ENTREVISTA A BOLA Artur Soares Dias: «Vou continuar no futebol»
Aos 45 anos, Artur Soares Dias, árbitro internacional de largo currículo, decidiu terminar uma carreira que incluiu Europeus, Mundiais, Jogos Olímpicos e finais europeias. E decidiu dar esta entrevista a A BOLA
Artur Soares Dias pendura o apito após mais de 500 jogos em Portugal. Mais de 700, se a estes juntarmos os internacionais. Aos 45 anos o árbitro da Associação de Futebol do Porto abandona os relvados, mas não o futebol. Na primeira entrevista desde que foi anunciado o adeus à arbitragem, Artur Soares Dias foi com A BOLA até às instalações da antiga Portucel, em Viana do Castelo, fábrica onde trabalhou até 2012, quando decidiu deixar de ser diretor de Recursos Humanos para se tornar árbitro profissional de futebol. Uma viagem exclusiva por uma carreira repleta de tremendos desafios, mas que enche de orgulho o filho de Manuel Soares Dias, também árbitro.
— Porque escolheste falar pela primeira vez deste fim da carreira de arbitro aqui na antiga Portucel, em Viana do Castelo?
— É sempre um gosto darmo-nos a conhecer, verdadeiramente, muito mais para além daquilo que é um atleta que está equipado dentro do relvado, a dar umas apitadelas. Acho que nós somos muito mais do que isso. Somos pessoas, somos famílias, somos filhos, somos pais e por isso é sempre bom mostrar o que está para além daquela pessoa que todos veem. E, portanto, acho que é bom mostrar-nos nesta realidade. Fui muito feliz aqui. Foi aqui que passei muitos dos meus anos de juventude, após a faculdade. Assumi a direção de Recursos Humanos com 24 anos, na altura com 310 colaboradores e com um budget de 11,4 milhões de euros para gerir. Foi um dos meus maiores desafios, conseguir levar a bom porto uma empresa com uma dimensão tão grande.
— Como diretor de Recursos Humanos tiveste de negociar, contratar pessoas e despedir outras. Entre estes colaboradores alguns chamaram-te certamente muita coisa, mas não os palavrões que o futebol te deu a conhecer. Corrupto ninguém te chamou aqui…
— É verdade. Uma das áreas menos gratificantes dos Recursos Humanos é ter de despedir pessoas. Eu era muito resiliente, porque defendo que o despedimento deve ser a última medida a acontecer. Não me chamaram seguramente corrupto, ao contrário do que aconteceu nesses campos de futebol. Porém, poderão ter-me chamado outra coisa, mas eu não sabia, não é? Mas, no meu caso, em todos os jogadores, numa parte mais final da carreira, existia sempre um respeito enorme por aquilo que foi a história, uma compreensão pelos erros que cometi, que cometi muitos infelizmente, mas sabiam que eram humanos, e por serem humanos eram admissíveis. Nessa medida foi sempre muito gratificante.
— Mas como lidaste com insultos frequentes…
— Confesso-te que nós, quando estamos em campo, fruto da concentração, do foco naquilo que é o mais importante, que é tomar a boa decisão, passamos muito à margem daquilo que todos os outros percebem. Outra coisa é o insulto nas ruas, o insulto gratuito, o insulto barato. Esse é mais difícil de digerir, porque todos temos direito à nossa privacidade, ao respeito, e por isso eram os momentos mais difíceis. Apesar de, fruto daquilo que foi a minha carreira, o reconhecimento, em particular nos últimos anos era mais fácil. Eram mais selfies, palavras de incentivo, para não desistir e «continua». Num passado mais recente, havia cada vez mais isso, porque algumas pessoas começavam a perceber que o fim estava perto.
— Estavas nesta antiga Portucel quando, em 2010, te tornaste internacional e dois anos depois decidiste ser arbitro profissional a tempo inteiro. Como é que tomaste a decisão de abandonar esta tua vida por esse amor à arbitragem?
— Tive dois momentos na minha vida que foram os mais difíceis para tomar decisões. Um, seguramente, foi em 2012, quando, após uma viagem que fazia entre Viana do Castelo e o Porto, ouvi uma música do António Variações que todos conhecemos — «Muda de vida se tu não vives satisfeito…» [canta] Eu começar a trabalhar às 8h30 e sair daqui algumas vezes às oito horas da noite, chegava a casa cansadíssimo, ainda ia treinar e no dia a seguir de manhã cedo estava cá de novo. Chegava a casa muitas vezes exausto e dei por mim a pensar que aquilo não era vida. Eu tinha uma paixão enorme pela arbitragem e pela pressão que sentia em campo. Adoro. A resiliência é um dos nomes que me acompanha. Acredito que a paixão é essencial para o sucesso. Naquele momento decidi ir atrás da minha paixão e pensei que ia conseguir. Ia conseguir chegar aos Jogos Olímpicos, onde nenhum árbitro português tinha chegado. Quando decidi ser profissional decidi treinar-me, preparar-me, dedicar-me, esforçar-me para conseguir chegar. Não foi fácil. Eu já tinha filhos e quando deixei o mundo empresarial por umas apitadelas, como diziam, não foi fácil. Não somos valorizados, não somos bem tratados… O meu pai dizia muitas vezes: «Rapaz, ninguém consegue servir bem a dois senhores.» Eu tinha um senhor muito grande que é este [antiga Portucel] e outro senhor ainda maior que era o futebol. Decidi-me pela paixão de gerir 22 jogadores e a minha perspetiva era conquistar o mundo. Era ir por aí fora mostrar que Portugal tem referências e tem qualidade para mostrar. Que a arbitragem em Portugal é boa.
— Mas desde 2012 até hoje continua a questionar-se a qualidade da arbitragem…
— Acredito que há trabalho de fundo para ser feito, há mentalidades a serem mudadas e perspetivas novas a serem dadas. Há sangue novo para entrar e acredito que há muito trabalho a ser feito nessa matéria porque eu acho que o valor está cá e nós conseguiremos facilmente atingir esse nível, se conseguirmos mostrar esse valor que existe. É um caminho duro, vai ser um caminho difícil, mas com todos os envolvidos, incluindo os dirigentes que são igualmente muito maltratados, vamos conseguir. Se não fosse a visão desses dirigentes a fazer bons investimentos em determinados jogadores e a desenvolver as infraestruturas que desenvolvem isto seria pior. Acho que há pouco reconhecimento.
— Nem todos os problemas do futebol começam e acabam na arbitragem?
— Seguramente, mas é difícil ter essa perceção, é verdade. Se todos nos sentarmos a uma mesa, refletirmos… O futebol é uma indústria, é um negócio que dá para todos nós, se for valorizado de igual forma. Está na hora de todos pensarmos em conjunto.
— Se os árbitros falassem mais vezes ajudava?
— Eu costumo dizer que a comunicação é essencial. Vamos àquilo que é mais básico: se nós não falamos com os nossos filhos de uma forma correta, se não interagirmos com eles e se não lhes explicarmos o mundo o mais provável é eles não saberem. Temos de comunicar todos. Não termos de ter receio de dizer: «Eu errei, agora ajudem-me para que eu não torne a errar mais.» Vamos criar condições que facilitem o meu trabalho. Vamos construir, é fácil. Vamos partilhar ideias.
— Houve jogos em que gostavas de ser o diretor de Recursos Humanos que chamava os intervenientes para falar abertamente como não podias fazer enquanto árbitro?
— Adorava. Uma das questões mais valorizadas na arbitragem é o body language, é comunicação sem verbalizar, mas é muito difícil, até porque nós não vamos parar o jogo porque os adeptos querem é ver o jogo corrido. Mas adorava. O pior sentimento que tive na minha vida enquanto árbitro foi chegar a casa e perceber que errei, que prejudiquei alguém, e depois não conseguir ter oportunidade de emendar. Tinha o hábito de ir ver aquilo que correu bem e que correu mal no jogo. Deixa-me enviar uma palavra para os mais novos: ajudem-nos a serem melhores. Desde que tomei esta decisão que tomei, recebi centenas de mensagens, muitas delas de jovens a pedirem vídeos para os motivar, uma coisa que a mim me deixou admirado. Pensar que sou um ídolo para algumas pessoas… Dei por mim a pensar nisto. Há uma grande carência de árbitros. Há jogos que ficam sem ser feitos por falta de árbitros e todos nós temos de ajudar aqueles miúdos de 17 e 18 anos que querem começar. Temos de motivá-los, por isso uma palavra de apreço a esses jovens que são resilientes para conseguir construir os Soares Dias do futuro. Desejo que tenham a vida mais facilitada do que eu tive. Recordo-me que quando era nomeado para um dérbi pensava antes se iria conseguir sobreviver ou se ia ser o fim da minha carreira neste jogo. Sabemos que o nosso sucesso ou insucesso está à distância de um segundo, de um penálti, de um vermelho. Felizmente consegui sobreviver a 20 e muitos dérbis e clássicos. Agora com o VAR já não se morre num segundo, porque temos alguém que nos ajuda a tomar, e a rever, a melhor decisão.
— Decidiste ser árbitro por seres filho do árbitro Manuel Soares Dias?
— Não. O meu pai contrariava esta minha vontade, porque sabia bem a dificuldade que era ser árbitro de futebol, e na altura dele ainda muito mais. Neste momento é muito mais leve pois houve uma evolução enorme na arbitragem, em todos os níveis, fruto do trabalho de todas as pessoas que andaram à volta da arbitragem, mas naquela altura do meu pai era muito difícil e, portanto, ele nunca me incentivou.
— Como é que o bichinho da arbitragem entrou em ti?
— Olha, era miúdo. Tinha 15 anos quando fui com o meu pai fazer um jogo no antigo Estádio da Luz, cheio, e lembro-me perfeitamente de entrar naqueles túneis muito estreitinhos e ter percebido as emoções no máximo, de sentir a pressão enorme que é estar naquele lugar. Achei giro aquilo, não sabendo eu, fruto da tenra idade, no que me ia meter.
— E como é que disseste ao sr. Manuel que também ias ser árbitro?
— Eu sou pai, muitas das vezes os pais querem melhor para os filhos. Tentamos encaminhá-los para aquilo que achamos ser o melhor caminho para eles, mas todos nós temos o direito a experimentar o que quer que seja, bom e mau. Ele tentou desincentivar-me, não conseguiu e aí tornou-se o meu maior apoio e foi com ele que eu consegui cá chegar, se não não teria chegado.
— Ele morreu cedo, em 2009, e não teve a real noção da dimensão que o filho dele atingiu…
— Esse é um dos meus maiores desgostos… Eu brincava muitas vezes com ele e dizia-lhe: «Ó careca, eu vou passar-te em dois tempos.» Ele respondia: «Ó rapaz, ganha juízo.» Sempre defendi o nome Soares Dias. É das coisas que mais gosto de ter, é o respeito que tenho nele, é o que eu mais considero. É uma luta constante tentar dignificá-lo.
— E quando te ofendem custa ainda mais?
— Esta é uma sociedade que está despida de princípios e valores que são basilares, na minha opinião, e é isso que eu tenho de passar aos meus filhos. Eu acho que não vale tudo. Acho que há caminhos que têm de ser percorridos com dificuldade, mas não vale tudo.
— Tens um filho e uma filha que sempre protegeste de tudo o que se dizia?
— Tentei fechá-los ao máximo. As histórias são muito difíceis. O meu filho chegar à casa e dizer, como me disse algumas vezes, felizmente pouquíssimas, que o colega da escola lhe disse que o pai dele era um ladrão… Ouvir isto de uma criança de oito ou nove anos…. Isto vem da falta de formação, da falta de princípios e valores que é dada em casa. Infelizmente isso acontece, mas tentei proteger os meus filhos. A única coisa que eu lhes ensinei foi: «Quando alguém disser algum comentário do teu pai, diz só que o teu pai é o melhor naquilo que faz. Depois pergunta-lhe se o pai dele é tão bom quanto o teu. Se o pai dele for tão bom quanto o teu, vai ser uma pessoa muito referenciada. Porque o teu pai é muito bom naquilo que faz.»
— Em algum momento pensaste desistir?
— Muitos. Felizmente, com o passar deste tempo todo foi sendo mais fácil, mas dei por mim muitas noites a pensar «o que é que eu ando aqui a fazer?».
— Tentaram subornar-te?
— Não. Não mesmo. Porventura terá havido tentativas, mas que não chegaram a ser. Quando estamos a falar de subornos, estamos a falar de dar um fato de treino quando começamos e somos miúdos. Mas se nós cortamos logo com essas coisas pequenas, como um fato de treino ou um almoço, as pessoas ficam logo a saber que não vais nisso.
— Portanto, aquela ideia de que são todos corruptos, são todos vendidos, é pura invenção?
— Eu acredito que sim. No meu caso particular, é pura invenção. Na sociedade existem pessoas sérias e menos sérias. Eu não estou a dizer que os outros fazem ou não fazem. Eu falo por mim e vou defender-me sempre. Acredito também que os meus colegas todos da primeira categoria não tenham qualquer referência a relação a isso. Acredito na seriedade deles. Acredito que eles são exemplos a seguir para a sociedade, assim como eu tendo a ser.
— Em 2017 viveste aquele que foi talvez o pior momento da tua vida profissional, no centro de treinos da Maia. Foste ameaçado de morte por uma claque?
— Ainda bem que tocas nesse assunto. Não estava a contar e ainda bem, obrigado. São histórias que são boas para dar à sociedade perspetivas, assim como montam tantas histórias que por aí há. Na Maia há dois miúdos de 20 poucos anos que passam na rua e ao verem-me, antes de um Paços de Ferreira-FC Porto, dizem: «Se não te portares bem amanhã vimos aqui para te tratar da saúde». Eu recebi mensagens destas dezenas de vezes. E ainda agora recentemente recebo mensagens, durante a noite, a ameaçarem-me. Esta é a vida de um árbitro. Portanto, esse só foi um em milhares de contactos. O que é certo é que foi criada uma nuvem à volta disso, intencional seguramente, no sentido de manipular a sociedade, manipular as massas. Os factos ocorreram, mas foram mediatizados a uma grande escala. Mas façam-me um favor: mediatizem todos os outros, porque há muitos mais. Criem condições para que não aconteçam. Sendo certo que isso passa, essencialmente, por dar cultura aos adeptos, criar boas condições para as famílias irem aos estádios, os filhos irem aos estádios com os pais, coisa que cada vez se vê menos. Costumo sempre dizer que quando há um problema há uma causa.
— Arbitraste três jogos do Euro 2024. Porque não anunciaste o fim da carreira quando regressaste da Alemanha?
— Quando o Roberto Rosetti, meu chefe da arbitragem da UEFA, se despediu de mim, eu disse-lhe que tinha acabado a carreira. Essa decisão foi comunicada a ele e a todos os outros intervenientes da arbitragem portuguesa. Tinha planeado acabar aos 45 anos e eu sou uma pessoa de planeamento.
— Mas porque é que só soubemos na véspera da Supertaça saudita?
— Essas são as circunstâncias da nossa vida que nós não controlamos. Nós tínhamos planeado de outra forma. Achávamos que a dimensão e a grandeza da carreira deveria ser comunicada de uma forma estruturada, planeada. Essa estrutura, esse planeamento, existiu e existe, vai ser contínuo, mas tivemos pelo meio alguns acontecimentos que eu acho que não foram bem geridos. Levaram a que saísse de uma forma que não é compatível com aquilo que é a grandeza de uma carreira como a minha. Mas a vida é mesmo assim. Há imprevistos e nós só temos que ter a capacidade de os relativizar e continuar em frente.
— E no dia a seguir a isso tudo vais apitar a Supertaça saudita.
— E sou muito bem recebido pelo Jorge Jesus e pelo Luís Castro e pelo Ronaldo, o Rúben Neves, o Otávio. Foi fantástico.
— Porque é que acabas a arbitrar a Supertaça saudita e não a Supertaça portuguesa?
— Quem nomeia é o presidente e achou por bem outro colega ser nomeado. E eu acho que se deve apostar no futuro da arbitragem portuguesa.
— Sais sem mágoa?
— Nenhuma, com ninguém, mesmo aqueles que me fizeram mal. A esses também agradeço, pois foram gasolina para a minha carreira.
— És visto como o sucessor do Pedro Proença. Quando o Pedro Proença sair da Liga e rumar a outros voos, e fala-se que a Federação Portuguesa de Futebol pode ser o próximo, tu podes suceder-lhe na Liga?
— Felizmente eu posso ser qualquer coisa, mas não é qualquer coisa que eu vou ser. Eu vou continuar no desporto, seguramente, e no futebol em particular. Tenho um perfil e um conhecimento que me possibilita estar em várias possibilidades e tenho vindo a ser desafiado para várias possibilidades. Dei muito à arbitragem, mas chegou ao fim o ciclo da arbitragem. Estou seguro de que poderei valorizar de alguma forma o futebol.
— Vejo-te como alguém com para trabalhar no futebol e não só na arbitragem. É isso?
— Eu tenho a mesma visão, mas acho que ainda é prematuro fechar qualquer porta. Não estou disponível para qualquer coisa, mas estou disponível para valorizar o futebol. Esse será o caminho.
— Ainda há muito para fazer?
— Há, é preciso sangue novo nas organizações e eu sinto que tenho esse sangue. E acredito que posso ser uma mais-valia.
— Há portas também abertas lá fora?
— Existem portas abertas por lá. Mas ainda estou a viver um momento de encerrar uma carreira. Ainda está tudo a borbulhar. O caminho será encontrado com clarividência. Agora preciso de fazer o desmame. Depois de tantos fins-se-semana a viver o futebol preciso dar atenção aos meus filhos.
— Não vais ver muito futebol, nem as arbitragens dos teus colegas?
— Preciso de descansar da arbitragem.
— A arbitragem deu-te mais amigos ou mais inimigos?
— Deu-me ela por ela. A minha carreira foi muito melhor do que o que imaginava. Chegar a dois Campeonatos da Europa, um Mundial, uns Jogos Olímpicos… No ano passado estive nos 25 eleitos para melhores árbitros do Mundo. Eu nunca imaginei isto na minha vida, foi fantástico. Devo muito à arbitragem, deu-me a conhecer o mundo. Estou grato.
— Qual foi o jogador que mais gostaste de conhecer? Houve algum?
— Foram vários. Olho sempre pela positiva. Posso falar de um. Ou dois. Ou melhor três. O Pepe, que é uma pessoa fantástica. Tem aquela garra toda em campo. Fora do campo é de uma educação, atenção fantástica, respeito… Eu valorizo muito isto. Renato Sanches. Num jogo na Rússia, sem eu lhe pedir nada, bate-me à porta e entrega-me uma camisola dele. Porque eu era português e gostou da minha arbitragem. Incrível. Estas coisas marcam. Outro, Bernardo Silva, pelas mesmas razões. Valores incríveis. Mesmo em campo, distinta de outros. Mas há mais… Estes princípios é que devem ser valorizados.
— Melhor dirigente?
— Temos vários. Aqueles que são capazes de reconhecer o seu erro, o que aconteceu várias vezes. Fruto da emoção que sentem acabaram por extravasar aquilo que era normal e alguns tiveram a competência e os princípios de reconhecer o erro e pedir desculpa. Os dirigentes em Portugal deveriam ser mais valorizados, pelo que dão o futebol. Todos são determinados e agradeço-lhes por me terem aturado e mesmo quando cometia erros tiveram sempre a forma correta de me falarem deles.
— O treinador mais difícil no banco?
— São todos. Uns extravasam mais do que outros, mas como gosto do positivo recordo o Jorge Jesus, que teve a amabilidade de me dar uma camisola e de fazer um corredor para me aplaudirem. Estas atitude é que eu valorizo e agradeço.
— Aos 45 anos, e acabada a carreira de árbitro internacional, o que é que te falta ter na palma da mão?
— Tenho tudo. Não me falta nada.
O polémico vídeo na piscina de Póvoas
O anúncio público do final da carreira de Artur Soares Dias coincidiu com um dia em que foi difundido nas redes sociais um vídeo no qual podia ver-se o árbitro à beira de uma piscina, encontrando-se Pinto da Costa, ex-presidente do FC Porto, a alguns metros. «Aterro na Arábia e sou surpreendido com um vídeo, que nem sabia que existia, e com a comunicação do término da carreira. Foi tudo precipitado de forma errada e não faz sentido o que aconteceu. Eu tenho direito, enquanto pessoa — ainda que não possa dissociar, pois tenho de estar com respeito, com educação, com princípios — de estar com amigos. E fui convidado para ir a uma festa de um amigo, o doutor Fernando Póvoas, que me convidou para ir a casa dele com a família ver os animais que ele tem. Pela primeira vez fui. E fui surpreendido com a presença de outras pessoas, entre elas Jorge Nuno Pinto da Costa», explica. E se fosse hoje, voltaria a ir? A resposta de Soares Dias é clara: «Porventura pensaria em ir ou não ir, para me proteger, porque é certo que estamos a falar de um ex-árbitro e de um ex-presidente que se encontraram de forma ocasional num evento privado. Se soubesse que ele lá estava não iria. Temos de nos proteger muito porque a sociedade não vê isto com bons olhos. Nunca privei com dirigentes de clubes, não era agora que teria necessidade disso. Não por ser Pinto da Costa, mas por ser um dirigente ou ex-dirigente.»
A oferta de Tiago Martins e a ideia de que «há cartões injustos de mostrar»
Soares Dias mostrou muitos cartões ao longo da carreira. Um mostrou a Jurgen Klopp, num jogo da Liga Europa entre o Liverpool e o Sparta de Praga.
«É um senhor do futebol e após mostrar-lhe o cartão pediu-me desculpa pela atitude e disse-me que tinha toda a razão. A capacidade de reconhecer o erro não é para todos.»
O ex-árbitro reconhece que «há cartões injustos de mostrar», como acontece com os festejos de alegria dos jogadores que tiram a camisola após um golo.
Na final da Liga Conferência, no Europeu, e no último jogo da Supertaça Saudita Artur Soares Dias teve Tiago Martins como VAR. Através de A BOLA, Tiago Martins ofereceu ao agora ex-árbitro cartões para que no futuro tome as decisões certas: «Obrigado. O Tiago foi uma das pessoas, entre outras, muito importantes na minha carreira. Recordo-me que em 2018, quando na FIFA me perguntavam se não havia mais nenhum português para fazer VAR, eu indiquei o Tiago. Felizmente acertei, pois tem manifestado a sua competência.»