Benfica: Kokçu e o Ramadão

Médio respeita as regras do mês mais sagrado do calendário muçulmano; pratica o jejum do nascer ao pôr do sol; «É uma coisa espiritual que nos dá mais força», disse o internacional turco, há um ano, quando ainda jogava no Feyenoord

Orkun Kokçu partilhou, nas redes sociais, imagem na qual está sentado num local de oração, sob o livro sagrado para qualquer muçulmano, o Corão, assinalou a chegada do Ramadão e pediu que Alá aceitasse os jejuns, orações e boas ações que praticará no mês mais sagrado do calendário islâmico. O médio neerlandês e internacional turco, de 23 anos, vai respeitar, como já fazia nos Países Baixos, as regras de jejum, cujo primeiro dia é hoje cumprido, até 9 de abril. O Benfica, nesse período, tem cinco jogos agendados.

«Em primeiro lugar, o Ramadão é o nono mês do calendário Islâmico. O calendário islâmico é um calendário lunar e, por isso, o Ramadão não é sempre nas mesmas datas. Este ano, o primeiro jejum é hoje, em 2025 será no início de março», começou por explicar o imã da mesquita central de Lisboa, sheik David Munir, a A BOLA, sublinhando que «tem uma importância mais espiritual do que física».

O jejum «é um dos mandamentos», assinala David Munir, «mas jejuar requer algumas condições», nomeadamente que o crente seja um adulto saudável. «Doentes, grávidas, idosos ou crianças estão eximidos de fazê-lo», esclarece.

A prática do islão «é individual» e David Munir partilha que «ninguém anda a perguntar quem está a fazer jejum». E acrescenta que alguns atletas profissionais, cuja atividade requer esforço físico, optam por não jejuar no dia do jogo.

Em relação, por exemplo, aos futebolistas, cuja atividade requer um esforço físico, e o jejum exige esforço físico, há várias opções.

«Em primeiro lugar, a prática do islão é individual, não andamos a perguntar se alguém está a fazer jejum, depende da prática das pessoas. Alguns, por exemplo, não jejuam no dia do jogo. E preferem fazer o jejum depois do fim do Ramadão», esclarece David Munir.

O Ramadão é uma coisa espiritual. Dá-nos mais força

«Mais força»

Kokçu respeita as regras, não come nem bebe da aurora ao pôr do sol. Há um ano, ainda jogava no Feyenoord, explicou porque jejuava. Numa reportagem da televisão neerlandesa NOS, o médio partilhou que se tratava de «uma coisa espiritual» que lhe dava «mais força». Reconheceu que, durante o dia, «por vezes tinha fome» e que o Ramadão o obrigava a «levantar mais cedo» para se alimentar antes do nascer do sol. Admitiu ainda que respeitar o Ramadão é duro. E que no final dos jogos não podia comer em demasiado. «Apenas uma tâmara e água, para a barriga não inchar», sublinhou.

10 março 2024, 22:41

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Ainda nessa reportagem, Kokçu contou que todos os anos oferece uma refeição à comunidade. Foi o que acontece, em março de 2023, então com a colaboração do Feyenoord. A ideia nasceu de conversas com os antigos companheiros Oussama Idrissi, avançado agora do Pachuca, e Mohamed Taabouni, médio agora do Al Arabi (Catar), ambos muçulmanos e com dupla nacionalidade, neerlandesa e marroquina.

«É muito comum isso acontecer, sim»,  conta David Munir, identificado com gestos generosos, semelhantes aos que conhece da mesquita central de Lisboa: «Diariamente, confecionamos duas mil refeições. Mas pode aparecer um benemérito que queira doar o jantar em seu nome ou dos familiares e pague a despesa. Por vezes até de dois ou três dias.»

Desempenho desportivo

Na época passada, no Feyenoord, Kokçu jogou oito jogos no mês do Ramadão, dois pela seleção Turquia e seis pelo clube. Foi sempre titular, completou quatro, um dos quais, contra a Roma, na segunda mão dos quartos de final da Liga Europa, com 120 minutos nas pernas.

O Ramadão, este ano, acaba a 20 de abril e o Benfica tem cinco jogos agendados até lá – Rangers (f), Casa Pia (f), Chaves (c) e Sporting duas vezes (casa e fora). E Kokçu será acompanhado, no Benfica, por uma equipa multidisciplinar, de preparadores físicos, médicos e nutricionistas, para lidar com as dificuldades que o jejum provoca.

Esta é, aliás, uma situação que os encarnados conhecem. Adel Taarabt e Harris Seferovic foram os últimos muçulmanos do plantel -  o médio marroquino respeitou o jejum, o avançado suíço adiou-o para as férias.