Benfica «Êxito no empréstimo obrigacionista, mas SAD terá de continuar a vender jogadores»
O Chief Executive Officer (CEO) da Benfica, SAD, Domingos Soares Oliveira, vincou na tarde deste dia, em Lisboa, na sessão especial realizada nas instalações do Euronext Lisbon de apuramento de resultados do empréstimo obrigacionista a três anos de €50 M emitido pela empresa – e que se vencerá em 2026, a 5,75 por cento de juros ao ano – que a venda dos passes de jogadores continuará a ser uma das receitas fundamentais dos grandes clubes nacionais para poderem pagar salários e competir quase em pé de igualdade com os ‘tubarões’ europeus a nível de salários de jogadores e aspirações.
O responsável encarnado e administrador da SAD recordou o aumento do montante inicialmente colocado no mercado, de 40 para 50 milhões de euros, e revelou que «a procura [junto do sindicato de 12 bancos onde os investidores deram ordens de compra] superou 2,42 vezes a oferta, tendo ultrapassado o montante disponível logo no primeiro dia». Mas foi rápido a desmistificar que esta verba seja para aplicar em reforços para Roger Schmidt: «É para repor a emissão que havíamos feito [de obrigações a três anos, também] em 2020]».
«121 milhões de euros de procura de ordens médias, 70 por cento de aumento da procura em relação a 2020, 6.048 pequenos investidores subscreveram obrigações do Benfica. Temos muito mais dinheiro e muito mais investidores. Relevante, também, referir que dos 3688 subscritores de 2020, 1546 renovaram subscrições agora, na Oferta Pública de Troca [OPT] realizada em simultâneo. E são aqueles que têm maior montante investido», disse o homem-forte das finanças encarnadas na praça financeira da capital, no balanço e conclusões da operação levada a cabo pela SAD presidida por Rui Costa.
«Aumentámos o montante a subscrever pelo mercado, de 40 para 50 milhões de euros, por considerarmos que seria o mais adequado. Não aumentamos com isto o nosso endividamento nem criamos tensão no final do período 2023/26, e é bom recordar que em 2026 termina o atual contrato de direitos televisivos. Havendo alguma incerteza, era importante segurança nessa altura», vincou Domingos Soares Oliveira, na explicação aos jornalistas, que se seguiu à sessão especial bolsista, transmitida em direto pela BTV.
«A maior procura que tivemos é prova de confiança no Benfica. Há obreiros deste êxito não só no mercado financeiro, mas também na própria SAD. Sem a excelente estrutura profissional que temos dentro de casa, não teria sido possível este êxito. Toda a equipa das áreas financeira, comercial e de comunicação, fez ótimo trabalho, em meu nome e no da administração da SAD, um aplauso para vós», foi o reconhecimento de Domingos Soares Oliveira uma vez subscritas na totalidade as obrigações Benfica 2026, tendo ficado ordens para subscrever 1,4 vezes mais, ainda, sem êxito.
«A Benfica, SAD reduziu em 56 por cento o montante em dívida nas obrigações de 2020», revelou também o administrador da SAD encarnada na sua intervenção, em que minimizou o aumento da dívida encarnada, com esta emissão, no governo e gestão da empresa. O próximo vencimento [de obrigações anteriores emitidas, a reembolsar ao mercado de investidores] que temos é em 2024 e é relativamente pequeno, 35 milhões de euros emitidos em 2021. As alternativas que temos em relação a financiamentos são, como se sabe de contratos de venda de atletas. Esta emissão não tem um impacto extraordinário em relação a outras fontes de financiamento do clube», desdramatizou Domingos Soares Oliveira.
«Resultados históricos»
«São resultados históricos, os investidores olham para o Benfica como investimento único e seguro. Foi uma operação bem-sucedida, sem dúvida, o maior de sempre, seja em montante seja em subscritores, e é inequivocamente uma manifestação de confiança nesta administração da SAD», congratulou-se Domingos Soares Oliveira, sem enfatizar o impacto do sucesso no plano desportivo empurrar para melhor desempenho financeiro na gestão da sociedade, incluindo a muito provável conquista do título de campeão nacional de futebol, com o Benfica a liderar a Liga com quatro pontos de avanço do FC Porto e apenas seis pontos (dois jogos) por se jogar.
«Nunca sentimos, nas emissões anteriores, grande impacto direto ou indireto das emissões, que são sempre feitas entre maio e julho. Não desvalorizo essa ligação, mas não é direta. Sabemos que há investidores nestas obrigações que não são benfiquistas. E mesmo benfiquistas já que olham para estes produtos de forma diferente do que o emocional. Relativamente ao campeonato, qualquer conquista, nacional ou internacional, valoriza a marca Benfica, isso é inequívoco», admitiu Soares Oliveira.
Portugal perder um lugar na UEFA, e o terceiro classificado já não ir às pré-eliminatórias da Champions a partir de 2024/25 terá um efeito nefasto numa das maiores fontes de receitas dos principais clubes nacionais, avisou desde já Domingos Soares Oliveira, ciente das consequências na tesouraria para os emblemas lusos que têm nas verbas da UEFA um dos pilares indispensáveis enquanto fontes de receitas.
«É um facto que as SAD dos clubes portugueses têm uma dependência muito grande em relação a duas ou três grandes fontes de receitas, e a Champions é extremamente importante. As competições europeias estão, normalmente ao nível, ou até acimam dos direitos televisivos das provas domésticas. Havendo menos disponibilidade dessa fonte de receitas, isso é preocupante. É precisa uma estratégia conjunta, para Portugal somar mais pontos, para criar mais condições para ter os clubes portugueses a obter mais pontos em termos europeus», foi o alerta, para todo o futebol português, do responsável encarnado.
«Também me sinto 'zero' campeão, ainda»
«Como Roger Schmidt disse, também me sinto zero por cento campeão ainda, mas a ida à Champions sim, essa já está garantida, como disse o nosso treinador. É óbvio que esse é um indicador que dá maior confiança e tranquilidade ao Benfica para atacar o mercado», admitiu ainda, na relação umbilical entre a bola entrar ou não na baliza dos adversários nas competições e as receitas subirem na SAD.
Soares Oliveira declinou comentar a não renovação de Grimaldo (que já se comprometeu com o Bayer Leverkusen, da Alemanha) «por se enquadrar com a esfera e estratégia desportiva, não financeira», mas admitiu que, para a SAD do Benfica «tendo garantido os valores mínimos da Champions, [financeiramente] é uma posição mais confortável». E historiou três maiores fontes de receita da SAF.
«Direitos de transmissão das provas domésticos estão assegurados até 2026; depois, temos, a cada ano, a Champions; e ainda a política comercial, bilhética, etc. A participação na Champions é muito importante. E, portanto, o já lá estarmos traz uma grande vantagem, em termos de decisões futuras», repisou Soares Oliveira, com recorrente mensagens de tranquilidade para investidores e o mercado.
«Na Benfica SAD, temos uma situação económica, do ponto de vista de capitais próprios, robusta e bastante forte. Os resultados foram negativos durante dois anos, fortemente impactados pelo Covid-19, mas agora o valor é robusto e agradável para enfrentar o futuro. Se olharmos para os contratos de patrocínios, para o valor dos jovens que estão a emergir, dá bastante tranquilidade à administração da Benfica SAD para tomar as decisões que se revelarem necessárias até 2026», foi a ‘almofada’ e ‘margem de manobra’ que revelou, com um alerta aos que, com €50 M encaixados, esperam ver mais craques no Seixal ou Luz… amanhã.
Montante não é para investir: é para pagar empréstimo obrigacionista anterior
«É importante reter que este montante [€50 M] visa repor a emissão que fizemos em 2020. Não olhem para isto como se o Benfica e a SAD agora tivessem capacidade de investir mais. O investimento que fazemos é o que a vertente desportiva entender que é necessário. A vertente financeira tem como função corresponder às necessidades da área desportiva», recordou Domingos Soares Oliveira.
«O Benfica tem necessidade, todos os anos, de vender jogadores. Sem vendas de passes, as receitas não são suficientes para os custos. Porquê? Porque somos um clube que investe bastante, e pagar salários iguais ao que se passa lá fora, é preciso mais qualquer coisa. E não é de agora, é de há uns 15 anos, e esse mais qualquer coisa é esta diferença», recordou, em conclusão, o responsável da SAD.