Internacionalização e desafios do futebol português: tudo o que disse Pedro Proença
Pedro Proença responde a questões no final da XII Cimeira de Presidentes. Foto: Ricardo Gonçalves

Internacionalização e desafios do futebol português: tudo o que disse Pedro Proença

NACIONAL27.03.202415:52

Presidente da Liga fez uma declaração e respondeu às perguntas dos jornalistas no final da XII Cimeira dos Presidentes

Pedro Proença é, por estes dias, uma figura de renome no futebol a nível nacional e internacional. O presidente da Liga é, em simultâneo, o atual presidente da European Leagues, pelo que considera que Portugal consegue ter, neste momento, uma grande influência e voz ativa no futuro do futebol europeu.

O antigo árbitro começou por deixar uma mensagem aos jornalistas, no final da XII Cimeira de Presidentes, respondendo depois a questões relacionadas com a internacionalização do futebol português enquanto produto de massas e dos desafios que o futebol enfrenta, tanto a nível nacional como internacional. Abordou tópicos relacionados com o calendário apertado, a forma como as competições nacionais — e os clubes de menor dimensão — acomodam o maior volume de jogos internacionais, discutiu formas de fomentar a adesão dos adeptos ao desporto nos recintos, e mencionou também o que espera do novo governo em termos de políticas para o desporto nacional.

Pedro Proença responde a questões no final da XII Cimeira de Presidentes. Foto: Ricardo Gonçalves

Leia aqui tudo o que disse Pedro Proença:

«A XII Cimeira de Presidentes teve dois grandes temas: o primeiro, de internacionalização, onde tivemos a presença do presidente Ceferin, o presidente da UEFA, do presidente Nasser da ECA, o presidente da European Leagues, da Liga Portugal e da FPF, onde analisámos quais vão ser as consequências das novas alterações dos quadros competitivos a partir de 2024 e os valores de distribuição e as receitas que participam nas competições internacionais.»

«Numa segunda parte, discutimos e refletimos sobre os desafios que se vão colocar ao futebol português. Há uma preocupação por parte dos clubes com esta mudança de ciclo político, e, portanto, houve alguns assuntos que estavam a ser discutidos com a tutela. Foi uma assembleia que decorreu com um espírito muito positivo, esta conformidade que hoje por inerência de estarmos a frente da presidência da European Leagues permite-nos ter um conjunto de parceiros internacionais que partilham connosco as realidades futuras.»

— O impacto que esta cimeira tem para as 34 sociedades desportivas, sendo que também se proporciona uma relação direta com os principais órgãos de futebol europeus (UEFA, ECA e European Leagues).

«Penso que há uma realidade que existe hoje e que começou em dezembro do ano passado. A questão de estarmos à frente da presidência da European Leagues, que nos permite estar no comité executivo da UEFA. Passámos a ter uma palavra preponderante nas decisões internacionais, que coloca a Liga Portugal e os clubes portugueses num espaço diferente e que nos permite ter uma voz ativa na defesa dos interesses das ligas médias e pequenas, que é o caso da Liga portuguesa.»

— Tendo em conta o maior volume de jogos europeus, já existe algo concreto e pensado sobre o que vai mudar no calendário em Portugal, sendo que os clubes, atualmente, já se queixam de haver jogos a mais?

«Nós já sabíamos isto, todo este tema do calendário internacional pós-2024 já foi discutido em outras cimeiras, nós adaptámos as nossas competições para essa nova realidade. Sabemos que vai haver mais cinco datas UEFA que vão ocupar espaço no calendário desportivo, a redução do número de jogos da Taça da Liga foi já com esse objetivo de poder aliviar o calendário desportivo para os clubes. Hoje foi perceber o modelo e de que forma isto acontecerá. Sabemos da importância que as competições internacionais têm para os clubes portugueses, e, portanto, adaptámo-nos a essa nova realidade, alterando em concreto a Taça da Liga.»

— Em relação à questão dos jogos internacionais, será preciso pensar num futuro próximo em permitir que os clubes consigam janelas de fins de semana para os jogadores recuperar? Acredita que esta será uma realidade em breve para os clubes portugueses, para que não estejam em desigualdade em relação a clubes de outros países?

«Isso já aconteceu com esta época, já tivemos jogos adiados em função do calendário de jogos internacionais. Há uma relação muito direta entre o que é o planeamento do calendário desportivo dos clubes e dos seus interesses nacionais e os locais. Aconteceu este ano, alterámos jogos em virtude de um calendário mais apertado em termos internacionais, na defesa dos interesses nacionais e das competições nacionais. Essas conversas acontecem, tendo sempre o espírito de solidariedade e de participação dos clubes médios ou pequenos que, sabendo que têm de competir contra clubes que participam em competições internacionais, se permitem a essas alterações de calendários para se poder fazer a salvaguarda desportiva. É uma realidade que tem acontecido, já aconteceu esta época, para o ano acontecerá também.»

— Temos estado a falar da internacionalização da Liga como produto, mas a nível nacional, como é que a Liga está a trabalhar para aumentar o envolvimento dos adeptos, para melhorar a experiência e levar mais adeptos ao estádio?

«É uma preocupação constante, ainda hoje falámos do que será um dos grandes desafios, o investimento em infraestruturas. A nova experiência para o adepto e a forma como o futebol hoje é consumido. É uma preocupação dos clubes perceber que o futebol como atividade de entretenimento compete com outras atividades desta área, e, portanto, a capacidade que teremos em poder ter parte do investimento que é feito nas épocas em infraestruturas é fundamental se queremos que as famílias regressem aos estádios, se sintam seguras e confortáveis, e que a experiência que tiram do futebol seja positiva e diferente. Há essa preocupação, está a ser discutido e vamos encontrar soluções para tornar o futebol em Portugal mais atrativo.»

É a primeira cimeira em que participa onde acumula as funções de presidente da Liga e da European Leagues. Que balanço faz da nova realidade?

«Tem sido gratificante, positivo para os interesses da Liga Portugal e do futebol português. Estamos neste momento no centro das questões internacionais, não só pela presidência da European Leagues mas também por estarmos no comité executivo da UEFA. Passamos a ter uma voz ativa no curto espaço de tempo que tivemos, pouco mais de 2 meses. O futebol português passará a ter uma voz ativa.»

— Mensagem para os clubes na reta final do campeonato:

«O apelo ao fair play é sempre constante. Felizmente, a liga portuguesa é altamente competitiva, foi isso que hoje mais uma vez partilhámos, com dados métricos, comparando por exemplo com as Big 5 (cinco principais ligas europeias). A diferença pontual do primeiro para o quarto classificado em Portugal permite-nos dizer que, muitas vezes, só na última jornada é que se sabe quem é o campeão, quem vai às competições internacionais e quem é despromovido, e essa competitividade acontece na primeira liga e também na segunda. A palavra foi de apelo ao espírito de fair play, de competição justa e estamos todos preparados e empenhados para que tenhamos uma reta final segura, competitiva e emotiva para o adepto.»

— Houve uma mudança política, a Liga já interpelou na campanha eleitoral que gostaria que houvesse mais respeito pelos clubes, uma vez que movimentam 0,3% do PIB. Para este governo, tem alguma proposta?

«Essas propostas já foram até partilhadas, quando se discutiam as campanhas eleitorais. Foram enviadas para todos os partidos, daquilo que é o caderno de encargos da indústria do futebol profissional. A redução dos custos de enquadramento para quem compete quer em termos nacionais quer em termos internacionais é fundamental. A redução da taxa do IVA, do IRS, do IRC, a capacidade de podermos definitivamente voltar a mexer no decreto lei que define a chave de repartição das apostas desportivas. Há uma série de assuntos, uma agenda que queremos ver discutida o quanto antes. Estamos na expectativa de rapidamente termos o poder executivo que possa ser interlocutor para a nossa agenda, assim que soubermos quem ficará com a pasta do desporto rapidamente nos sentaremos para discutir as alterações que achamos devem ser feitas.»