O lado luminoso do Europeu
Os adeptos portugueses gostam mais de festa que os comentadores profissionais (FOTO ANDRÉ ALVES)

Opinião O lado luminoso do Europeu

OPINIÃO03.07.202412:00

Porque é que tendemos a ver sempre os lados negros e a ignorar o melhor do futebol?

Para cada erro técnico-tático que assinalam arranjo um grande momento de futebol para a troca.

O Euro-2024 está a ser bom. Tem tido jogos interessantes, já houve surpresas, é um regalo ver jogar uma Suíça, uma Áustria ou até uma Geórgia pelas quais ninguém apostava a ponta de um cabelo a 14 de junho, quando isto tudo começou.

Tem sido ótimo ver a Espanha espalhar o talento e a organização que se lhe reconhecem. Será a principal candidata? Se pensarmos no futebol jogado, sim. Por outro lado vai defrontar a Alemanha. E a Alemanha é a Alemanha. E depois até pode calhar contra Portugal. Ou França.

A bênção dos anos pares, entre os adeptos de futebol, é haver Campeonatos da Europa e do Mundo para entreter o defeso. Quando reparamos bem já os clubes estão a trabalhar e ainda vai o torneio a meio. Acaba o Euro e começam os jogos de preparação. Os anos pares poupam-nos a um jejum doloroso para quem vive mal sem uns joguinhos para espreitar. Os anos ímpares tiveram recentemente um paliativo chamado Liga das Nações, mas por enquanto não passa disso mesmo, um paliativo que nos faz suspirar pelo ano par seguinte.

Acontece que este ano, quando decorre um Europeu bastante interessante, somos inundados por ideias técnico-táticas que por vezes nos fazem pensar se estamos a ver uma competição de futebol ou uma loja de horrores.

É a França que aborrece; a Inglaterra que joga mal; a Espanha que tremeu (não sei onde nem quando, mas já li); a Itália que foi eliminada porque não defende como antes; Portugal que tem tudo errado do ponto de vista da ideia de jogo; a Bélgica que não ataca; os Países Baixos que já não são o que eram e a Escócia que é limitadíssima (aqui têm razão).

No último domingo, por exemplo, tivemos um pontapé de bicicleta a virar um jogo que parecia resolvido. Tivemos também a melhor equipa a dar a volta a uma desvantagem esporádica com esplendor sobre a relva.

Anteontem tivemos um guarda-redes que defendeu três penáltis formais e um penálti informal aos 115 minutos do prolongamento de um jogo em que o menos forte fez frente ao mais forte como só no futebol acontece, mesmo que com estacionamento de autocarros de dois andares em frente à área.

E em vez de glorificarmos os feitos, de agradecer aos canais pagos a possibilidade de os vermos todos (assim tenhamos tempo e dinheiro), dizemos que o campeonato está fraco. E que Portugal não joga nada e a Inglaterra é sempre uma desilusão e mais valia ver a novela nova que tem um enredo interessante. Merecemos anos ímpares.

Somos portugueses, somos assim? Se calhar nem tanto. Enquanto se liam e ouviam senadores e senadoras a rasgar a Seleção e as ideias de Roberto Martínez, viam-se pessoas nas ruas a festejar a passagem aos quartos de final. Fazia-nos bem, até à pele, olhar mais vezes para o bright side of life.