Boavista-Benfica: a crónica

Liga Boavista-Benfica: a crónica

NACIONAL15.08.202302:00

Entre erros e má sorte um xeque-mate cruel
 

Boavista deu-se ao jogo sem limites e viu sorrir-lhe uma vitória feliz. Na segunda parte, tudo o que podia correr mal ao Benfica, correu ainda pior. Schmidt precipitou-se após 1-1
 

Até ao lance, estavam jogados 50 minutos, em que Petar Musa se desequilibrou na bola, atingindo perigosa e violentamente Abascal, o Benfica seguia na frente, estava dono e senhor das operações, e depois de uma dezena de minutos iniciais titubeantes, ia assinando uma exibição sólida e personalizada. Esse momento, depois do internacional croata ter visto o inevitável cartão vermelho, foi para o Benfica como o bater de asas da borboleta na teoria do caos. A ganhar por 1-0 e em desvantagem numérica, Roger Schmidt fez contas de cabeça e não teve dúvidas em sacrificar Di María, o jogador de menor compromisso defensivo, para fazer entrar Morato e adotar uma defesa a três (ou a cinco) que lhe garantisse solidez na retaguarda e a possibilidade de, especialmente com Rafa, chegar com perigo às costas da defesa do Boavista. Porém, nem houve tempo para se perceber qual a eficácia da decisão do técnico alemão, porque na jogada de reatamento o Boavista, apesar do povoamento intenso da defesa benfiquista, chegou à igualdade, no aproveitamento, pelo eslovaco  Robert Bozeník, de uma bola solta na grande área encarnada.

Ou seja, como um mal nunca vem só, o Benfica não só ficou a jogar com dez, como deixou fugir a vantagem, como ainda teve de funcionar com um sistema em tese mais defensivo. No futebol não há ses, mas será que Roger Schmidt não se precipitou, quando podia ter mantido a equipa em 4x4x1? Provavelmente sim, mas a verdade é que os encarnados, perante um Boavista que dava sinais de estar satisfeito com a igualdade, nunca se encolheram, não desanimaram depois de Rafa ter atirado à barra (70) e viram o mesmo jogador, que já tinha sido precioso na assistência para Di María no primeiro golo, voltar a colocar o Benfica na frente (à terceira, após duas defesas de João Gonçalves), à passagem do minuto 75.


A guerra dos bancos
Foi então que os bancos entraram em jogo, para 15 minutos de tempo regular, acrescidos de 17 de compensação, que dariam a Petit, antiga glória benfiquista, a primeira vitória como treinador sobre o clube da Luz.


Sem muitos argumentos, usando prata da casa, os axadrezados juntaram De Santis a Bozeník, colocaram Seba Pérez e Vukotic como âncoras do meio-campo e trataram de, com um futebol prático e musculado, ir à procura da igualdade.


Mas do outro lado, vendo que o Boavista estava a crescer, Schmidt refrescou a equipa com Neres, Chiquinho e Florentino, o que parecia adequado às circunstâncias. Porém, o diabo esteve sempre atrás da porta do técnico alemão e se, imediatamente depois  da entrada de Morato sofreu o 1-1, três minutos após esta tripla alteração António Silva cometeu grande penalidade (na sequência de uma saída pouco convicta de Vlachodimos) e o Boavista chegou ao 2-2. Há dias em que não se pode sair de casa.


Mais uma vez, apesar de estar com 11 contra dez, Petit baixou linhas e prontificou-se a garantir o ponto que tinha no bornal. E mais uma vez foi feliz, aliás duplamente feliz, primeiro quando aos 90+9 David Neres acertou com uma bomba - se entrasse seria candidato ao Prémio Puskas - no travessão, e depois, aos 90+14, quando as equipas já estavam dez para dez, após a expulsão de Bruno Lourenço, ao ver Bozeník isolar-se, aproveitando o desespero atacante dos encarnados (um pouco à imagem de Chaves, na temporada passada), e atirar a contar para o fundo das redes à guarda do desamparado Vlachodimos.


Os minutos finais - o árbitro António Nobre prolongou a partida, justificadamente, até aos 90+17- foram de grande intensidade emocional, com o Benfica, que se vira rei e senhor do jogo, em busca desesperada de um golo que lhe salvasse pelo menos um ponto. Mas não era dia disso, e na derradeira chance a bola bateu em António Silva e não quis tomar o sentido da baliza axadrezada.


Estava consumada a primeira grande surpresa da época, numa noite em que a Petit (que até foi vaiado quando tirou Salvador Agra) tudo correu bem, e a Schmidt tudo correu mal. Devia ter tirado Di María tão cedo no jogo? Podia ter chamado, na altura em que ficou em desvantagem, Florentino ao jogo, para travar a meio-campo o que quis travar na defesa? A única coisa certa é que  daquela mudança (Di María/Morato) não resultou nada de bom para o Benfica. Agora, aos encarnados, de nada valerá chorar sobre o leite derramado. E perante a expulsão de Musa, que estava a dar-se ao jogo  sem grande arte, e a intranquilidade de Vlachodimos no lance do 2-2, quem sabe se Arthur Cabral e Anatoliy Trubin não vão ter oportunidades mais cedo do que podia pensar-se?  
 

O árbitro - ANTÓNIO NOBRE (nota 8)
Grande trabalho. Um cartão amarelo bem mostrado aos 48 segundos (Reisinho), outros dois (Makouta e Pérez) antes dos 15 minutos, bem nas expulsões de Musa e Lourenço e certo no penálti. Alto nível!


Melhor em campo A BOLA - Bozenik (Boavista) 

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