A BOLA FORA «No primeiro dia no FC Porto tive de pedir botas emprestadas, as minhas eram vermelhas»

A BOLA TV07.10.202414:57

Daniel Candeias foi formado no FC Porto, estreou-se pela equipa principal e anos mais tarde assinou pelo clube da Luz. Ainda assim, em Portugal, fez sobretudo carreira no Nacional e depois passou por vários países da Europa. Joga agora na Oliveirense.

Ao fim de 15 anos, regressas a Portugal. Foi uma decisão pensada, até familiar, ou aconteceu?
No início estávamos a pensar mais na próxima época, mas as coisas aconteceram muito rápido e quando chegámos aqui a Portugal, estando de férias, fomos conversando e achámos que era a altura certa. Foi essa a nossa decisão e também a pensar mais nos filhos e estamos felizes por ter regressado.

 Eles já te pediam este regresso?
Iam pedindo aos poucos, queriam uma escola em que se falasse português, queriam ter mais amiguinhos que falassem português e isso também começou a mexer um bocado comigo. Não era justo da minha parte eles estarem todos estes anos a acompanhar-me e poderem vir a sofrer no futuro. Quando isso começou a ser falado em casa, achámos que para o bem deles e depois para nós, para no futuro não sofrerem, eles regressarem a Portugal e nós também.

O teu filho está no segundo ano agora. Como é que era a vida escolar na Turquia?
Na Turquia, ele estava numa escola turca, fala fluente turco, tinham algumas horas em inglês mas 90% era em turco ao qual ele se adaptou muito bem porque passou a maior parte da sua vida lá. Pensava que ia ser mais difícil, mas tem sido pacífico porque ele também é um miúdo interessado, gosta de aprender coisas e está a adorar. A escola tem-no ajudado, faz com facilidade amigos o que ajuda na adaptação e ele está feliz.

E agora como é que vai ser para não esquecer o turco?
Temos algum contacto com algumas mães dos miúdos que mandam mensagens a dizer que têm saudades do Afonso e vamos tendo esse contacto para ele também não perder. A Maria também fala, por isso de vez em quando eles comunicam em turco e não queremos que eles percam porque pode ajudar para qualquer coisa no futuro deles.

 E foste bem recebido neste teu novo clube?
A adaptação foi fácil porque tendo o André [Santos] já tínhamos conversado várias vezes e ele também começou a meter-me aquele bichinho de voltar a jogar com ele. Íamos falando várias vezes e fui bem recebido pelo grupo, um grupo jovem que também precisa de experiência. Tanto eu como o André Santos, e o Zé Manel também está incluído, encontrei um grupo que recebe bem. Também sou uma pessoa fácil de lidar por isso não tive grandes problemas.

Depois de tantos anos a viver no estrangeiro é necessário adaptação ao teu próprio país?
Senti isso no início quando estava a ir para os treinos. Pensava que ainda não era real, não tinha caído bem em mim porque aquilo que eu vivia era vir aqui um mês e voltar. Eu falava isso com a Liliana [companheira], parece que estou a adaptar-me ao meu país quando não devia ser assim. Mas depois de tantos anos fora é o que acontece. Em termos de futebol tenho-me adaptado bastante rápido, no dia a dia também vamo-nos adaptando.

 E o que é que é genuinamente português que te irrita? Aquela coisa que tu agora dizes já nem me lembrava que era assim.
Ter os amigos mais perto. Não é de irritar mas é estranho teres tanta gente com quem fazer alguma coisa. Só vivíamos os quatro e às vezes parece que temos uma vida mais agitada. A nossa vida era treino ou escola dos miúdos e ir para casa. Não tínhamos assim muito em Alânia mais porque tínhamos mais portugueses e convivíamos muito mais tempo mas isso ainda está a fazer um pouco de confusão mas não é coisa que irrita, claro

 A tua história no futebol começa de forma mais séria no futebol com FC Porto. Chegar à equipa principal foi cumprir o sonho de miúdo?
Sim, quando vim para o Porto com 13 anos tinha esse objetivo e esse sonho como todos os jovens que vão para os grandes clubes. Cumprir esse sonho foi olhar para trás e dizer que valeu a pena tudo aquilo que fizemos e que deixamos de fazer para cumprirmos esse sonho e fico extremamente feliz.

Fala-se muito na mentalidade à Porto, é uma coisa incutida logo na formação? Pergunto porque sei de histórias engraçadas de como não podiam usar chuteiras vermelhas.
Agora não sei se é assim, mas era. Lembro-me de chegar na pré-época no primeiro dia ao Porto. Usava chuteiras Nike e as últimas que tinha eram vermelhas. Cheguei no primeiro dia e não pude andar com essas botas, tive de pedir umas emprestadas, porque não podia treinar com aquelas botas vermelhas. Foi logo um erro no primeiro dia e essas botas ficaram encostadas

Depois chegas à equipa principal com um balneário com nomes de peso como o Bruno Alves, Lucho Gonzalez. Como por parte dessas lendas?
Fui bem recebido também porque o Ventura que era o nosso guarda-redes nas camadas jovens todas estava no plantel. O Bruno Gama também ia fazer a pré-época nessa altura, então cheguei mais a eles porque eram os que eu mais conhecia. Mas lembro-me que fui bem recebido por todos, pelo Bruno, pelo Hulk. Até vivia relativamente perto do Hulk e fazíamos às vezes a viagem juntos para o treino. Não logo no início, mas mais à frente. O Fernando depois foi para o Manchester City. Tínhamos um grupo também jovem mas com jogadores experientes mas que sabiam receber: o Meireles, o González e isso foi importante para mim.