Treinador já tem saudades de treinar e nesta entrevista n' A BOLA admite os objetivos que redefiniu para o futuro até porque está determinado em conseguir uma nova equipa para treinar.
Sempre quiseste ser treinador, mas foi difícil tirar o curso UEFA Pro (Nível 4) que é a habilitação necessária para ser treinador na Liga.
O curso de treinadores na altura estava pior do que está hoje. Nós subimos o Mafra e fomos para o Estoril com o mesmo nível de treinador porque não abriam os cursos. Este ano já abriram três cursos e acho que fizeram bem. No meu tempo subi à Liga, tinha o Nível 2 e tinha subido dentro do campo. Agora os treinadores que sobem podem acompanhar os clubes, como é o caso do Tiago Margarido e do Vasco Matos. Eu e o Filipe Martins quando subimos não tínhamos o Nível 4, mas pudemos acompanhar e estar de pé e eu acho muito bem reconhecerem o mérito. Há uma sensibilidade maior derivada de tanta conversa. Eu estive três anos sentado no banco sem me poder levantar durante aos jogos. Geri isso com muita dificuldade pois não ganhava assim tanto dinheiro para estar a pagar multas. Cheguei a pagar do meu bolso 6 mil euros de multa quando estava no Nacional, por me levantar. Não foi fácil gerir, houve alterações na equipa técnica por causa disso, a postura no banco foi alterada por causa disso. Deixemo-nos de histórias pois não é confortável para nenhum treinador não poder estar a exercer as suas funções de forma limpa e clara.
Ponderaste ir para fora tirar os cursos como fez, por exemplo, o Ruben Amorim?
Nunca estive parado, nem nunca tive muito tempo para me preparar pois os projetos sucederam-se. Eu ganhava o ordenado de professor e só agora é que estou a ter condições para também tirar cursos de maior valia. Ir para fora era uma despesa que eu na altura não podia suportar sequer. Eu se calhar fui dos casos mais evidentes porque subia de divisão e havia esse problema. Na altura também chegaram outros treinadores como o Filipe Martins, o Rui Borges, o Ruben Amorim, o Moreno e as pessoas começaram a tomar atenção. Quando começaram a ser muitos passou a ser um problema instalado e as pessoas tiveram de olhar de outra forma. Mas, está a melhorar e há mais cursos. O treinador do português é uma mais-valia o mercado desportivo.
Pegando nessa ideia de mercado desportivo, nacional para ti, ou também começas a ponderar poder treinar lá fora?
Nós temos uma carreira feita no campeonato português, em todas as divisões, e queremos afirmar-nos em Portugal. Isso é um objetivo claro e seguro da nossa parte, não só pela idade, mas também pelos trabalhos que fizemos em Portugal. Temos ainda muito para fazer cá. O objetivo agora passa por ser um clube que nos ofereça ambição e que acredite em nós, para fazermos um bom trabalho, com a ambição de jogar para ganhar. Seja em Portugal, seja no estrangeiro. Já tivemos convites e logo a seguir ao Rio-Ave podíamos estar a trabalhar, mas eu quero, com calma, preparar-me bem, para voltar cada vez mais forte. Saímos da II DIvisão B para a Liga 2, Liga 2 para a Liga, e saímos sempre mais fortes do que quando entrámos. Quero um clube que tenha um projeto e que confie no trabalho do treinador. Quando tens 10 ou 12 treinadores que mudaram antes do ano.... Não sei no final se todos vão ganhar com isso. O Ruben Amorim disse agora que daqui a um ano a equipa que treina vai estar muito melhor. Em Portugal daqui a um ano mudaram os treinadores todos. Em um ano mudou-se os treinadores todos.
Qual é o tipo de liderança com a qual te identificas mais?
Nós temos criado muita assertividade naquilo que é transmitido aos jogadores, com muitas decisões assumidas por mim, numa transmissão da verdade daquilo que se passa com sempre para os melhorar. As relações para mim são muito importantes. São a chave dentro do futebol.
Qual é o teu sistema de jogo?
Eu, no Ericeirense jogava em 4x4x2, Pero Pinheiro defendia em 4x4x2, jogava em 3x4x3 com o defesa direito a organizar. No Mafra igual, 4x4x2, com 3x4x3 a atacar. No Nacional mudámos para 4x3x3, depois metíamos mais o 6 entre os centrais a organizar, a 2 ou a 3.. No Rio Ave, a 3 na Liga 2, depois, na Liga com 3 centrais, numa linha de 5 a defender. Aí mudámos o sistema. Portanto, já passámos por várias coisas. Interessa é o modelo de jogo não é o sistema. O modelo de jogo é a forma de comportar-se em campo, e a nossa equipa gosta de construir o jogo, gosta de ligar o jogo, de ter bola, de criar oportunidades constantemente, a reação à perda é forte e tentativa de pressão alta. Será sempre um modelo de jogo muito vincado.
Ainda não está tudo inventado e ainda há muito para inventar?
Ainda há muito para inventar, tanto a nível da metodologia de treino, como na forma de jogar, de liderar e de nos relacionarmos dentro dos clubes. Há muita coisa que pode ser feita. O futebol está a evoluir rápido e a parte emocional é cada vez mais importante. Tudo isto vai obrigar o treinador a evoluir.
O que é que mais te apaixona no futebol?
As relações e a adrenalina do jogo. Sou uma pessoa com ambições e tenho o desafio interno de querer ser feliz a fazer o que gosto.
Tens orgulho naquilo que fizeste?
Tenho muito orgulho, porque sei de onde é que vim, e como é que aqui cheguei. Foi a pulso e com muita coragem. É preciso quebrar muitas barreiras e é preciso a bola entrar para subir divisão. É preciso os jogadores fazerem por isso e tenho tido a felicidade de ter tido jogadores que me ajudaram. Os diretores, as presidentes que eu tive, ajudaram-me muito nesta ascensão ao longo da carreira. Tem sido sempre a melhorar e acredito que não vamos ficar por aqui, e que vamos conseguir mais bons trabalhos. Que no próximo eu consiga acabar ainda mais por cima do que acabámos no Rio Ave.
Luís Freire deixou de treinar a 5 de novembro, data em que foi oficializada a saída do Rio Ave e em entrevista A BOLA falou sobre a saída de Vila do Conde e os objetivos que ficaram por alcançar. As saudades do campo, essas, já as sente. Diz.