Gyokeres, superequipa e a promessa aos adeptos: tudo o que disse Rui Borges
Treinador do Sporting fez a antevisão do jogo com o Arouca, garantiu que Gyokeres está apto para ir a jogo e realçou que a ambição de ser campeão tem se sobrepor a tudo
- O Arouca é das equipas que tem subido mais de rendimento na Liga, não perde há seis jogos e nos últimos oito marcou sempre. Que dificuldades espera para o jogo de amanhã?
- É uma equipa à imagem do seu treinador, o qual admiro. Muito bem organizada, gosta de jogar, valorizar o jogo, tenta dividir o jogo. É importante para aquilo que é valorização do futebol em si. É uma equipa que tem vindo a crescer nesse sentido, a aprimorar e a melhorar cada vez mais os comportamentos, principalmente em termos ofensivos, é uma equipa muito dinâmica, com bons jogadores, boas tomadas de decisão, é bem clara a ideia de jogo deles. É uma equipa que virá a Alvalade acredito que para dividir o jogo e compete-nos manter o nosso caminho, ser o que temos sido ao longo deste tempo, tirando os jogos da Champions, onde realmente não fomos tão capazes. Sermos competentes, fazer um bom jogo, dentro daquilo que as equipas do outro lado também nos têm proporcionado, ultimamente temos apanhado equipas com blocos muito baixos, com linhas de cinco, acredito que amanhã não acontecerá o mesmo. Acredito que será um bom jogo, perante uma equipa que está a crescer, mas queremos ser Sporting, queremos ganhar e manter a nossa posição, manter distâncias para o nosso objetivo final.
- Confirma que a lesão de Gyokeres é no adutor esquerdo? O que pode avançar sobre a situação clínica do avançado? Quanto a Morita, estará e fora das opções por um mês?
- Sim, o Morita tem uma lesão que não era a que tinha e vai estar parado, pelo menos, três a quatro semanas, é o que posso dizer. Em relação ao Viktor está apto, disponível para jogo. Só e apenas, mais nada do que isso. Adutor esquerdo? Está disponível para jogo.
- Diomande foi suspenso por dois jogos, com o árbitro João Pinheiro a mencionar uma cabeçada no relatório do clássico no Dragão. Que comentário lhe merece o castigo e o que foi escrito pelo árbitro?
- Sem fugir muito à ética que tenho tido ao longo da carreira, posso num ou outro momento ter falado alguma coisa em relação a arbitragem, mas nada muito alongado, o clube também tem essa ética, estamos no mesmo sentido. Por isso, sem entrar muito naquilo que é o árbitro em questão, não o fiz no fim do jogo, apesar de estar chateado ou não com as decisões, a única coisa que peço e que faz sentido dizer é que olhem para as coisas de igual modo, com o mesmo critério para castigos, tomadas de decisão, apenas e só. Sem entrar muito no que é o árbitro individualmente, porque no meu anterior clube também passei por coisas parecida e a dualidade de critérios foi um bocado diferente, mas só pedimos um bocadinho de igualdade em relação ao que são castigos das outras equipas da Liga e fazer o mesmo connosco.
- Gyokeres poderá jogar de início como Arouca? Diomande é uma baixa de vulto por dois jogos. Acha excessivo o tempo do castigo?
- A suspensão foi o que acabei de dizer, peço o mesmo critério que têm tido para com outros clubes e jogadores. A parte jurídica do clube já está ativa nesse sentido, vamos esperar que no fim disso sejam coerentes nas tomadas de decisões. Em relação ao Viktor, já respondi: está apto, disponível para jogo, se joga ou não de início é a minha decisão. Está dsponível para jogo, apenas e só. É um não assunto.
- É claro o défice físico da equipa. Aliás, o Sporting parece, neste momento, a equipa mais cansada da Europa, principalmente nas segundas partes. Por que razão isto tem acontecido? Foi herança das equipas técnicas anteriores? O mercado de transferências de janeiro não poderia ter servido para compensar isso?
- Entendo a pergunta. A parte física é clara. Para responder com dados, a nível da UEFA somos a equipa com maior média de jogos em termos mensais, uma média de 6,4 ou 6.2, o resto tem médio de 5 e qualquer coisa. É a equipa se calhar com mais jogo a nível da Europa ou talvez do mundo, talvez o campeonato brasileiro tenha mais um acréscimo, isto dita bem o que temos tido ao longo do tempo. Desde que estou aqui, há mês e meio, a nível de treinos aquisitivos, com intensidade, fiz apenas dois. É difícil. Em relação ao que é herdar, não vou falar do que foi para trás, jamais o farei e arranjarei o que quer que seja para me desculpar ou sacudir a água do capote. A equipa está cansada porque temos tido algumas lesões, têm jogado os mesmos jogadores, durante vários jogos seguidos, o Morten [Hjulmand] parou agora ao fim de 15 jogos seguidos a fazer 90 minutos... Os jogadores não são máquinas, são seres humanos, já disse isso várias vezes. O cansaço existe e não podemos fugir a isso. Ninguém quer ganhar mais do que eu... Neste jogo da Champions não fomos capazes na segunda parte, mas não só no défice físico, falhámos também noutras coisas. Não fomos tão intensos, competitivos, as tomadas de decisão foram mais lentas. E isso não é desculpa, mas é algo que existe. Para ser muito claro, olham só para o jogo, é normal, mas vou dar um exemplo, no jogo com o Dortmund, o Sporting campeão teve sete titulares de fora. Sete: Morten, Viktor, Pote, Morita, Inácio, Nuno Santos e Geny Catamo... é preciso olhar para as coisas de forma geral. Com jogadores adaptados, é normal que a equipa se ressinta. Fizemos uma primeira parte bastante intensa e depois caímos um bocadinho. Os jogadores têm sido fantásticos. E tirando a Champions, no campeonato estamos muito bem. Chegámos aqui com menos um ponto e estamos quatro à frente, temos o melhor ataque e melhor defesa, que não era, Fiz dois jogos com o Benfica, dois com o FC Porto, é normal que a equipa se ressinta em algum momento. Acreditamos que vamos ficar melhores, que vamos conseguir recuperar a malta e responder da melhor forma à reta final do campeonato. Mercado? Fiquei feliz porque o Sporting não deixou sair ninguém. O Viktor, o Morten, são apetecíveis para toda a gente e fomos capazes de os manter.
- O Sporting não deixou sair ninguém, mas muitos dos que estavam lesionados continua e, por isso, tem poucas opções. Durante este período em que se fala tanto de perdas por lesão e suspensão, tem ganho alguma coisa?
- Sim, tenho. O Iván [Fresneda] tinha pouquíssimos minutos em ano e meio e tem crescido a cada jogo que passa, tem conseguido corresponder. O Zeno [Debast] também, numas posição que não é a dele, o próprio [João] Simões, cada vez mais importante naquilo que é a dinâmica da equipa, um miúdo que se tem imposto ao longo deste tempo, estreou-se com o João [Pereira] e tem vindo a ser capacitado cada vez mais de se sentir como jogador da equipa principal, porque o é. O próprio Harder também nesse sentido. Portanto, temos ganho alguma margem de minutos para gente que estava à espera de oportunidades, alguns adaptados, têm tido essa capacidade de conseguir estar ligados, estar felizes e prontos para ajudar a equipa, resta-me enaltecê-lo, têm sido fantásticos até aqui. Nos jogos da Champions não temos sido capazes de dar a resposta que estávamos à espera, mas não fujo a isso. Naquilo que é o objetivo de sermos campeões, eles têm sentido e sido capazes na forma fantástica de responder.
- Está no comando técnico do Sporting há 11 jogos e conseguir repetir um 11 tem sido autêntica miragem, embora no outro prato da balança Fresneda tenha ganho nova vida, Maxi Araújo está cada vez mais confortável numa posição que não é a sua e João Simões a dar cartas. Esse é o seu maior desafio?
- Sim, mas a vida de treinador é isso mesmo, um desafio constante. Por isso é que se calhar os treinadores portugueses são tão conceituados, por serem capazes de agarrar os desafios, ter constantes adaptações para o que encontram. Tem sido muito desafiante porquê? Porque entro num clube que, naquele momento, não estava com tanta harmonia, tinha muitas lesões, tinha acabado de sair um treinador que marcou um momento do clube e é normal fazer comparações. Eu sou o Rui Borges, disse-o no primeiro dia em que cheguei aqui. O Ruben foi fantástico, admiro-o imenso. Mas agora é Rui Borges. É um grande desafio, estou num grande clube, algo com que sempre sonhei. É o maior desafio da minha vida? É. Mas é para isso que trabalhamos e lutamos todos os dias, para sermos muito felizes, que vamos ser com toda a certeza.
- Geny Catamo já pode jogar amanhã? Tendo em conta que continuar na Champions está difícil, isso permite-lhe focar mais no campeonato e não pensar em gestões?
- A gestão não se prende com os jogos, com a competição. Entra sempre o melhor 11 para o próprio jogo, independentemente de haver ou não alguma gestão, daquilo que tem sido o acumular de termos físicos. O nosso objetivo é ganhar, independentemente de ser campeonato ou Champions. E na Champions não temos sido capazes e o responsável sou eu, não fugo a isso, ponto. Amanhã entraremos com o melhor 11, com toda a certeza. Entraremos fortes, com ambição enorme de ganhar. E acredito que, com o passar do tempo, vamos ser melhores, mais constantes durante mais tempo. Faz parte do processo, é toda uma conjuntura muito diversa que precisa de algum tempo. O Geny [Catamo] está fora deste jogo e estará fora do jogo da Champions também.
- Não teme que uma equipa como o Arouca, com menos carga competitiva, possa vir a Alvalade causar muitos problemas?
- Olhamos para todos os clubes que temos defrontado na Liga e podemos ir por esse pensamento. A maior motivação que podemos ter é estar em primeiro e lutar para sermos campeões, bicampeões. Essa ambição e esse desejo vai-se sobrepor sempre ao adversário que encontrarmos pela frente, independentemente de estarmos mais ou menos cansados, temos de ser capazes de lutar contra isso e ser competentes. Tenho dito que em alguns jogos não jogámos assim tão bem, mas fomos competentes e estamos numa fase em que precisamos, primeiro de ser competente, por várias coisas, treinador novo, novas dinâmicas, sem tempo de treino, tudo. Nesta fase é ser competentes e a malta tem sido muito competente nos nossos jogos, principalmente no campeonato, e amanhã não foge à regra. A ambição de querer ser bicampeões tem de sobrepor-se a tudo.
- Durante os últimos 15 meses de Ruben Amorim, o Sporting foi aquilo que os adeptos consideravam ser uma superequipa. Você cumpre 50 dias no comando técnico, pode prometer aos adeptos que, consigo, o Sporting vai voltar a ser uma superequipa ou precisa de uma pré-epoca ou mais tempo de treino?
- Assim como o Ruben também precisa no Manchester, se calhar... Se formos às comparações... Esqueçam isso. O Sporting tem a melhor equipa, vai em primeiro. Aos adeptos prometo trabalho e lutar para ser campeão. É isso que quero, ganhar todos os jogos em que estamos inseridos, todos, independentemente das competições. E quero que sejamos uma grande equipa. Para já somos a melhor porque vamos à frente. Superequipa? Depende do que para vocês é ser uma superequipa e do que é para mim. Diferentes maneiras de pensar e de olhar para o jogo. A mim compete-me chegar ao fim e o que mais querem os sócios, é o que eu mais quero. Ser campeão.
- Esta quebra do Sporting nas segundas partes pode ser algo psicológico, até porque os jogadores vêm de um período de descanso ao intervalo? Como pretende resolver este problema?
- Psicológica... só se o mister lhes dá chá de limão quente ao intervalo e eles adormecerem, como antigamente [risos]... São circunstâncias do futebol. Percebo o que vocês tentam dizer e aceito, mas percebam em que jogos é que se sentiu mais o baixar de forma, a vertente física. São jogos de maior exigência onde nas primeiras partes fomos claramente melhores. Há quebras. Todas as equipas passam por isso e nós também. Mas mesmo dentro desses picos, temos de ser competentes e temos sido. Dentro de portas, muito competentes, fora, a competitividade é maior, temos tido maiores dificuldades. Por exemplo, O Dortmund faz substituições com malta fresca, entram uns, saem outros, sempre a andar. O Sporting tem feito substituições com malta que já vem cansada e a ganhar minutos. Há tantos fatores, tantas coisas por onde podemos pegar. É normal. Tomara eu ter mais jogadores todos com grande disponibilidade. Para a Champions precisamos de todos a 200 por cento e nós nem a 100 estamos, como já disse. Precisamos de mais gente disponível para dar resposta, o final do campeonato vai ser muito exigente e precisamos de toda a gente. Podia entrar aqui noutras coisas, mas não vale a pena. Neste exemplo das substituições, se forem ao passado do Sporting, às vezes o Sporting mexia quatro e cinco jogadores e mantinha, nós não estamos com essa capacidade, neste momento, mais à frente vamos ver.
- Pode esclarecer a situação de Pedro Gonçalves? Lesionou-se a 11 de novembro, regressou condicionado no início de janeiro, mas ainda não está com a equipa. O que se passa com ele?
- O Pote não tem uma lesão grave, mas é uma lesão que precisa de ser bem tratada. Está no seu tempo e precisa mesmo de ser bem tratado. Está a cumprir todos os parâmetros que tem para a recuperação e quando estiver disponível, estará disponível.
- Cumpridos 50 dias no comando técnico do Sporting, qual foi, até agora, o momento mais difícil de lidar? Ao fim deste mês e meio qual a sua relação com o grupo?
- Para mim está top [risos], o grupo está fantástico. Vocês veem tanta coisa, viram o Pote a treinar... Também podem ver o que os jogadores sentem com a equipa técnica. A melhor resposta é terem sido capazes de se adaptar, sem treino, tiveram uma capacidade enorme de aceitar a mensagem, de se agarrarem ao que passamos, têm sido competentes. Não há problema a malta dizer que quer um Sporting como antigamente, mas o Sporting não vai ser como o de antigamente porque o Rui Borges é o Rui Borges, o Ruben era o Ruben, o João o João. E o Sporting de Rui Borges, até ver, tem sido forte, está em primeiro classificado. A mim compete-me ver que eles estão agarrados à ideia, à mensagem que passamos. No nosso dia a dia há uma harmonia e energia muito positivas. O que se vive na Academia é fantástico, não digo isso por estar aqui. Sou muito honesto. Às vezes dizem que o mister tem um discurso redondinho, porque vocês fazem cem vezes a mesma pergunta e eu respondo cem vezes a mesma coisa. A energia que se sente aqui tem sido fantástica, entre todos os departamentos. A dinâmica é muito boa, os jogadores estão felizes, cientes do objetivo, o nosso e dos adeptos, que é sermos campeões. É para isso que vamos lutar e é por isso que se agarram a qualquer dificuldade. Momento mais difícil? Se calhar foi perder a Taça da Liga nos penáltis, era um troféu e queria muito ganhá-lo. Sou um treinador feliz desde o primeiro dia em que vim para aqui, desde o primeiro dia em que falei com as pessoas do Sporting. Não tive Natal, que é a única data que gosto mesmo ao longo do ano, mas tive a melhor prenda que alguma vez podia pensar.»
Treinador de equipa pequena. Tão depressa não lhe perdoo a vergonha contra o décimo classificado da Alemanha. Para além de não utilizar os jogadores, ainda por cima promove a sua baixa de forma. Há uma série de jogadores em baixa de forma por falta de tempo de jogo, em que o mais flagrante é o Gyokeres.