TOULOUSE-BENFICA «Em 22 pés, Toulouse não tem um que se compare ao pé esquerdo de Di María»
Vítor Oliveira, Conselheiro das Comunidades Portuguesas, explica a A BOLA o que irão os benfiquistas encontrar em Toulouse e também alerta Roger Schmidt de que «deve preparar os seus jogadores para o pior»
— O que representa ser Conselheiro das Comunidades Portuguesas? Quer explicar-nos em que consistem as funções?
— Antes de mais deixe-me agradecer o convite, é uma honra poder falar para um histórico do jornalismo português. O Conselho das Comunidades é um órgão de aconselhamento do Governo Português em matéria de comunidades portuguesas, há aproximadamente 90 lugares de eleição deste órgão no mundo inteiro. Os conselheiros são eleitos por sufrágio universal, nós abrangemos as áreas consulares de Toulouse e Bordéus e há dois conselheiros, a minha lista elegeu duas pessoas, eu e Teresa Fontão. O Conselho das Comunidades é órgão de aconselhamento, não executivo, aconselha o Governo em matérias como voto eletrónico, a língua, questões de ordem social.
— Em que pode traduzir-se de forma prática para os emigrantes?
— Há sempre milhares de pessoas a chegar, Toulouse é a sede mundial do grupo Airbus e chegam diversas pessoas, com diversas formações. Toulouse é cidade onde o peso da biotecnologia e da saúde têm aumentado nos últimos anos, peso em termos económicos. Mas pertence sobretudo a Airbus e indústria aeronáutica a maior fatia da economia da região. Também é uma das preocupações minhas para este mandato ter maior ligação a esta comunidade, que se integre bem e que seja ouvida. Que possa ouvir as pessoas e levar a mensagem ao secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.
— Como está a visita do Benfica a mexer com a comunidade?
— O estádio estará cheio, teremos com certeza muitas pessoas portuguesas, também do lado da bancada do Toulouse, a comunidade também tem grande ligação ao futebol. Há exemplos de pessoas,pais de jovens que jogam no Toulouse, que irão ao jogo e torcerão pelo Benfica. Os ingressos já estão a um preço elevado, é sempre momento marcante, quer se seja benfiquista ou não. Aquele estádio tem um bom presságio, foi onde ganhámos o primeiro jogo num mundial de râguebi.
— Quem é o favorito?
— Penso que o Benfica é claramente favorito, é um clube de Champions, o Toulouse não, garantiu o acesso à UEFA através da Taça de França, feito histórico para a cidade, mas tem passado por momentos conturbados, desceu de divisão, regressou, entraram investidores que entretanto já saíram... Benfica é mais bem estruturado, clube de Champions, campeão nacional, de topo em Portugal e na Europa. Estamos a falar de distâncias muito grandes, mas o futebol é o que é, só se pode fazer as contas no final e Toulouse a jogar em casa é uma equipa chata. Roger Schmidt terá de preparar os jogadores para o pior, se os preparar para o pior conseguirá com certeza vencer. Ao nível das individualidades, Benfica tem equipa muito superior ao Toulouse.
— Como está a cidade a preparar-se para a visita do Benfica?
— A comunidade portuguesa, sim, está com muita vontade de receber o Benfica, é momento histórico para muita gente que aqui está há 30/40 anos, isso vai ser magnífico, tanto dentro como fora do estádio. Muita gente não conseguiu bilhete, mas as pessoas vão reunir-se à mesma fora do estádio, em bares, cafés, etc, vão ver o jogo juntos. Benfica vai sentir isso à chegada, Toulouse está a mil quilómetros e há voos. Mas Toulouse é cidade difícil para o futebol porque é capital europeia do râguebi, o Toulouse é a equipa mais titulada a nível europeu e há sempre supremacia do râguebi em relação ao futebol. Os adeptos não se contagiam tanto com o futebol como acontece com o râguebi, mas é jogo da UEFA e neste caso o Benfica, mesmo jogando fora, terá ajuda grande da comunidade portuguesa.
— Quem destacaria no Benfica?
— Quando falo de individualidades no Benfica falo sempre do pé esquerdo de Di María, é uma coisa estratosférica. Toulouse não tem nenhum pé esquerdo ou pé direito, em 22 pés, que se possa comparar ao pé esquerdo de Di Maria. Se o Benfica estiver concentrado conseguirá o apuramento.
— Agora veste fato e gravata, mas também já sentiu o cheiro da relva.
— Posso dizer-lhe que senti mais o cheiro do pelado do que o da relva, há 20 anos não havia tantos relvados naturais ou sintéticos. Mas joguei na Naval 1.º Maio, futsal e futebol, tive outras experiências na seleção de Coimbra, tive oportunidade de jogar contra algumas figuras, Paulo Machado, por exemplo, que jogou no Toulouse. Joguei até aos 19, 20 anos, a um nível que me deu armas para a minha vida, o gosto por vencer. Venci 90 por cento das vezes, retiro do futebol aprendizagem de gostar de ganhar respeitando o outro. Fui capitão nas equipas de futsal em que joguei.