FC Porto FC Porto - Rayo: A crónica e o positivo e negativo
DE PÉS EM PÓLVORA SECA, CABEÇA DE FOGO
FC Porto não falhou na sua boa ideia de jogo, falhou no excesso de pé incerto Não perdeu porque Baró meteu Otávio dentro da sua chuteira
O que aconteceu mesmo ao cair do pano foi ato de justiça mínima a ir do pé delicado de Romário Baró para a cabeça fulminante de Danny Namaso. Sim, ato de justiça mínima porque mesmo não se tendo visto no FC Porto um FC Porto a jogar um futebol deslumbrante e sensual, um futebol eletrizante e empolgado - fez muito mais do que o bastante para em situação normal sair do Dragão com vitória sobre o Rayo Vallecano…
O que desde logo se viu foi que em Sérgio Conceição havia aposta na continuidade (e sem surpresa…) quer no seu espírito, quer na sua ideia de jogo, quer no seu onze (ah, sim: não ter Diogo Costa na baliza foi a exceção a confirmar a regra)
O que também se viu, num ápice, foi uma das maiores virtudes que a ideia de jogo de Sérgio Conceição tem: nunca deixar de ter a baliza do adversário nos olhos - e procurar lá chegar o mais depressa possível (e sem se andar perdido por atalhos) e, isso, ontem teve traço notório: que essa procura se fizesse do frenesim e da agitação de Galeno, exuberante a rasgar para a área.
E não, não foi preciso uma quarto de hora sequer para que se percebesse que apesar de tudo isso (e de algo mais…) uma falha (e grave) o FC Porto tinha: o pé incerto de quem surgisse a tentar desfeitear Dimitrievski - e sim: também se pode afirmá-lo: na única vez, durante essa primeira parte, em que dos rematadores do FC Porto não se soltou apenas pólvora seca, o guarda-redes do Raio fez, fantástico, defesa a remate em arco de Pepê…
Antes ainda do intervalo, já se percebera outra coisa: que nunca deixando de ter no seu espírito (e nas suas ações, apesar de tudo…) os seus jogadores a reagirem esganados à perca de bola para a terem como um sinal de poder ou de voracidade - isso permitiu também ao FC Porto que o Raio Vallecano só por uma vez tivesse levado perigo aos olhos de Cláudio Ramos, num fugaz contra-ataque. Ah! Pois: percebera-se outra coisa mais: que Sérgio Conceição queria a equipa a bascular mais o seu jogo - procurando mais o que raramente se via: o aproveitamento do génio de Pepê para incendiar o flanco direito como Galeno incendiava o esquerdo. Para isso é preciso mais velocidade e mais esperteza - e, nesse ponto, não se via muito nem uma coisa nem outra…
O que também não deixara de ver era uma outra forma de primor - o modo como Otávio consegue, de súbito e de um instante para o outro, ser, genial, o jogador que é - o jogador capaz de jogar como um camaleão a mudar de pele para enganar adversários, o jogador capaz de jogar como um pirilampo a lucilar para iluminar o jogo da equipa, o jogador capaz de transformar um beco sem saída numa linha de horizonte. Pois, nas três ou quatro vezes que o conseguiu (sobretudo nessa segunda parte do FC Porto melhor…) continuou o FC Porto a tropeçar no pé incerto de quem tinha de rematar para golo - e Taremi nem sequer de penálti (um penáti indiscutível que saiu de um rasgo de Zaidu à Galeno) fez golo…
Com o FC Porto melhor (sobretudo na sua dinâmica e na sua argúcia…) - apesar de ir dando, de quando em quando, a sensação de que para além de Otávio precisa no seu meio-campo de um jogador ainda mais… nº 10, um n.º 10 capaz de lhe dar uma dimensão superior - o Rayo Vallecanno foi surgindo com mais malícia na busca do contra-ataque. É, se no primeiro tempo quase nunca teve bola (bola para utilizar bem…) no segundo teve um bocadinho mais - e, após, duas ameaças, Álvaro Garcia fez golo, golo a fazer lembrar aquele famoso de Jordão contra a França, no Euro 1984. Parecido foi, igual não - porque se a cabeça de Jordão pensou fazer o que o pé de Jordão fez, não tenho a certeza de que o pé de Álvaro García tenha feito aquilo que a sua cabeça pensou…
Não, também não se pode dizer que com as substituições feitas por Sérgio Conceição, a equipa melhorou - mas pode dizer-se que não piorou, não piorou, sobretudo, no seu espírito.
Não se deixou perder na tentação da posse excessiva da bola (sem saber bem o que fazer com ela), não se deixou perder na obsessão de usar a bola como uma extravagância inócua - e Fran Navarro não foi capaz de aproveitar mais um lance de poesia em flor de Otávio (se bem que, dessa vez, também houvesse mérito alto outra vez em Dimitrievski…)
Com Romário Baró a tentar puxar cada vez mais para dentro das suas chuteiras o Otávio (e Gonçalo Borges a tentar fazer o mesmo com o Galeno) - ao minuto 90+8 conseguiu-o num primor, no modo como pôs a bola na cabeça de Namaso, o 1-1.
O POSITIVO
No perigo a chegar à baliza do Rayo houve sempre Galeno em fogacho e Otávio em poesia. E, depois, também houve no Baró esse Otávio - e brilho por outro modo não só no Baró...
O NEGATIVO
Mesmo sob o efeito da pré-temporada no seu jogo, o FC Porto, o FC Porto abusou de mais do desperdício - e do pé torto sempre que teve o golo à sua mercê (e foram várias as oportunidades...)