EURO 2024 Itália: o guia
Guia da seleção de Itália escrito por Luca Bianchin para a Gazzetta dello Sport
Expectativas
Os campeões estão de volta com um treinador diferente, líderes diferentes e um estilo distinto. Muito mudou nos últimos três anos, no país e na seleção. A Itália elegeu a sua primeira primeira-ministra, a covid é esperançosamente apenas uma memória terrível e a seleção começa uma nova aventura sem pressão.
A Itália não está entre as favoritas na Alemanha e o treinador, Luciano Spalletti, que foi contratado após a saída de Roberto Mancini para a Arábia Saudita, entra na prova como um underdog. Não é uma má perspetiva para um homem que, há apenas um ano, venceu o campeonato pelo Nápoles contra todas as expectativas.
Os campeões em título qualificaram-se em 2º no grupo C atrás da Inglaterra, com o jogo-chave a ter sido um empate sem golos, em solo alemão, frente à Ucrânia. Na Alemanha, a Itália vai enfrentar a Albânia, Espanha e Croácia num dos grupos mais difíceis do torneio. «Sermos os campeões em título é um estímulo», afirma Spalletti. «Em 2021 a Itália não estava entre as seleções mais fortes, em teoria, mas depois tornou-se numa equipa especial. Três anos depois temos de jogar um futebol livre. Pessoalmente, a minha vitória é criar uma equipa.»
Leonardo Bonucci e Giorgio Chiellini, a dupla defensiva que levou a Itália à gloria em 2021, vão ver o EURO em casa. Nicolò Barella e Gigio Donnarumma terão de dar o passo em frente e ser os jogadores-chaves numa equipa que está a ter dificuldades em encontrar soluções ofensivas e que, por lesões, não pode contar com o lateral-esquerdo Destiny Udogie e o extremo Nicolò Zaniolo.
O problema do ponta-de-lança, em particular, parece ser endémico dentro dos genes do futebol italiano, algo que também preocupa as seleções jovens. Mancini venceu o EURO 2020 com apenas dois golos de Ciro Immobile, o seu ponta-de-lança titular, e a demanda de Spalletti por um avançado demorou meses. Podem Gianluca Scamacca ou Mateo Retegui ser os herdeiros a Paolo Rossi, Totò Schillaci, Christian Vieri e os avançados que escreveram história na maglia azzurra?
O selecionador
Luciano Spalletti irá comandar pela primeira vez a seleção num grande torneio. Nas últimas duas décadas treinou a Roma, Zenit, Roma novamente, Inter e Nápoles, ganhando um campeonato italiano e duas ligas russas. Aos 65 anos, tem o corpo de um homem nos seus ‘50s’ e não tem medo de tomar decisões pouco populares. Spalletti usou o 3-4-2-1 e 4-3-3, uma abordagem semelhante à do seu antecessor, Mancini, mas o novo selecionador é definitivamente mais estrito. Em fevereiro foi notícia ao dizer que não deixa os seus jogadores jogarem videojogos: «Se a modernidade é jogar PlayStation até às 4 da manhã na noite antes de um jogo, então a modernidade não é uma coisa boa. A seleção tem de ser uma alcateia. Os jogadores vêm jogar na seleção para ganhar o EURO, não para ganhar no Call of Duty.» Mensagem clara.
O ícone
Gianluigi Donnarumma a manter-se quieto como uma estátua após defender o penálti de Bukayo Saka, com um subtil sorriso no rosto, foi uma das imagens icónicas da vitória de Itália no EURO 2020. Teve uma boa época no PSG e habituou-se a enfrentar as críticas. «Não é fácil lidar com os críticos, mas temos de ser profissionais, de nos manter equilibrados e calmos», disse. Spalletti comentou: «O Gigio nunca foi perdoado por ser um jovem prodígio que, pelo seu talento, passou à frente [de muitos].» Sem Chiellini (retirado) e sem Immobile (não está no plantel), há uma novidade este verão: Donnarumma, aos 25 anos, será o capitão de Itália.
Para ter debaixo de olho
Davide Frattesi pode ser a próxima ‘next big thing’ no futebol italiano. Na sua primeira época com o Inter fez alguns jogos como titular, mas marcou 6 golos e fui importante na reviravolta em Lisboa frente ao Benfica (de 3-0 para 3-3) em novembro. Na qualificação, com a seleção, foi o homem do jogo na importante partida caseira frente à Ucrânia. Foi criticado durante o dérbi de Milão jogado em setembro quando, com o Inter a vencer por 4-1, mandou calar Rafael Leão e mostrou-lhe 4 dedos, antes de marcar ele próprio o 5-1.
Espírito rebelde
Gianluca Mancini é o rei do inesperado. Num espaço de 12 dias neste ano, de 6 a 18 de abril, marcou o único golo no dérbi de Roma, mostrou uma tarja ofensiva aos adeptos da Lazio, foi multado pelo comité jurídico da Serie A e marcou 2 golos para eliminar o AC Milan da Liga Europa. Muito intenso. Além disso, viralizou no mesmo período quando a RyanAir respondeu a um tweet de um adepto da Roma, dizendo ironicamente que só a companhia aérea era mais odiada pelos italianos do que Mancini.
A espinha dorsal
Donnarumma, Bastoni, Barella, Scamacca. Quatro jogadores, nenhum para além dos 27 anos, aos quais é pedido que sejam os novos líderes da seleção. Nascidos no fim do século XX, começaram a ver futebol quando a Itália ganhou o Mundial 2006 e são bons símbolos da Gen Z italiana, que se habituou a ver o Mundial na televisão sem a Itália estar envolvida e a torcer pela Islândia, Panamá ou Argentina (mas nunca peça França…). Têm todos a qualidade para serem o centro das atenções e levarem a seleção à vitória (ou à meia-final, desta vez, o que parece ser um objetivo mais realista).
Onze provável
3-4-2-1 Donnarumma - Di Lorenzo, Buongiorno, Bastoni - Cambiaso, Barella, Jorginho, Dimarco - Chiesa, Pellegrini - Scamacca
Adepto famoso
Ok, em 1982 Mick Jagger cantou com uma camisola de Polo Rossi (e disse «A Itália vai ganhar a Alemanha, 3-1», um profeta!). Ok, a Sharon Stone disse «Brava Itália!» nas redes sociais quando venceram o EURO 2020 frente a Inglaterra. Mas, também há três anos, depois da final em Londres, Madonna lembrou-se que tem avós italianos e postou uma história com o bom, velho slogan: «Italians do it better!» Não consegues bater isso.
Petisco
O tempo passou desde que Fantozzi, uma icónica personagem fictícia do cinema italiano do século XX, via um jogo de qualificação entre a Inglaterra e Itália a comer uma omelete gigante com cebolas. Em 2024, os italianos encontram-se para comer pizza (o que mais podia ser), uma cerveja e, possivelmente, tiramisu para o prolongamento. Plano B: esparguete. Como Chiellini e Bonucci disseram em resposta a algumas provocações dos adeptos ingleses no EURO 2020: «Nós continuamos a comer pasta… e tu?»