«É um jogo onde nada temos a perder e tudo temos a ganhar»
Tony chegou a Montalegre no início da época (Foto: CDC Montalegre)

Taça de Portugal «É um jogo onde nada temos a perder e tudo temos a ganhar»

NACIONAL22.11.202314:00

Tony antecipa «oportunidade única» para os atletas do Montalegre, mas lembra que «não é um jogo que vai mudar-lhes a vida»; treinador dos barrosões garante que o encontro «está a ser preparado exatamente da mesma forma que os restantes»

Com vários anos a pisar os relvados da Liga enquanto jogador, Tony vai preparando a partida do Montalegre diante do FC Porto, no Estádio do Dragão, a contar para a quarta eliminatória da Taça de Portugal

O ex-jogador de 42 anos assumiu o comando técnico dos barrosões no início da presente temporada, depois de ter cumprido funções de treinador-adjunto no Paços de Ferreira, em 2022/23.

Em entrevista a A BOLA, o antigo lateral-direito admite que os dias que sucederam o sorteio não foram fáceis de gerir, sobretudo do ponto de vista psicológico: «Mal saiu o sorteio, posso confessar que o trabalho mais difícil que tivemos até agora foi o de controlar a ansiedade dos jogadores. Não foi fácil, e a mensagem que lhes foi passada foi a de quem facilitasse num treino ou num jogo, não iria pisar o estádio do Dragão. Tínhamos jogos importantes e a malta comportou-se lindamente. Já não perdemos há 46 dias, portanto sabemos da nossa responsabilidade. Para chegarmos aqui, tivemos de suar muito sangue, e é muito bom termos o prémio de pisar um campo como é o do Estádio do Dragão, principalmente para os jogadores poderem enfrentar um dos melhores clubes do mundo», sublinha.

A relação com os jogadores é «muito próxima», até pela curta diferença de idades entre Tony e os elementos do plantel, o que facilita a comunicação: «Eles conhecem-me muito bem, sou um treinador jovem, numa faixa etária muito semelhante à deles, com os mesmos centros de interesses. Portanto, a nossa comunicação é muito próxima, e eu sou muito frontal com eles. Sabem que dou tudo por eles, mas não facilito na hora do trabalho. Sou muito exigente com os jogadores e eles sabem disso. E sou exigente porque ambiciono muito para eles, vivemos numa conjuntura económica muito difícil, e o meu maior título é que no final da época, vários jogadores consigam melhorar os seus contratos, as suas carreiras, e que eles e as suas famílias tenham estabilidade financeira. Tento passar a experiência que tive enquanto jogador, diariamente tento falar dos sentimentos que eles possam sentir, que são normais. Eu já os senti na pele, por isso passo essa experiência para eles», frisa o antigo defesa que teve passagens pelo Chaves, Estrela da Amadora, Vitória de Guimarães, Paços de Ferreira e Penafiel.

A diferença de três divisões entre montalegrenses e portistas não assusta Tony, que confessa querer defrontar sempre «as melhores equipas»: «Logicamente, ambicionamos sempre jogar contra as melhores equipas. Jogar contra o FC Porto, ainda por cima no estádio deles, é uma oportunidade única para os meus jogadores. É um prémio justo e merecido para eles. É um jogo onde nada temos a perder e tudo temos a ganhar, no sentido em que sabemos que é muito difícil, mas iremos lutar com a nossa humildade e paixão pelas poucas chances que iremos ter. Peço aos meus jogadores que levem um pouco da sua história de vida para dentro do campo. O jogo não vai mudar-lhes a vida, não é um jogo que muda a vida de um jogador. Vai ser a regularidade no campeonato que vai tornar possível que eles tenham melhores contratos, e que joguem em equipas que pisam mais vezes um estádio como o do Dragão», destaca.

Depois do duelo da Taça de Portugal, os pupilos de Sérgio Conceição defrontam o Barcelona, para a Liga dos Campeões, uma diferença de realidades que o treinador do Montalegre não esquece: «Gostaríamos de ter recebido o FC Porto no nosso campo, onde nos sentimos à vontade. Mas a nível desportivo e de experiência para os jogadores, é muito bom irmos ao Estádio do Dragão. Eu quero que eles ganhem essa paixão, esse gosto de jogar nesses estádios, num ambiente top, contra um dos melhores clubes do mundo. Se virmos o calendário, o FC Porto vai jogar contra o Montalegre e logo a seguir joga com o Barcelona. O Montalegre vai ser visto por milhares de pessoas, e isso deixa toda a região orgulhosa. A ambição que os jogadores têm para este jogo têm de ter diariamente, para poderem pisar estes relvados mais vezes, não esta única vez, ou de dez em dez anos. Vou pedir-lhes coragem, porque eles têm qualidade. Vamos jogar com a nossa humildade e força coletiva», assegura.

A preparação para a partida, garante, não muda devido ao poderio do adversário, pois seria «incoerente» da parte dos barrosões: «O jogo está a ser preparado exatamente da mesma forma dos restantes. Não faz sentido nenhum, seria algo incoerente da nossa parte, mudar a nossa forma de treinar e de jogar. Os jogadores têm aderido bastante bem à nossa liderança, à nossa forma de trabalhar, que é bastante diferente da que tinham apanhado antes. Têm gosto pelo treino e pela nossa abordagem ao jogo», afirma.

A disparidade a nível da qualidade individual é também vincada pelo jovem técnico, que espera receber «uma lição» do treinador dos dragões: «O Montalegre entra em todos os jogos para ganhar, isso é lógico. Somos humildes e reconhecemos que o FC Porto tem melhores jogadores que o Montalegre, o treinador do FC Porto é melhor do que o do Montalegre. Sabemos disso tudo. Vamos levar lição? Vamos. Eu, primeiro, vou levar lição do Sérgio Conceição, de quem sou fã. Não peço ao nosso guarda-redes que seja tão bom como o Diogo Costa, aos nossos centrais para serem tão bons como o Pepe, ou aos nossos avançados para serem tão bons como o Taremi ou o Evanilson. Não peço isso, a única coisa que peço é que joguem como sempre fizeram até agora. A nível estratégico, num ponto ou outro, iremos adaptar-nos ao adversário, como sempre fazemos no campeonato em determinados momentos. Mas a nossa identidade nunca iremos perder», diz.

Por último, Tony frisa, à semelhança de um dos capitães, Rúben Neves, e do presidente Paulo Viage, que o regresso à Liga 3, de onde o Montalegre caiu no final da época passada, é o grande objetivo para 2023/24: «Olhamos para o campeonato jogo a jogo. É uma prova muito complicada, muito competitiva e com excelentes equipas, excelentes treinadores e bons jogadores. Na minha ótica, é um campeonato que deveria ter mais visibilidade. Há boas equipas, como o Pevidém, o Camacha, o Limianos, ou o Tirsense. São equipas muito bem orientadas. Temos pouca visibilidade para a qualidade e competitividade que existe neste campeonato, toda a gente pode ganhar a toda a gente. Tem sido um caminho sofrido, para todos, mas nós estamos a crescer, não perdemos há seis jogos. A minha maior preocupação não é o jogo no Dragão. Mal o árbitro apite para o fim do jogo, estamos já a preparar o próximo jogo, em casa, contra o Ribeirão. Vamos ter que fazer um trabalho físico e mental para os jogadores voltarem à nossa realidade. Aí, se calhar estarei preocupado. Ninguém precisa de motivar um jogador para ir jogar ao Dragão», sublinha.