Entrevista A BOLA: «O Benfica foi como  tocar o céu com as mãos»

Benfica Entrevista A BOLA: «O Benfica foi como tocar o céu com as mãos»

NACIONAL19.06.202319:43

José Schaffer jogou apenas seis vezes pelo Benfica, ao qual chegou em 2009. Foram seis meses de tal forma marcantes que fala deles, passados quase 14 anos, com grande entusiasmo. O antigo lateral-esquerdo argentino, 37 anos, agora treinador das camadas jovens do Racing, recorda a sua passagem pelo Benfica

- Como surgiu a possibilidade de ir para o Benfica?

- Num jogo entre o Racing e o Rosario lesionou-se o lateral-esquerdo. Entrei na segunda parte e, a partir daí, fiz grandes jogos. O Benfica ficou interessado e falou com o meu empresário e depois ele disse-me. Foi uma alegria enorme saber que poderia jogar com Aimar, Saviola, Luisão ou David Luiz.

- O que conhecia do Benfica e da equipa?

- Que jogava a Liga dos Campeões. Na Argentina, gostamos muito de futebol e seguimos as grandes competições europeias. Ainda hoje vejo os jogos do Benfica ou do FC Porto na Europa. Quando cheguei aí, Aimar, Saviola e Di María explicaram-me a grandeza do Benfica. Andámos pela Ucrânia, pela Alemanha, por qualquer país e é impressionante a quantidade de adeptos em todo lado.

- Quais foram as primeiras impressões quando viu Lisboa, o Estádio da Luz, o centro de treinos?

- Foi como tocar o céu com as mãos, lindo, o melhor que me podia acontecer. Passar de viver num talho e jogar naquele estádio mais lindo. As pessoas ainda me reconhecem de ter jogado no Benfica, fazem-me sentir bem. é lindo. Conto a todos aqui na Argentina como o Benfica é grande.

- Que grande equipa era aquela, não?

- Só tenho coisas boas a dizer de todos: Nuno Gomes, Quim, Rúben Amorim, Fábio Coentrão. Havia argentinos, brasileiros, portugueses, foi tudo muito fácil, havia uma ligação bonita entre toos. Tínhamos um treinador exigente, Jorge Jesus, e um grupo muito unido, puxávamos todos para o mesmo lado, por isso fomos campeões. Dávamo-nos muito bem dentro e fora do campo.

- E havia muitos churrascos?

- Às vezes, sim. Uma vez por semana jantávamos fora com as famílias.

- Pouco depois de chegar estava a jogar contra Ronaldinho, num particular na Luz.

- Esse foi um dia completo. Fiz o centro para o Cardozo marcar, marquei Ronaldinho e marquei no desempate por penáltis. Nunca esquecerei esse dia. Ronaldinho era uma fera, escolhia-o para jogar na Play Station.

- Não ficou muito tempo no Benfica. O que aconteceu?

- Não sei, houve um momento em que o Jesus me disse que não contava comigo, que teria de libertar um lugar de estrangeiro para trazer o Airton.

- Como foi a sua relação com Jesus?

- É um grande treinador, tenho admiração muito grande por ele, ensinou-me muito, conduziu o grupo da melhor maneira. Não quis contar comigo, mas só posso dizer maravilhas dele. Lembro-me de ir bater um penálti e ele, com aquele olhar, perguntou-me: ‘Tens vontade de bater? A sério?’ Com algum medo, respondi-lhe: ‘Sim, sim, mister, fique tranquilo, tenho muita confiança.’

- Como foi a saída?

- Saí satisfeito e com a consciência tranquila porque dei sempre tudo quando joguei. Os adeptos, ainda hoje, têm muito carinho por mim, recordam-me os cruzamentos, os cantos que marcava, apesar dos poucos

jogos que fiz. Saí por decisão do treinador, mas o presidente [Vieira] disse-me: ‘Vai tranquilo porque voltarás, deixa as tuas coisas no departamento de futebol e que pagarei os próximos meses da tua renda de casa.’ Mas Jesus continuou e não quis ficar comigo.

- Fale um pouco dos adeptos do Benfica.

- Quando publico alguma foto nas redes sociais comentam sempre com muito carinho, enviam-me mensagens. É lindo

- Voltou depois a Portugal para o UD Leiria. O clube passava por graves dificuldades financeiras?

- O que se passou foi muito triste. Não pagavam aos jogadores, mas eu recebia porque estava emprestado. Não pagavam aos meus companheiros. Como estávamos emprestados diziam-nos que tínhamos de jogar, num jogo entrámos com oito [contra o Feirense, a 29 de abril de 2012]. Mas, olhe, ainda conheci o Pedro Caixinha, grande treinador.

- Continua a acompanhar o Benfica?

- Sempre. E falo dele aos garotos do Racing.