Diogo Luís e as contas do Sporting: «Estratégia muito bem conseguida»
Frederico Varandas assumiu a presidência dos leões em 2018 e já foi reeleito em 2022 (Sporting CP)

Diogo Luís e as contas do Sporting: «Estratégia muito bem conseguida»

NACIONAL12.09.202408:45

Antigo jogador, atual consultor financeiro e comentador desportivo e de economia, destacou a A BOLA a tendência positiva que está a acontecer em Alvalade. Elogia trabalho que tem vindo a ser feito na era da Administração de Frederico Varandas

O Sporting apresentou as contas referentes a 2023/2024 com um lucro de €12,1 milhões, sendo que, pelo terceiro ano consecutivo, o resultado líquido é positivo, um registo histórico no emblema de Alvalade. A BOLA falou com Diogo Luís, antigo jogador e atual consultor financeiro e comentador desportivo e de economia, que elogiou o trabalho da SAD leonina.

«Comecemos pela parte do resultado líquido. Nos últimos cinco anos tiveram quatro positivos, isto é importante porque mostra uma tendência. O efeito do trabalho da equipa de Administração só se vê no médio/longo prazo. Estamos a falar de uma equipa que entrou já há quatro ou cinco anos e efetivamente já começamos a ver o trabalho que tem vindo a ser realizado, sobretudo na vertente financeira e também na vertente desportiva com o planeamento. Mas aquilo em que efetivamente metem a mão na massa, digamos assim, é na vertente financeira e nas contas e estes resultados são o reflexo desse trabalho. Isto é uma tendência positiva que está a acontecer. Diria que o Sporting não está totalmente confortável, mas começa ano após ano a demonstrar que tem muita disciplina e que está a fazer bem o seu trabalho», realçou.

Diogo Luís consultor financeiro e comentador desportivo e de economia (Instagram(Diogo Luís)

«Na vertente das contas destacava os rendimentos operacionais e a forma como o Sporting conseguiu ter resultado positivo mesmo não estando na Liga dos Campeões. Nos rendimentos operacionais perderam €30 milhões por causa da Champions, tiveram a Liga Europa e a diferença entre as provas foi mais ou menos de €50 milhões, compensaram de uma forma pequena com um aumento de €7,7 milhões no merchandising, através da venda nas lojas, em loja virtual, etc. Devemos também olhar para os gastos e perdas operacionais e realçar que esses gastos fixos ainda são bastante superiores aos proveitos operacionais fixos. E este ano ainda são mais em função de não ter havido a Liga dos Campeões, portanto a divergência é maior. Passou de €131 para €147, o que é que justifica isto? Os fornecimentos e serviços externos, nomeadamente o catering, que foi melhorado não só no estádio, mas também na Academia e no estádio para proporcionar melhor serviço e qualidade aos seus sócios», acrescentou.

Outro ponto merecedor de nota por parte de Diogo Luís é a publicidade: «Gastaram €1,8 milhões com a fanzone da Taça de Portugal e a festa do título, é uma despesa que depois acaba por ter lucro, que beneficia de outra forma, como na apresentação da equipa, da marca e também das animações dos jogos, que o Sporting também começa, neste momento, a criar, porque o futebol já não é só um jogo é também entretenimento.»

APOSTA NA QUALIDADE

Assunto passível de destaque são as despesas com pessoal e vendas de jogadores. «Esses gastos aumentaram €14 milhões, sendo que uma parte foi variável em função dos objetivos de terem sido campeões e outra parte em salários fixos. Ou seja, o Sporting, de um ano para o outro, passou de €57 milhões fixos para €64 milhões fixos. Porquê? É uma aposta na qualidade. Aqui destacar que este aumento de 7,7 milhões não é momentâneo. Ao dar este passo tem de estar consciente do que vai fazer para ser capaz de cumprir com este compromisso durante três/quatro anos, a duração dos contratos dos jogadores», explicou.

É um risco que os clubes têm de correr para depois permitir ter resultado com a venda de jogadores. «O Sporting fez €143 milhões com a venda de jogadores, sendo que apenas dois eram titulares e um tinha sido vendido em janeiro, mas a opção foi exercida a 1 de julho de 2023, que foi o Porro. O resto foi colocar excedentários, vendas que renderam €99 milhões, valor que compensou a ausência na Champions. Foi uma estratégia muito bem conseguida porque desportivamente a equipa não ficou mais fraca e financeiramente ficou equilibrada», elogiou.

Diogo Luís falou ainda da atualidade: «O Sporting optou por não vender ninguém este ano, porque se calhar o compromisso entre todos é o rendimento desportivo e já tem solução para o curto prazo para fazer face a estas necessidades. O passivo corrente é de €93 milhões e o passivo corrente €176 milhões, é uma grande diferença e isto coloca alguma pressão sobre o Sporting, mas arriscou e acredita que pode gerir isto a curto prazo, sabendo que também vai receber os montantes da Liga dos Campeões

Em jeito de conclusão, Diogo Luís salientou alguns pontos: «Basicamente o Sporting conseguiu ter rendimento desportivo sem estar na Liga dos Campeões e, mais importante, no ano a seguir, conseguiu manter todas as suas grandes peças, demonstrando claramente que o objetivo é ter rendimento desportivo. Suportando a dificuldade em termos de liquidez de curto prazo, com certeza de que tem um plano para suportar, mas, basicamente, essa é a grande estratégia, acreditando que o rendimento desportivo é que vai potenciar o rendimento financeiro, sendo que não está a arriscar em demasia porque acredito que o Sporting tem esse equilíbrio bem planeado e bem trabalhado.»

REESTRUTURAÇÃO DA DÍVIDA

«Destacar também aqui as amortizações, porque à medida que se vão comprando muitos jogadores de qualidade a valores mais elevados, depois, cada vez que se compra um jogador o preço desse jogador é dividido por cinco anos e é isso que vai bater depois no resultado líquido. O que é que quero dizer com isto? O Sporting tem feito compras grandes, de €20 milhões e, neste momento, as amortizações já têm um preço de €40 milhões. Ou seja, simplificando, começando o ano fiscal agora, o Sporting já começa com menos €40 milhões, assim como o Benfica. Depois tem de correr atrás do prejuízo de forma a que fique com o resultado positivo. Isto não deixa de ser um grande peso naquilo que são os resultados contabilísticos», acrescentou.

«Por fim, há aqui uma situação que fez com que o Sporting tivesse resultado positivo, que foi os ganhos financeiros, de €16 milhões, que advém da reestruturação que fez, nomeadamente das VMOC´s, que foi uma reestruturação da dívida que o Sporting negociou com entidades bancárias, que aceitaram. Se há alguém a quem as pessoas têm de solicitar explicações não é ao Sporting, é às entidades e o motivo pelos quais aceitaram reduzir a dívida de 100% para 30%, não é um perdão de dívida, é uma negociação. O Sporting não apontou arma à cabeça de ninguém, beneficiou desse facto, fez o seu trabalho e conseguiu ter êxito e acabou por beneficiar, naturalmente, dessa situação, nomeadamente até nestes relatórios de contas, porque estes €16 milhões fazem a diferença entre ter resultado negativo ou resultado positivo, sendo que, mesmo que tivesse resultado negativo de €4 milhões, acho que muita gente não ia ficar chateada, os sportinguistas não iam ficar chateados porque tiveram rendimento desportivo e financeiramente, mesmo assim, as coisas ficaram equilibradas. Portanto, sem dúvida que é uma tendência positiva que está acontecendo no Sporting, mas é importante continuar com disciplina, com rigor, e, sobretudo, com planeamento, e não deixa de ser aqui uma nota positiva para a Administração do Sporting que, ano após ano, tem conseguido, financeiramente, ter bons resultados, e desportivamente as coisas também estão no bom caminho», finalizou.