Benfica e Farense: uma volta inteira sobre brasas
O momento em que Roger Schmidt se virou para o público após os assobios, insultos e arremesso de objetos contra ele, no jogo na Luz frente ao Farense (Foto: Maciej Rogowski/IMAGO)

Benfica e Farense: uma volta inteira sobre brasas

NACIONAL21.04.202401:30

Primeira manifestação contra Schmidt ocorreu no jogo frente aos algarvios, na Luz, obrigando Rui Costa a defender publicamente o treinador; agora visita Faro com a espada em cima

Foi diante do Farense que ocorreu a primeira grande manifestação de desagrado contra Roger Schmidt e é novamente frente aos algarvios que a espada volta a estar em cima da cabeça do treinador do Benfica, depois do adeus à Liga Europa em Marselha, o único objetivo que ainda ligava a equipa à ficha e mantinha acesa a esperança da conquista de pelo menos um título nesta temporada a somar à Supertaça Cândido de Oliveira.

Foi a 8 de dezembro, em casa, que se assistiu a gestos ostensivos de fúria contra o técnico germânico por parte dos adeptos, sintoma de que o estado de graça há muito havia acabado. Quando a equipa perdia por 0-1, num jogo marcado pelas muitas oportunidades falhadas (no total, as águias fizeram 37 remates, 12 deles de Rafa), a Luz veio abaixo quando Schmidt mandou sair João Neves (ao mesmo tempo que Tengstedt, entrando Musa e Gonçalo Guedes). Além dos assobios estridentes, muitos adeptos arremessaram copos e garrafas em direção ao treinador.

Os encarnados ainda conseguiram empatar, por Rafa, mas não foi o suficiente para travar a polémica. No final do jogo, Roger Schmidt defendeu-se e contra-atacou. «Os adeptos mais negativos podem ficar em casa. É isso que lhes peço, porque isso não é bom para os jogadores. Se não estão satisfeitos, e se não ficaram satisfeitos hoje enquanto adeptos do Benfica, então o melhor é ficarem em casa», disse. «Se não conseguem apoiar a equipa quando eles investem tanto no jogo como fizeram hoje, então voltem quando formos campeões e podem ir festejar para o Marquês de Pombal, mas assim isto é autodestrutivo. Não é possível reagir assim quando os jogadores fazem tudo no campo.»

Nesse momento chegou mesmo a admitir a saída. «Se o problema sou eu, se o Benfica precisa de um treinador que faça as substituições que os adeptos querem, tudo bem, eu vou-me embora, venha outro substituir-me e talvez fiquem mais satisfeitos, vamos ver. Se o problema for eu, dou o lugar. Se não for suficientemente bom, então vou-me embora», afirmou.

Confiança de Rui Costa

O caso obrigou Rui Costa a reagir no dia seguinte. «Não posso deixar de lamentar o que aconteceu, creio que em 120 anos nunca se tenha visto situação como a de ontem, não é este o respeito que o nosso treinador merece, um treinador que tendo chegado no ano passado ganhou tanto em meses como o Benfica nos últimos 4 anos, portanto, considero que foi ação completamente despropositada», disse, em declarações prestadas aos jornalistas, no Benfica Campus, no Seixal. «É com ele que vamos continuar. Vamos conquistar mais títulos. As experiências de quebrar ciclos a meio do ano não resultaram. Vimos de campeonato e Supertaça ganhas. Estamos nas competições internas e podemos continuar numa prova europeia. Essa instabilidade de quebrar a meio de uma época nunca resultou. Falo quase todos os dias com Roger Schmidt e ele sabe a confiança que tenho nele», reforçou.

Uma volta depois a jogar sobre brasas, a temperatura está agora ainda mais escaldante, com a agravante de já praticamente estar tudo perdido.

O gesto e o golo

Foi no final do jogo com o Farense que Arthur Cabral reagiu com um gesto obsceno, na garagem do Estádio da Luz, a adeptos que o criticavam. O brasileiro fez um vídeo no dia seguinte, publicado no Instagram, no qual pediu desculpa, justificando que reagira a quente aos insultos. ««Após a partida de ontem, após mais um resultado negativo, saí do Estádio de cabeça muito quente, realmente de infelicidade, e, infelizmente, após ser insultado ao lado da minha família, eu não me consegui controlar, tive uma atitude que não é nem um pouco certa, muito longe disso. Peço desculpa, sei que errei, estou realmente muito arrependido e garanto que nada parecido com isso voltará a acontecer. O que posso dizer é que continuarei trabalhando ao lado dos meus companheiros para colocar o Benfica no lugar dele e alcançar todos os nossos objetivos, que com certeza é ser campeão no final da época», afirmou.

No jogo seguinte, em Salzburgo, o avançado entrou aos 90+1’ e aos 90+2’ apontou, de calcanhar, o golo que impediu a saída dos encarnados das provas europeias, qualificando o clube para a Liga Europa.