Di María e Neres iluminam o Benfica
Neres, Benfica (Sérgio Miguel Nunes/ASF)

Di María e Neres iluminam o Benfica

NACIONAL30.09.202316:35

Argentino está a ter o melhor arranque da carreira e foi decisivo nas duas vitórias da época frente ao FC Porto; se o juntarmos ao brasileiro no mesmo onze, já resolveram dois jogos

A grande novidade na equipa titular do Benfica para o jogo de sexta-feira passada, com o FC Porto (1-0), foi a chamada em simultâneo de Ángel Di María e de David Neres, algo a que Roger Schmidt vinha resistindo para, segundo o próprio, manter o equilíbrio da equipa a defender. Mas os encarnados venceram este jogo frente ao rival do Porto e com um golo que nasceu de um lance construído precisamente pelo argentino e pelo brasileiro: Neres entrou na área pela esquerda, cruzou rasteiro e para trás, aparecendo Di María para concretizar. Esta foi a primeira vez que Neres e Di María surgiram juntos num onze inicial, mas foi a segunda em que a equipa conseguiu resolver um jogo com os dois atacantes ao mesmo tempo em campo, apesar dos poucos minutos em que se cruzaram.

No jogo da Supertaça com o FC Porto (2-0), Neres não jogou por lesão; frente ao Boavista, Di María saiu aos 53’ e Neres entrou aos 85’ (0-2); com o E. Amadora, Di María jogou os 90’ e Neres entrou aos 69’, quando o resultado ainda estava 0-0. Com os dois em campo, o Benfica passou o resultado para 2-0, com golos de Tengestedt e Rafa e as assistências dos dois golos a pertencerem a Neres. Frente ao Gil Vicente, argentino e brasileiro estiveram 27’ em campo, mas nesse período a vitória da equipa passou de 2-0 para 3-2, podendo, aqui, ter-se verificado a perda de equilíbrio de que fala Schmidt. Depois, no 4-0 frente ao V. Guimarães Di María foi totalista e quando Neres entrou, aos 65’, já o resultado estava feito. Finalmente, frente ao Salzburgo, na Champions, Di María saiu aos 72’ precisamente para entrar Neres (0-2), frente ao Portimonense Di María, lesionado, não jogou e com o FC Porto, nesta 7.ª jornada, os dois jogadores foram os destaques da vitória no clássico.

Ángel contra os dragões
Neres tem exibições e números interessantes neste início de época 8 jogos, um golo e 4 assistências), mas o titular e a grande estrela desta temporada tem sido Ángel Di María, que foi absolutamente decisivo nas duas vitórias alcançadas frente ao FC Porto — marcou o primeiro golo do 2-0 do jogo da Supertaça, a 9 de agosto no Municipal de Aveiro; marcou sexta-feira o único golo na receção aos azuis e brancos no Estádio da Luz, num desafio da 7.ª jornada do campeonato. O astro argentino está, aliás, a conseguir o melhor arranque desde que entrou no futebol europeu, em 2007/2008, precisamente pela porta do Benfica, onde regressou esta época, com 35 anos.  Com 8 jogos oficiais disputados em 2023/2024 — falhou o encontro em casa do Portimonense, na 6.ª jornada da Liga, por causa de uma lesão —, Di María foi titular em todos, marcou 6 golos e tem uma assistência para golo. Nesta altura, o extremo argentino é o melhor marcador do plantel do Benfica (o segundo é o ponta de lança croata Petar Musa, com 4 golos).
Numa primeira sequência de 8 jogos oficiais, Di María nunca marcou tantos golos como este ano no Benfica. Próximo só os 5 que festejou com a camisola do PSG em 2018/2019 e 2019/2020. Mas com a diferença de que agora tem 35 anos. Di María, que tem 658 minutos de competição, tem uma média próxima de um golo por jogo: 0,75. Di María, com ou sem Neres no onze, tem sido a estrela maior deste Benfica.

Primeiros 8 jogos oficiais da carreira de Di María na Europa

ÉPOCACLUBEGOLOSASSISTÊNCIASJOGOS/GOLOS/ASSIST. NO FINAL DA ÉPOCA
2023/24Benfica61?/?/?
2022/23Juventus1440/8/7
2021/22PSG2331/5/8
2020/21PSG3243/5/15
2019/20PSG5241/13/22
2018/19PSG5345/19/16
2017/18PSG1145/21/12
2016/17PSG0243/14/14
2015/16PSG3347/15/25
2014/15Man. United3432/4/11
2013/14Real Madrid0352/11/23
2012/13Real Madrid1452/8/12
2011/12Real Madrid1132/7/16
2010/11Real Madrid3153/9/15
2009/10Benfica1144/10/17
2008/09Benfica1035/4/3
2007/08Benfica0145/1/6

António Simões, magriço, lenda do futebol do Benfica e de Portugal, olhou para o clássico.

António Simões (D. R.)

O antigo extremo-esquerdo  campeão europeu pelo Benfica (em 1961/62), agora com 79 anos, continua a olhar para o jogo de forma apaixonada, mas também analítica. Viveu com entusiasmo a vitória do seu Benfica na sexta-feira passada, mas na exibição também percebe pecados. Comenta Neres e Di María juntos, em conversa desempoeirada com a A BOLA.

A história gloriosa deste clube sempre teve em campo um 9, um 7 e um 11! Acabem lá com isso, porque o que existem são as dinâmicas da equipa

«O Benfica venceu, ganhou três pontos. Esse é o factor mais importante. Foi uma vitória importante e desmistificou a história de que o Benfica vinha à Luz vencer há cinco jogos seguidos, essa coisa; ótimo. Mas, depois, outro dado: não gosto de ver jogos de 10 contra 11. Tira a beleza do jogo, a partir dessa altura parece que começa um jogo diferente», começa por sublinhar o magriço, para depois passar a analisar: O Benfica ganhou, foi dominador, mas é importante notar que mesmo com 10 o Porto ameaçou de vez em quando e isso não devia ter acontecido. Parece-me que o Benfica não resistiu à tentação de querer dominar o jogo em vez de o controlar, que são coisas completamente diferentes.»

Sobre o facto de Di María e Neres terem jogado juntos no onze titular, António Simões aplaude a opção, reconhecendo, ao mesmo tempo, «a enorme importância» que Di María tem tido para este Benfica. «Tanto se comentou que este treinador era pouco ambicioso, conservador nas opções, que agora verifico que passou do 8 ao 80. Entrou como se calhar era suposto passar a jogar quando passou  a ser 11 contra 10. Meteu Neres e Di María de início, coisa com a qual estou absolutamente de acordo. Sempre estive. Gostava de que me explicassem qual é o problema! A história gloriosa deste clube sempre teve em campo um 9, um 7 e um 11! Acabem lá com isso porque o que existem são as dinâmicas da equipa. O que interessa é que hoje os jogadores têm de estar preparados para desempenharem várias tarefas em função dessas dinâmicas da equipa, sendo ou não jogadores de ataque ou mais de defesa. No meu tempo, no Benfica de então, do meio-campo para a frente, pelas características, parecia que era só jogadores para o ataque, mas depois éramos cultos o suficiente para não sermos apanhados desprevenidos em situações de ataques do adversário. Estas dinâmicas continuam a existir hoje e são ainda mais determinantes. Acababem lá com isso de os bons jogadores não poderem jogar ao mesmo tempo», apelou António Simões, feliz com o que Neres e Di María oferecem.