A BOLA FORA «O Rangers foi o melhor que me sucedeu, só a sensação de marcar ao Celtic…»

Daniel Candeias foi formado no FC Porto, estreou-se pela equipa principal e anos mais tarde assinou pelo clube da Luz. Ainda assim, em Portugal, fez sobretudo carreira no Nacional e depois passou por vários países da Europa. (PARTE 3)

Como é que foi a tua experiência depois no Rangers?
Acho que isso foi a melhor coisa que aconteceu na minha carreira. Estava no Alaniaspor e quando o mister Pedro Caixinha assina pelo Rangers, passado um mês ele entra em contato a dizer que queria contar comigo, porque achou que era bom para o futebol escocês que é idêntico ao inglês pelas minhas características. Dei-lhe a minha palavra e disse que sim, que queria ir até porque nessa altura queriam comprar-me ao Benfica. Já tinha trabalhado com Pedro Caixinha no Nacional e ele sempre me tentou levar tanto para o México como para o Qatar, só que as coisas não aconteceram. Dando a minha palavra, já não queria ouvir mais nada, queria ir para o Rangers e o Rangers para mim foram dois anos e meio fantásticos. Adorei e ainda hoje recebo mensagens de adeptos do Rangers porque acho que fiz um bom trabalho apesar de não termos sido nenhuma vez campeões. Fui adorado lá e isso marcou-me muito.

 E os dérbis com o Celtic?
Eram quentinhos é um dos melhores jogos que já joguei na minha carreira, tive a felicidade de marcar num deles, mas não ganhei. Mas só a sensação de marcar num jogo desses foi incrível e guardo grandes memórias desses jogos.

Voltas a encontrar ali portugueses, encontravam-se fora daquele contexto?
Encontrei o Fábio Cardoso, o Dálcio depois entretanto o Bruno Alves também chegou, o que foi uma ajuda muito grande para nós. Tínhamos também um colombiano e dois mexicanos que pela forma de comunicar era muito mais fácil e juntávamos mais os três portugueses, estávamos muitas vezes mais juntos, combinávamos jantares com a família para comemorar aniversários ou as mulheres iam juntas para a vida delas. Acabou por ser bom na adaptação até porque o meu inglês nessa altura não era o melhor mas foi uma grande ajuda.

Depois vem a Turquia. Fixaste ali, foi o país onde te sentiste mais em casa?
Tinha mais um ano de contrato com o Rangers nessa altura e o Gerrard (treinador) falou comigo. Entendi que não ia ter muito espaço nesse ano porque tinha jogado 52 jogos o ano anterior e então chegámos a um acordo e eu voltei à Turquia porque era um país que eu me tinha sentido bem. Sempre disse que, se um dia saísse do Rangers, a minha prioridade era voltar à Turquia e aconteceu. Foi onde estabilizei, adoro a Turquia, senti-me muito bem lá.

E onde é que gostaste mais de viver?
Na praia. Em Alânia a qualidade de vida é diferente, tens a praia, o clima ajuda muito e depois tive a sorte de ter sempre um grupo de portugueses grande. As famílias passavam muito mais tempo juntas, tinham mais coisas para fazer do que estando sozinho. Em Ancara éramos só nós.

Ancara é uma cidade grande, não é?
É a capital, é uma cidade enorme.

 O facto de estares ali próximo da Síria, nunca sentiste assim algum desconforto?
Nunca. Na Turquia nunca senti insegurança, pelo contrário. No início, quando fui para a Turquia, as pessoas falavam “ah, vais para a Turquia”. E eu agora sempre digo que quem tiver de conhecer, que conheça a Turquia, porque é um país riquíssimo em cultura, tem sítios fantásticos e eu adorei e vou voltar sempre que puder, de férias, vou querer voltar lá.

E cozinha, vocês cozinham alguma coisa turca?
Não. Quando queríamos comer comida mais turca íamos fora, mas em casa era quase tudo só português. Durante a época não alterava muito a minha alimentação, sempre foi assim, tanto para nós como para as crianças, então quando era uma coisa diferente era sempre fora de casa.

Os turcos têm salários em atraso por dificuldade ou estratégia?

Já ouvi várias histórias de clubes turcos que não são muito cumpridores com salários. Tiveste algum problema desse género?
Sim, tive dois problemas, no Gençlerbirligi e no Alaniaspor. No ‘Gençler’ cheguei a pôr a carta de rescisão em janeiro, porque no último ano podia ter ido em janeiro para o Alaniaspor, mas depois, entretanto, as coisas compuseram-se. Fiquei, mas depois daí não recebi mais nenhum mês, estive cinco meses sem receber, mas entretanto recebi tudo.

Mas tiveste de recorrer a uma entidade, a FIFA talvez?
Tive de recorrer à FIFA para tentar receber esse dinheiro. Demorou, mas consegui. No Alaniaspor, no último ano, também tive esse problema e tive de recorrer outra vez à FIFA, mas era uma coisa que eu levava tranquilo, porque eu digo sempre, lá como temos os bónus e tu tens o teu salário escrito no contrato...

 Os bónus é o quê? O prémio de jogo?
É o prémio de jogo, por vitória. Então, deixava andar, porque íamos ganhando uns prémios, dava para vivermos, mas nós sabemos que o salário está no contrato, por isso, de uma maneira ou outra, vamos receber. Só se o clube falir, aí não tens hipótese, mas graças a Deus, até hoje, recebi o dinheiro todo.

Mas, por exemplo, esses prémios de jogo, vocês recebiam logo a seguir ao jogo, e depois não havia dinheiro para os salários. Será má gestão ou é questão de mentalidade?
Pode ser um bocadinho das duas coisas, mas eu acho que é mais de como os estrangeiros recebem em euros, e a lira, como está muito alta, eles às vezes esperam algum tempo a ver se a lira recupera, porque para trocar de lira para euros, eles vão ficar a perder muito dinheiro. Acho que é isso que eles tentam fazer, mas acabam sempre por atrasar e atrasar, e as pessoas têm vidas para fazer, e coisas para cumprir também, e às vezes não é fácil. Quem não tiver um pé de meia que ajude, às vezes estar 5 meses, 6 meses sem receber, não é fácil. Os turcos têm um pouco mais de receio, porque o jogador turco não pode recorrer à FIFA, só pode recorrer à Federação Turca, e os clubes têm muito como controlar a Federação Turca, e a FIFA não tem.