete vezes consecutivas: 2001–02, 2002–03, 2003–04, 2004–05, 2005–06, 2006–07, 2007–08. Esta temporada, porém, passou de um extremo ao outro e está agora mergulhado na última posição, com a descida a ser uma realidade cada vez mais provável.
O que mudou? Mudou muita coisa, desde os fortes investimentos de um PSG nas mão do Qatar Sports Investments de Nasser Al Khelaifi – que também detém 29,6% da SAD do SC Braga -, que na última década gastou perto de 1,5 mil milhões de euros em contratações. Para Paris levou Messi e muitas outras estrelas, nenhuma mais cara que o brasileiro Neymar, adquirido ao Barcelona por 222 milhões.
Assim, e depois de as duas últimas conquistas do Lyon terem sido a Taça de França, em 2011/12, e a Supertaça, no início da temporada seguinte, o PSG foi nove vezes campeão desde o último título dos ‘Les Gones’, como carinhosamente é chamado em França. Nesse período quem também festejou a conquista do campeonato foi o Bordéus (2008/09), Marselha (2009/10), Lille (2010/11 e 2020/21) e Montpellier (2011/12).
Anos de maus investimentos, longos períodos em que os adversários tiveram melhores políticas desportivas e maus dinheiro levaram o Lyon a vir gradualmente caindo. Da luta pelo título passou a não aspirar mais que um lugar nas competições europeias e esta temporada a impensável realidade de se ver a lutar pela manutenção. Melhor dizendo, a esbracejar desesperadamente para fugir do último lugar. Sem sucesso, que o horizonte é negro a a descida parece cada vez mais uma inevitabilidade, por muito que John Textor vá dizendo que esse questão não se coloca.
«Não há perigo de descida porque a nossa equipa é boa demais. Não estamos onde deveríamos estar, mas vamos dar a volta à situação», disse o americano, como que não querendo enfrentar a realidade.
AS DURAS PALAVRAS DE LOVREN
Bem mais desperto para a realidade, o jogador croata de 34 anos, Dejan Lovren, teve afirmação tão dura quanto necessário numa altura de crise: «Não vim aqui para jogar a Ligue 2. Temos que mudar muitas coisas. Nos últimos jogos não estivemos todos 100%. A porta está aberta para os jogadores que não estão felizes, para aqueles que não estão felizes aqui, mas a porta também está aberta para reforços. Espero que encontremos jogadores que venham ajudar o clube.»
Mesmo assim, Lovren afasta as nuvens negras: « Estamos numa situação difícil, mas quando as coisas estão difíceis na vida, não temos o direito de baixar a cabeça, de baixar os braços. Pessoalmente, cerro os dentes. Vou acreditar até o fim. Nem pensei na questão da descida.»
DANÇA DE TREINADORES
Quando os resultados não ajudam, já se sabe, quem sofre é o treinador. Também nesse campo a época tem sido terrível: começou com Laurent Blanc, que começou de forma desastrosa e à quarta jornada estava a ser demitido, ficando ligado ao pior início de sempre do Lyon.
A aposta para mudar a realidade do Lyon foi no italiano Fábio Grosso, mas como diz a expressão popular, o que começou torto não se endireitou ainda. O italiano não teve grande impacto, ficando em França apenas dois meses e deixando a equipa ao interino Pierre Sage.
E Grosso não saiu sem, segundo informa alguma imprensa em França, deixar um clima de guerra no clube. Uma das histórias relata que o italiano, campeão do mundo por Itália em 2006, confrontou todos os jogadores pedindo que se acusasse aquele que tem vindo a passar informações para o exterior e, furioso, cancelou o treino quando percebeu a união de todo o grupo, que se recusou e dizer fosse o que fosse à equipa técnica.
A partir desse momento não havia mais condições para Grosso continuar e após uma reunião com John Textor foi anunciada a decisão do clube de rescindir contrato.
Na última jornada, o Lyon venceu, finalmente – foi o segundo triunfo em 15 jornadas -, com Lacazette a marcar os três golos no jogo no Groupama Stadium frente ao Toulouse. Viu-se uma equipa diferente e houve muito quem atribuísse essa transformação ao despedimento de Fábio Grosso.
Talvez por isso, não se cumpriu a notícia de que o argentino Jorge Sampaoli seria apresentado como novo treinador, o que ainda não está descartado.
OS PORTUGUESES DO PLANTEL
O guarda-redes Anthony Lopes é uma das figuras do Lyon, tendo já feito 12 jogos e 1080 minutos. Mais do que titular indiscutível, o internacional português tem um peso enorme no balneário. No já referido jogo que o Lyon venceu em casa o Toulouse, por três, foi figura ao lado de Lacazette. Aos 45 minutos cometeu penálti, mas o que poderia ser reviravolta no encontro acabou por se transformar em momento de afirmação para o dono da baliza, que defendeu a grande penalidade e proporcionou uma importante injeção de confiança a um conjunto em crise de resultados.
Nesse mesmo encontro que terminou com um importante triunfo para o que resta da temporada foi utilizado o outro português do plantel, o jovem Diego Moreira, que chegou no início da época depois de longa novela em que mês após mês se aguardou a renovação com o Benfica, o que acabou por nunca acontecer.
Diego Moreira, 19 anos, é filho de Almani Moreira, antigo jogador de clubes como Sacavenense, Boavista, Gondomar, Gil Vicente, Aves e Atlético. Diego nasceu na Bélgica, deu os primeiros pontapés no Standard Liège, onde o pai jogava. Passou pelo Lierse, chegou ao Benfica e quando era considerado das maiores promessas do futebol português decidiu mudar-se para o Chelsea, que o emprestou ao Lyon, que o seduziu com a possibilidade de jogar num clube importante na história do futebol europeu.
Mas o menino que foi fundamental na conquista da Youth League pelo Benfica em 2022 (marcou quatro golos) - tinha como companheiros, por exemplo, António Silva, João Neves, Tomás Araújo ou Samuel Soares -, encontrou um clube em convulsão, pouco aconselhável para alguém tão jovem e na Ligue 1 tem apenas 239 minutos, divididos por seis jogos.
O ‘ANNUS HORRIBILIS’ DE JOHN TEXTOR
E com este cenário cada vez mais negro, é evidente que o dono dos destinos do Lyon, John Textor, terá mesmo de ir ao mercado de janeiro encontrar soluções que tornem a equipa mais competitiva. Mas este é o momento de se questionar quem é este americano que tem como estratégia criar um conjunto de clubes dos quatro cantos do mundo e dessa forma ter sucesso global.
Textor esteve muito perto de comprarações que lhe permitiriam ser voz importante no destino do Benfica e gorada a possibilidade de fazer esse investimento foi comprando outros emblemas um pouco por todo o Mundo. O norte americano é dono do Botafogo, que com 14 pontos de vantagem perdeu o título para o Palmeiras no Brasil.
Já lá vamos, primeiro contar um pouco mais da aproximação ao Benfica: o empresário norte-americano chegou no verão de 2021 a acordo com José António dos Santos para comprar 25% do capital social da SAD encarnada, o que só foi travado já com Rui Costa na presidência, depois do processo a Luís Filipe Vieira, que o fez cair.
Nesse mesmo verão de 2021 teve sucesso a compra de 46% do Crystal Palace por 101 milhões de euros e um pouco mais tarde foi anunciada a entrada no capital do Lyon, com a aquisição de 77,6%, por uma verba a rondar os 800 milhões de euros.
E com a impossibilidade de fazer forte investimento no Benfica, Textor comprou 80% do Molenbeek (Bélgica) e 90% do Botafogo. E neste grupo de clubes em rede, unidos pela mesma forma de gestão falta ainda o FC Florida, clube não profissional.
Muitos clubes, mas pouco sucesso. Este pode ser mesmo considerado um ‘annus horribilis’, já que além do Lyon ser último em França, o Botafogo perdeu o título de forma incrível no Brasil, com o Palmeiras de Abel Ferreira a recuperar desvantagem que chegou aos 14 pontos. Além disso, o Molenbeek está apenas dois lugares acima da zona de descida na Bélgica.
E mesmo o Crystal Palace, que até começou bem a temporada, ocupa agora a 15.ª posição, mas com sete pontos de vantagem sobre o Luton, a primeira equipa abaixo da linha de água na Premier League.