Eusébio - 10 anos sem a maior das papoilas saltitantes
O Pantera Negra faleceu a 5 de janeiro de 2014. Tão lendário como Amália, Vasco da Gama, José Saramago, Fernando Pessoa ou Luís de Camões: confundem-se com Portugal
Dez anos é muito tempo, canta Paulo de Carvalho. E é. Completa-se hoje uma década sobre o desaparecimento de Eusébio da Silva Ferreira – ‘King’ para os mais amigos, Pantera Negra no mundo do futebol. Eusébio está para Portugal como Pelé para o Brasil. Ou Maradona para a Argentina. Ou Cruyff para os Países Baixos. Ou Platini para a França. Ou Beckenbauer para a Alemanha. É eterno.
Daqui a 100 anos, quando alguém se lembrar da atualizar a história de Portugal, estarão lá, porventura, nomes que ainda nos são hoje desconhecidos, mas Eusébio, o King, continuará lá. Tal como Amália Rodrigues, Vasco da Gama, Fernando Pessoa, Luís Vaz de Camões ou José Saramago, entre outros. Eusébio foi uma cometa que apareceu em 1961 e cuja órbita se tornou eterna.
Eusébio é do tempo das bolas de papel envolvidas em meias de senhora. Do tempo em que o futebol ainda não era comércio, antes apenas festa, lágrimas e risos. Em que havia televisão, mas em que o futebol não era dominado por ela. Em que os heróis falavam com qualquer um e o faziam sem ninguém a dizer-lhes o que deviam ou não deviam dizer. Era o futebol no estado puro. O futebol de Eusébio era o futebol de Hilário, o futebol de Pavão, o futebol de Simões, o futebol de Damas.
Escrever sobre Eusébio é escrever sobre o menino que festejou a conquista da Taça dos Campeões Europeus de 1962 com a camisola de Di Stéfano enrolada à volta da mão e enfiada nas cuecas. Ou sobre o famoso golo ao La Chaux-de-Fonds em que tabelou com Simões e, ao chegar à meia-lua da área, passou a bola por cima de um defesa, depois por cima de outro e, sem a deixar cair, rematou para o fundo da baliza. Sobre o Mundial de 1966, os quatro golos à Coreia do Norte, o golo ao soviético Lev Yashin e as lágrimas após o Inglaterra-Portugal. É escrever sobre as duas Botas de Ouro, a de 1968 e a de 1973. O golo falhado na final europeia de 1968 e as palmas dadas a Stepney e à sua improvável defesa. É escrever sobre os cinco golos ao Olympia.
Ou sobre ou golos ao amigo Vítor Damas. A cumplicidade com Simões, o seu irmão branco. Ou cada um dos 373 marcados no Campeonato Nacional. Ou cada um dos 41 na Seleção Nacional. Sobre os 11 campeonatos ganhos ao serviço do Benfica. Pelas passagens pelo futebol mexicano e norte-americano. Pelo título de melhor jogador da Europa ou pelas sete Bolas de Prata. Escrever ou falar sobre Eusébio é escrever sobre futebol e sobre Portugal. Simplesmente porque, mesmo dez anos após o desaparecimento da mais famosa papoila saltitante, Eusébio é futebol. E Portugal. Tal como Amália é fado e Portugal. Tal como Vasco da Gama é Descobrimentos e Portugal. José Saramago, Fernando Pessoa ou Luís Vaz de Camões são escrita e Portugal.
Eusébio da Silva Ferreira, King para os amigos, Pantera Negra para o futebol, nasceu a 25 de janeiro de 1942 e morreu, reza a lenda, a 5 de janeiro de 2014, completa-se hoje uma década. Parece, porém, que não será exatamente verdade. É que as lendas não morrem. Apenas fazem uma pausa da vida terrestre.