Nelo Vingada, treinador que lançou o defesa-central na Liga, recorda o momento da sua contratação, para o Marítimo; o jogador e o profissional; mensagem através de A BOLA
O jogo com o Antuérpia, da passada terça-feira, não foi apenas especial para Pepe. Foi lendário. Ficará, para sempre, nos anais da carreira do defesa-central. E, para já, no livro de honra da Liga dos Campeões. Até que outro jogador (se e quando isso venha a acontecer…) consiga superar o registo do capitão do FC Porto. Ou melhor: os registos.
Afinal, Pepe bateu duas marcas… no próprio jogo. Assim que se iniciou a partida, o capitão portista tornou-se o jogador de campo mais velho de sempre num jogo da Liga dos Campeões. Aos 40 anos, Pepe ultrapassou a marca que estava na posse do italiano Alessandro Costacurta. Depois disso, o número 3 dos dragões ainda conseguiu nova proeza. O golo que apontou, ao minuto 90+1, permite-lhe também passar a ser o jogador mais velho de sempre a marcar na prova milionária, superando o registo que pertencia… a outro italiano: Francesco Totti.
Central do FC Porto passa a ser o jogador mais velho a marcar um golo num jogo da Liga dos Campeões. Antuérpia fica na história do capitão, que na Bélgica passou a ser o jogador de campo com mais idade. Golo para a mãe
Mas para que estes dados sejam, agora, possíveis, tudo teve de ter um começo. E foi às profundezas da carreira de Pepe em Portugal que A BOLA foi. No caso, falando com o treinador que o lançou na elite do futebol nacional. Nelo Vingada, treinador do Marítimo na época 2001/2002, foi quem apostou em Pepe. E o técnico explica porquê.
«Na altura, numa paragem do campeonato, fui ao Brasil com o presidente Carlos Pereira para contratarmos um defesa-central. Num jogo do Corinthians Alagoano, vi o Ezequias [brasileiro que também alinhou nos insulares] e gostei. Mas o presidente do Corinthians Alagoano falou-me num miúdo que tinha lá e que eu tinha de observar. Vimos dois ou três treinos e decidimos arriscar na sua contratação. Era o Pepe. Depois disso, já no Marítimo, começou pela equipa B, às ordens do professor João Santos, mas treinava connosco na equipa A uma vez por semana. Até que o lançámos na Liga».
Foi a 12 de abril de 2002. Na 31.ª jornada, diante do Boavista (0-0). Pepe seria titular, também, nos três encontros seguintes, diante de Salgueiros (4-0), Varzim (1-0) e Benfica (3-2). A partir daí… é a história que se conhece. Marítimo, FC Porto, Real Madrid, Besiktas e, de novo, FC Porto. A tudo isto há ainda a juntar a módica quantia de 28 títulos! Nos clubes e na Seleção Nacional. É obra.
Mas a que se deve, afinal, esta longevidade aliada a uma brilhante carreira? Nelo Vingada explica: «Porque, além de ser uma pessoa fantástica, é um profissional exemplar. Teve uma evolução incrível e atingiu uma dimensão incrível por mérito seu. Tinha as suas limitações na altura, o que era perfeitamente normal, mas tinha caraterísticas incríveis que, com o trabalho inexcedível que sempre realizou, o conduziram ao patamar a que chegou.»
E é através de A BOLA que Nelo Vingada, o ‘pai’ do defesa-central no futebol português, faz questão de deixar uma mensagem ao seu antigo jogador: «Pepe, és o espelho do que deve ser um profissional de futebol. Estou extremamente orgulhoso por tudo o que conseguiste alcançar na tua carreira e desejo-te as melhores felicidades para a tua vida profissional e pessoal.»
Pepe é a verdadeira extensão do treinador dentro do campo. Sérgio Conceição agradece. Porque o internacional português (também) sabe tudo do jogo. Velhos são os trapos…