Flavienses continuam abaixo da linha de água, mas parecem ter estancado a série de derrotas com dois empates consecutivos, o último dos quais no (sempre difícil) terreno do SC Braga; leões de Faro com resultados irregulares, mas, ainda assim, com bastante tranquilidade na tabela classificativa
Ora aí está um jogo que os mais antigos convencionaram designar como sendo de... tripla. Não é que os mais novos não possam dizer o mesmo, naturalmente, mas a expressão tem algumas décadas e era utilizada quando os apostadores estavam indecisos no resultado que haveriam de colocar no tradicional Totobola.
Falamos do duelo entre o Chaves e o Farense, referente à 20.ª jornada da Liga e que está agendado para as 15.30 horas de hoje, no Estádio Engenheiro Manuel Branco Teixeira, em Trás-os-Montes.
Olhando para a tabela classificativa, talvez o risco fosse menor ao colocar-se uma cruz no símbolo 2. Afinal, o Farense está a meio da tabela, com 24 pontos, em contraste com o Chaves, que está no 17.º e penúltimo lugar, com apenas 13. E até a dupla (X2) poderia ser uma boa hipótese. Mas a leitura pode (e se calhar deve mesmo...) ser ainda mais segura.
Ousamos dizer que a tal tripla (1X2) é uma decisão mais sensata. Partindo do princípio matemático que, com esta escolha, o apostador acertará, com toda a certeza, no resultado, são, depois, os factos que fazem aumentar a indecisão quanto ao (possível) vencedor do encontro desta tarde.
Não está a ser uma época particularmente feliz para os flavienses. O início de Campeonato foi bastante negativo - cinco derrotas nas primeiras cinco jornadas - e esse arranque (que custou o lugar a José Gomes, recentemente apresentado como treinador do Zamalek, do Egipto) começou logo a complicar as contas de um clube que tem como principal objetivo a permanência na Liga.
A entrada de Moreno Teixeira para o cargo teve efeitos imediatos ao nível dos resultados e nos três jogos seguintes a equipa conquistou sete pontos em nove possíveis: empate com o Estrela da Amadora (2-2) e vitórias diante de Arouca (2-0) e Gil Vicente (4-2). Foi, ainda assim, sol de pouca dura...
Seguiram-se três derrotas consecutivas, com Vitória de Guimarães (0-5), Benfica (0-2) e Portimonense (1-2), sendo que o triunfo na ronda seguinte, frente ao Vizela (2-1) chegou a dar a ideia de nova retoma. Puro engano. Porque daí para cá... não mais o Chaves ganhou.
Depois desse triunfo com os minhotos, conseguido à 12.ª jornada, já há mais de dois meses (1 de dezembro de 2023), os transmontanos foram pouco valentes e entraram na pior fase da época até ao momento: quatro derrotas - Estoril (0-4), Casa Pia (1-3), FC Porto (0-1) e Sporting (0-3) - e três empates - Famalicão (2-2), Rio Ave (0-0) e SC Braga (1-1).
Mas o que faz, então, acreditar que o Chaves pode mesmo vencer o Farense e dar força à tal tripla no Totobola? Os últimos dois jogos, caro leitor. Porque além de terem quebrado o ciclo de derrotas, os comandados de Moreno realizaram exibições extremamente positivas diante de Vizela (onde só a falta de eficácia na finalização impediu o triunfo) e SC Braga (jogo em que até estiveram na frente do marcador, tendo, inclusivamente, oportunidades para ampliar a vantagem). E é também por isso que balneário, equipa técnica, estrutura e adeptos têm legítimas aspirações em pensar numa vitória diante do Farense, esta tarde.
Pese embora o fraco pecúlio do Chaves até ao momento, a verdade é que o ponta de lança espanhol tem registos bastante positivos: 21 jogos, nove golos e uma assistência. Héctor Hernández já superou a marca da época passada (sete tentos apontados) e tem sido o autêntico abono de família dos flavienses. É, também, o quarto melhor marcador do Campeonato (a par de Paulinho) - estando apenas atrás de Rafa Mújica (11), do Arouca, de Simon Banza (14), do SC Braga, e de Viktor Gyokeres (15), do Sporting -, mas além dos golos que marca tem ainda um forte contributo no jogo coletivo. Nos apoios frontais e/ou laterais e na exploração da profundidade, pela forma perspicaz como sai da marcação contrária e oferece linhas de passe nas costas do último reduto adversário. E é (muito) pelo espanhol que pode passar o sucesso dos transmontanos.
Treinador dos flavienses destaca a subida de rendimento da equipa nos últimos dois jogos, mas quer ainda mais; os elogios aos algarvios e a lição estudada para anular os pontos fortes do adversário; sem lamentações devido às baixas e satisfeito pelo grupo que ficou após o fecho do mercado
O Farense chega a Trás-os-Montes com o conforto pontual resultante da meritória campanha que está a realizar. Sendo que, é bom não esquecer, os algarvios regressaram esta época à elite nacional, dado que eleva ainda mais o que tem sido feito pelo conjunto orientado por José Mota em 2023/2024.
A caminhada dos leões de Faro tem sido, até, marcada por alguma irregularidade. Porque se não há uma série grande de resultados positivos, a verdade é que também não há uma fase marcadamente negativa. Ou seja, nem há uma sequência elevada de vitórias, nem um prolongamento preocupante de derrotas .
Porque o Farense já esteve quatro jogos consecutivos sem perder - empate com o Vizela (0-0) e vitórias diante de Rio Ave (4-3), Arouca (2-0) e Boavista (3-1), entre as jornadas 8 e 11 -, mas também já esteve quatro jogos consecutivos sem ganhar - derrotas com Vitória de Guimarães (1-2) e Estoril (0-4) e empates frente a Benfica (1-1) e Estrela da Amadora (0-0), entre as jornadas 12 e 15.
Depois disso, refira-se, houve como que um jogo do gato e do rato: vitória sobre o Gil Vicente (1-0), derrota com o Portimonense (0-1), vitória diante do Casa Pia (3-1) e derrota frente ao FC Porto (1-3).
Perante este percurso, aumenta a sensatez de colocar a tal tripla no Totobola...
Vem de dois jogos consecutivos a faturar - na vitória no terreno do Casa Pia (3-1) e na derrota caseira diante do FC Porto (1-3) - e já é o melhor marcador dos algarvios na presente temporada, com sete remates certeiros (em todas as competições) - ultrapassou, entretanto, Mattheus Oliveira, que tem seis tentos apontados. Além do acerto na hora da finalização, o ponta de lança brasileiro tem também muita apetência para os duelos individuais, especificidade em que utiliza muitas vezes a sua compleição física para ganhar vantagem sobre os adversários. Além disso, quando a equipa está mais recuada no terreno e tem como estratégia as transições rápidas para o ataque, o número 9 sabe posicionar-se de forma correta para dar linhas de passe aos companheiros e fazer, também ele, assistências para golo. É uma das armas mais letais à disposição de José Mota.
Treinador do Farense antevê dificuldades acrescidas para a sua equipa, se os seus jogadores não respeitarem o adversário.
As cartas estão lançadas. Apesar das tendências (o que, no futebol, vale o que vale...), o melhor mesmo é jogar pelo seguro: 1 X 2. Moreno Teixeira e José Mota terão, naturalmente, desejos diferentes, o empate, e por razões óbvias, servirá (muito mais) os interesses do Farense do que do Chaves. Será o conforto algarvio capaz de travar a (ameaça de) escalada transmontana?