Inglaterra-Suíça: entre o desperdício de talento e o aproveitamento de capacidades
Jude Bellingham tem sido o 'menos mau' de Inglaterra: já leva dois golos e, não jogando de forma brilhante, aparece nos momentos decisivos
Foto: IMAGO

Antevisão Inglaterra-Suíça: entre o desperdício de talento e o aproveitamento de capacidades

Ingleses são uma das grandes desilusões do Euro 2024, tendo em conta o talento que têm, enquanto os suíços demonstram uma capacidade coletiva (quase) inalcançável

Inglaterra e Suíça são duas seleções, à partida, muito díspares no que à qualidade absoluta diz respeito. Contudo, este duelo dos quartos de final é fruto de dois percursos que têm mostrado que não são os nomes nem os estatutos que entram em campo.

A história do futebol afasta estes dois emblemas. A campeã do Mundo de 1966, a Inglaterra, nunca mais conseguiu chegar a outro troféu. Nunca venceu um Euro, apesar de ser a finalista vencida da última edição, e entra sempre para as competições como selo de candidata, pelos grandes nomes de clubes de topo que enverga. É sempre um nome a ter em consideração.

Pelo contrário, a Suíça nunca foi para lá dos quartos de final de qualquer prova, seja Campeonato do Mundo ou da Europa. Tem figuras apaixonantes e é uma presença de culto para os amantes do futebol mas os títulos tardam em aproximar-se.

O frente a frente destas duas nações espelha bem o poderio histórico que as divide. Em 13 jogos disputados, Inglaterra ganhou nove, houve quatro empates e a Suíça... nunca venceu. Um duelo que é, então, de má memória para os helvéticos. Só que a história não entra nas quatro linhas.

Da última vez que se encontraram, em março de 2022, Inglaterra venceu por 2-1 (IMAGO)

Inglaterra: muita parra, pouca uva

Harry Kane, Jude Bellingham, Phil Foden, Declan Rice, Alexander-Arnold ou Kyle Walker são apenas alguns dos nomes sensacionais que Gareth Southgate tem ao seu dispor. O mais caro plantel de todo o Euro 2024, avaliado em cerca de 1,8 mil milhões de euros (!), tem tido, contudo, dificuldades em afirmar-se.

As estrelas inglesas continuam a sua preparação (IMAGO)

Será, porventura, um eufemismo dizê-lo desta maneira. O jogo inglês é, na verdade, bastante pobre. Além daquilo que os resultados comprovam - em quatro jogos, quatro golos marcados e apenas uma vitória nos 90' -, há uma certa anarquia no jogo dos Três Leões. Há muita dificuldade de criação de dinâmicas entre os jogadores, o jogo é muito mastigado, há muitas dificuldades em arranjar soluções para perfurar os blocos baixos dos adversários e, quando em vantagem, nota-se um certo nervosismo - veja-se o caso do jogo com a Dinamarca, em que, após o golo de Kane, a equipa desceu toda para o primeiro terço do terreno. Gareth Southgate continua a sobreviver no cargo, mas a verdade é que, não fosse pelas exibições individuais de alguns jogadores, em particular de Jude Bellingham, Inglaterra podia já nem estar em competição.

Um pontapé maravilhoso do jovem inglês, de apenas 21 anos, salvou de uma humilhante derrota frente à Eslováquia. Uma bicicleta já para lá dos 90', em lance de génio individual, espelha tudo o que foi anteriormente dito: neste momento, a Inglaterra, que podia lutar pelo prémio com apenas três ou quatro conjuntos pré-destinados, vai conseguindo avançar a muito custo, só devido ao talento individual. Do outro lado, os princípios são bem diferentes...

Suíça: muito mais que a soma das partes

Murat Yakin, selecionador da Suíça, deu à equipa um estilo próprio, com personalidade e que funciona. É um coletivo com várias dinâmicas bem vincadas, que, ainda assim, não perde na fluidez. Há várias alternativas para vários cenários - só no ataque, Duah, Vargas, Shaqiri, Ndoye e Embolo já foram titulares para três posições - e jogadores como Xhaka, no meio-campo, Akanji, na defesa ou Sommer, na baliza, são os grandes pilares deste conjunto.

Em 3x4x3, com Aebischer, médio adaptado a ala esquerdo que se junta muito ao meio e abre espaço a Rúben Vargas mais junto à linha, esta seleção só capitulou contra aquela que era, possivelmente, a mais fácil das adversárias, ao empatar com a Escócia. Também empatou contra a favorita e anfitriã Alemanha e dominou Hungria e Itália, que venceu sem qualquer sombra de dúvida. Uma equipa ativa, pressionante e inteligente, que joga como um todo. Foi mesmo frente aos italianos que parece ter aparecido a derradeira Suíça em termos de maturidade: os campeões da Europa, que podiam parecer, à partida, os favoritos, não conseguiram em momento algum supreiorizar-se ao avassalador poder do coletivo helvético.

Onzes prováveis:

Inglaterra - 4x2x3x1 - Pickford; Walker, Stones, Gomez e Trippier; Mainoo e Rice; Bellingham, Saka e Foden; Kane

Suíça - 3x4x3 - Sommer; Schar, Akanji e Ricardo Rodriguez; Widmer, Xhaka, Freuler e Aebischer; Vargas, Ndoye e Embolo

Gareth Southgate: «A Suíça tem sido muito boa»

Gareth Southgate, selecionador da Inglaterra (IMAGO)

A Suíça tem sido muito boa. Não vou dizer como vamos jogar, mas temos o jogo preparado para enfrentar o nosso adversário. Lado fácil do sorteio? É um exemplo clássico da nossa presunção enquanto nação, que cria drama e enfurece os adversários.

Murat Yakin: «Vamos causar problemas a Inglaterra»

Murat Yakin, selecionador da Suíça (IMAGO)

Inglaterra tem muita qualidade, mas estamos em boa forma, confiantes e mostrámos que podemos jogar contra equipas grandes, como Alemanha e Itália. Vamos causar problemas a Inglaterra. Vamos continuar a mostrar a nossa filosofia. Vai ser muito difícil, mas vamos fazer o possível para sairmos por cima.

O jogo começa pelas 17 horas, com arbitragem de Daniele Orsato.